Maternidade em Venda Nova de R$ 2,2 milhões está parada há 6 anos

Prefeitura de BH não esclarece o que falta para a obra ser concluída. Maternidade Leonina Leonor Ribeiro foi pensada para ser referência no atendimento humanizado ao parto com capacidade para até 350 partos por mês

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Valéria Mendes - Saúde Plena Publicação:27/08/2015 14:53Atualização:28/08/2015 09:37

Estava prevista para junho de 2009 a inauguração da Maternidade Leonina Leonor Ribeiro que funcionaria no segundo e terceiro andares da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Venda Nova para ser uma das referências em Belo Horizonte no atendimento humanizado ao parto. Seis anos depois da promessa e do gasto de R$ 2,2 milhões, a prefeitura tem pouco a dizer. Em nota afirmou que “a obra da maternidade ainda não foi finalizada e que a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) está adotando todas as medidas para sua completa adequação”. Por outro lado, a Sudecap declarou "que aguarda orientações da Secretaria Municipal de Saúde sobre as intervenções que deverão ser realizadas no local”.

Foi a advogada Gabriella Sallit que publicou na internet uma foto que mostra um dos quartos da Maternidade Leonina Leonor Ribeiro pronto para ser usado. A Assessoria de Comunicação da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), que não permitiu a entrada da reportagem nas instalações da maternidade, confirma que a imagem é de lá.

Sallit já tem reunião marcada na Câmara dos Vereadores na próxima segunda-feira (31/08) na tentativa de viabilizar a abertura da nova unidade de saúde. Estarão presentes o vereador Gilson Reis (PCdoB), os deputados estaduais Dr. Jean Freire (PT), Dr. Wilson Batista (PSB), Marília Campos (PT) e o deputado federal Adelmo Leão (PT).

Depois de tanta espera, o receio é que o prédio seja adaptado para outro fim. A nota da Assessoria de Comunicação diz também que a “SMSA e a Secretaria de Estado da Saúde (SES) estão em entendimento para definição da melhor utilização do espaço dessa obra com o objetivo de atender a real necessidade da população”.

Foto mostra parte de uma das suítes PPP da Maternidade Leonina Leonor Ribeiro (Divulgação )
Foto mostra parte de uma das suítes PPP da Maternidade Leonina Leonor Ribeiro


350 partos por mês
A estrutura da maternidade com 32 leitos e a capacidade para até 350 partos por mês preencheria uma lacuna na capital mineira por mais quartos no modelo PPP (pré-parto, parto e pós-parto). Esse tipo de suíte em que as três fases do parto se dão em um mesmo local favorece a assistência humanizada ao parto e tem potencial para diminuir a incidência de violência obstétrica que, no Brasil, é relatada por uma em cada quatro gestantes.

Clique na imagem para ampliá-la  (Reprodução Internet - http://portalpbh.pbh.gov.br)
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Atualmente, o sistema público de BH oferece apenas 15 suítes no modelo PPP: uma na Maternidade Odete Valadares, outra no Hospital das Clínicas, três no Risoleta Neves e dez no Hospital Sofia Feldman. Dessas, apenas cinco têm banheira.

Dos 32 leitos previstos na Maternidade Leonina Leonor Ribeiro, seis seriam PPP e todos teriam banheira. Ou seja, mais que dobraria a atual estrutura do sistema público de saúde focada nas boas práticas de assistência ao parto normal preconizadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A imersão em água morna é uma das alternativas não farmacológica de alívio da dor. A estrutura ainda contaria com dez leitos de cuidados progressivos para os bebês.

Para Gabriella Sallit, não abrir a Maternidade Leonina Leonor Ribeiro, além de um prejuízo financeiro, é um retrocesso. “Belo Horizonte tem se firmado no cenário brasileiro como pólo de humanização do parto. A cidade é exemplo em diversas esferas graças, principalmente, a existência do Hospital Sofia Feldman e do projeto 'BH Pelo Parto Normal'. A inauguração da maternidade duplicaria as suítes PPP com banheira em Belo Horizonte pelo SUS”, reforça.

Enfermeira obstétrica e professora da Escola de Enfermagem da PUC Minas, Miriam Rêgo participou da elaboração do projeto da maternidade de Venda Nova já que à época era contratada da Secretaria Municipal de Saúde.  Segundo ela, o projeto surgiu em função da demanda da população da regional depois que a Mater Clínica Venda Nova foi descredenciada pelo SUS.

Ela diz que a maternidade em Venda Nova foi toda idealizada dentro do modelo humanizado de assistência ao parto que pressupõe o protagonismo da mulher, o direito à privacidade, o direito ao acompanhante, a não separação de mãe e bebê. Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais mostra que 45% dos partos realizados na capital mineira, entre novembro de 2011 a março de 2013, foram cesarianas. A recomendação da OMS é de, no máximo, 15% para a cirurgia. “Em geral, as maternidades em BH, públicas e privadas, não têm estrutura adequada para esse tipo de assistência ao parto. Já a Maternidade Leonina Leonor Ribeiro foi construída com esse propósito e ela ser inaugurada seria um avanço para a cidade”, afirma.

A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Estado de Saúde (SES) que, até o momento, não se posicionou sobre a afirmação da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) de que juntas estariam definindo a melhor utilização do espaço.

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