Antirretrovirais podem deixar de ser de ingestão diária

Participantes de um estudo passaram a tomar os medicamentos quatro vezes por semana e tiveram resultados promissores

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Correio Braziliense Publicação:21/07/2016 14:53Atualização:21/07/2016 15:20
Reduzir a quantidade de comprimidos pode, segundo especialistas, aumentar a adesão do tratamento  (AFP)
Reduzir a quantidade de comprimidos pode, segundo especialistas, aumentar a adesão do tratamento
Uma equipe da Agência Nacional Francesa de Pesquisa em HIV, Aids e Hepatites Virais (ANRS) apresentou esta semana, na 21ª Conferência Internacional sobre a Aids, em Durban, na África do Sul, resultados de um estudo propondo que a ingestão de antirretrovirais deixe de ser diária. A pesquisa, testada em 100 voluntários, apresentou resultados promissores. Os participantes passaram a ingerir os medicamentos quatro vezes por semana durante 48 semanas e foram acompanhados por uma equipe liderada por Christian Perronne, do Hôpital Raymond Poincaré, na França, e integrante da ANRS. A intenção era saber se, com esse tipo de abordagem, seria possível manter a carga viral plasmática abaixo de 50 cópias/mL, considerada indetectável.

Os voluntários tinham sido tratados com uma combinação tripla de antirretrovirais durante uma média de cinco anos e apresentaram a carga viral abaixo do limite indicado por quatro anos.

Após as 48 semanas, 96% deles seguiam o regime de quatro dias de ingestão do remédio e mantinham a carga viral indetectável. Apenas três pacientes voltaram a ter a carga do vírus além do número recomendado. Nesles, a taxa caiu para abaixo do limite quando retomaram o tratamento padrão, com doses diárias do medicamento, sem o surgimento de resistência. Um participante abandonou o estudo.

“Esses resultados nos encorajam a prosseguir com o nosso objetivo de melhorar a qualidade de vida no tratamento da Aids e atender a forte demanda de alguns pacientes para uma carga de drogas mais baixa”, disse Jean-François Delfraissy, diretor da ANRS. O especialista ressaltou a importância de um experimento randomizado – em que os participantes são escolhidos de forma aleatória – para se chegar à conclusão de que a abordagem pode ser prescrita aos soropositivos. “Somente esse tipo de estudo será capaz de aprovar essa estratégia”, justificou.

O Brasil, por sua vez, anunciou, durante o evento, que ocorre na África do Sul, que estuda a incorporação da profilaxia pré-exposição (PrEP). A estratégia consiste no uso preventivo de antirretrovirais antes da exposição ao vírus. Hoje, já há uma política em curso para o tratamento pós-exposição de risco. O Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), Aids e Hepatites Virais do Minsitério da Saúde prepara um protocolo clínico a ser encaminhado à Comissão de Incorporação de Tecnologia no Sistema Único de Saúde (Conitec/SUS) até o fim do ano. A expectativa inicial é atender até 10 mil usuários no primeiro ano. Atualmente, a pasta financia dois estudos de PrEP: um conduzido pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e outro pela Fiocruz, que usam, como princípios ativos, a combinação tenofovir e emtricitabitina. A PrEP deverá ser ofertada em serviços especializados do SUS.

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