Na avaliação do secretário-geral da organização não governamental (ONG) Contas Abertas, Gil Castello Branco, o Congresso fiscaliza pouco o Executivo. “O aspecto que impede que a fiscalização aconteça não é de natureza operacional, mas política. No Congresso, prevalecem as posições políticas: se sou governo, concordo com tudo que é feito; se sou oposição, discordo de tudo do Executivo.”
Castello Branco afirma que é necessária uma mudança cultural, que não ocorrerá do dia para a noite. “É um processo longo e temos de entender que esses valores [republicanos] devem estar acima das questões do momento.” Na avaliação dele, o Congresso é subserviente ao Executivo e tem seu papel fiscalizador relegado a segundo plano. Essa situação, de acordo com ele, não é somente desse governo, mas de outras gestões do Executivo federal.
Uma das soluções, segundo Castello Branco, seria garantir a oposição na relatoria ou presidência das comissões de fiscalização. Isso daria, de acordo com ele, maior equilíbrio aos instrumentos fiscalizatórios. “A chance de isso acontecer, no meu modo de ver, é muito pequena, porque os problemas existem há vários anos.”
Outra opção seria um maior acompanhamento da atuação legislativa pela sociedade. “A sociedade civil, sobretudo a organizada, deveria mostrar que está insatisfeita com o rumo dos fatos num Fla-Flu político partidário. Trata-se a questão não pela ótica que deveria ser enfrentada, mas na defesa de interesses da base governista ou dos partidos de oposição.”
Mudança no RegimentoA Comissão de Legislação Participativa criou em março uma subcomissão para propor uma revisão do Regimento Interno da Câmara. O presidente da comissão e relator da subcomissão, deputado Anthony Garotinho (PR-RJ), pretende fazer algumas alterações para garantir maior poder de fiscalização. “Queremos aperfeiçoar o funcionamento da Comissão de Fiscalização Financeira, dando mais autonomia, e acabar com o limite de CPIs em funcionamento”, disse.
A Câmara permite o funcionamento de até cinco comissões simultâneas. Para uma sexta CPI ser instalada, é necessária uma resolução apresentada por, pelo menos, 171 deputados. Na prática, porém, o número não supera cinco.
Outra mudança sugerida por Garotinho é a eliminação da possibilidade de convidar autoridades. Todas as pessoas viriam à Câmara como convocados. “Nos convites, eles não são obrigados a falar nada. Queremos acabar com essa história de convite. Quem é convocado não pode se negar a dar informação”, disse o deputado. Garotinho apresentou o Projeto de Resolução 160/12, com base nas sugestões recebidas nos debates na subcomissão.