Ex-reitores debatem rumos da Universidade
Cristovam Buarque e João Claudio Todorov relembram projetos concebidos na UnB que viraram referência nacional
Luiz Fernando Molina - Da Secretaria de Comunicação da UnB
Foi na gestão de Cristovam que se criou o Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (CEAM). “Houve resistência”, lembrou Todorov, na época vice-reitor, “mas o CEAM gerou uma nova dinâmica na universidade”. A palavra da ordem era e continua sendo a multidisciplinaridade. “O conhecimento não pode ser construído de forma departamental”, sentencia Cristovam, que percebe no potencial dos Núcleos Temáticos do CEAM o encontro de diversos saberes.
Outras iniciativas inovadoras ressaltadas pelos ex-reitores foram o pioneirismo da UnB na internet e a implementação do Programa de Avaliação Seriada (PAS). “A idéia foi proposta pelo professor Lauro Morhy (então responsável pela seleção dos vestibulandos e reitor da UnB entre 1997 e 2005)”, relembra Cristovam, que retomou o projeto assim que assumiu o GDF. “O PAS faz com que o aluno estude durante todo o ensino médio”, compara.
Outra iniciativa nascida no período ocorreu no Núcleo de Estudos do Brasil Contemporâneo, ganhando o país e se projetando internacionalmente. “O Bolsa-Escola nasceu bem aqui no Salão de Atos da Reitoria”, contou Cristovam. “Buscávamos estratégias para eliminar a evasão escolar”. A ideia virou programa bem sucedido do GDF e integra a principal política social do país há mais de uma década.
A bem sucedida campanha “Paz no Trânsito” também é um exemplo de intervenção na cidade com participação universitária. Encabeçada pela UnB e outras instituições do DF, a campanha conseguiu o que poucos julgavam ser possível. “Ninguém acreditava que se conseguisse fazer com que as pessoas respeitassem a faixa de pedestre”, relata Todorov. “Não era uma questão de engenharia de trânsito nem de publicidade e, sim, de educação”, completou Cristovam.
Para Cristovam o sucesso do Paz no Trânsito foi possível por causa do envolvimento das crianças. João Claudio Todorov reiterou o diálogo entre instituições nesta e em outras iniciativas. “Parceria foi outra palavra-chave da nossa gestão”, relatou, ao mencionar a operação de permuta de projeções por áreas construídas, resultando em fonte de recursos para a UnB.
FUTURO - A questão da autonomia universitária também se fez presente no debate. Todorov não enxerga possibilidade de implementação de mais autonomia universitária a curto prazo, enquanto que o reitor Ivan Camargo avalia que nem mesmo há um consenso entre os reitores de universidades federais brasileiras quanto a temática.
Para Cristovam Buarque, o maior desafio está em como a universidade lida com suas corporações: sindicatos e colegiados. “Precisamos ser autônomos sem ser autistas, ou seja, sem dar as costas para a sociedade que financia a universidade”, receita. Buarque prega que a autonomia universitária não deve ser somente em relação ao setor público mas também aos setores empresariais e sindicais.
HOMENAGEM A NOVIÓN
Na mesma reunião, foi apresentado o livro “Anatomias populares: A antropologia médica de Martín Alberto Ibáñez-Novión", que rendeu homenagens ao docente argentino, professor do Departamento de Antropologia (DAN) entre 1973 e 2003. Publicado pela Editora UnB, o livro reúne doze textos do pesquisador, promovendo interface entre a Antropologia e as Ciências Biomédicas.
A edição do livro é assinada pelos professores Soraia Fleischer e Carlos Sautchuck, ambos do DAN. Fleischer credita a viabilidade da obra à família do professor Novión, falecido há dez anos, bem como aos ex-alunos e ex-colegas do antropólogo. “Ele era extremamente inspirador”, afirma a professora.“Trazendo contribuições desenvolvidas pelo professor Novión ao longo de sua vida, o livro é uma obra que promove sua trajetória e também se projeta para o futuro por possibilitar que novas gerações conheçam o trabalho desenvolvido”, conclui.
O coordenador executivo da Comissão UnB 50 Anos Fernando Oliveira Paulino destacou a abrangência da ação de Novión. “Ele não se restringia à antropologia”, relatou. “Transcendia as Ciências Sociais e ecoava noutros centros da Universidade, como a Faculdade de Comunicação”. O professor emérito José Carlos Coutinho, emocionado, lembrou do ex-colega como “um verdadeiro hermano, responsável por muitas memórias daqueles anos de luta que vivemos na universidade”.
IDAS E VINDAS
Um trocadilho com a sigla do Instituto de Artes da UnB (IDA) inspirou o nome do projeto Idas e Vindas, de circulação da produção dos departamentos de Artes Visuais, Cênicas, Música e de Desenho Industrial pelos quatro campi da universidade. A diretora do IDA, Izabela Brochado, apresentou, para a Comissão UnB 50 Anos, relato das atividades desenvolvidas pela Tenda Cultural, um desdobramento da iniciativa.
Contemplado com recursos da Chamada Pública UnB 50 Anos de 2012, a Tenda Cultural trouxe estudantes do ensino médio para participarem de espetáculos de música, teatro, bonecos, dança, exposições e várias outras atividades artísticas. A Tenda foi montada durante a Semana Universitária, em outubro do ano passado. “Pretendemos estimular o diálogo entre grupos culturais de dentro e de fora da universidade, estimulando com que os alunos da educação básica também se apropriem dos espaços acadêmicos”, explica Izabela.
Para o professor Isaac Roitman, as artes são um elemento importante na missão de colocar a universidade na vanguarda. “A arte é companheira da ciência”, explicou. “A nanotecnologia e a biotecnologia não são mais importantes do que a arte”. O professor Coutinho criticou a forma como a arte é normalmente tratada. “Quando se fala em futuro, pensa-se logo em tecnologia. Colocam a arte como mero entretenimento, quando serve como força formadora da consciência da sociedade, o exercício da criatividade e da sensibilidade das pessoas”, disse.
CHAMADA PÚBLICA
A reunião da Comissão também serviu para aprovar o conteúdo da Chamada Pública UnB 50 Anos de 2013. Podem ser encaminhadas propostas relacionadas ao cinquentenário e perspectivas futuras para a Universidade de Brasília. O valor máximo por iniciativa é de 8 mil reais e o prazo de apresentação de projetos se encerra às 17h do dia 17 de abril.
O documento resulta de parceria da Universidade de Brasília com a Secretaria de Cultura, que em 14 de fevereiro de 2013 publicou o Edital 01/2013 “UnB 50 Anos”, disponível em http://www.fac.df.gov.br/
Estão sendo destinados R$ 100 mil para ações culturais que retratem a história e as perspectivas futuras da Universidade de Brasília. Poderão submeter propostas professores e servidores técnico-administrativos da UnB. Serão destinados até R$ 8 mil para cada proposta. Os participantes poderão concorrer nas seguintes modalidades: 1) digitalização e/ou tratamento de acervo; 2) circulação de exposição individual ou coletiva de Artes Visuais; 3) produção ou impressão de obra literária; 4) produções audiovisuais; 5) realização de seminários e debates que discutam o futuro da UnB.