Internet para vestir
Óculos inteligentes, relógios, anéis e até bonés começam a conectar pessoas e máquinas com o intuito de facilitar as tarefas diárias. Mas a hiperconexão preocupa especialistas
Outra novidade que chega ao mercado neste ano são os anéis inteligentes. Com tela de LED curva e design bem atraente, o acessório mostra funções como data, hora, notificações de mensagens, e-mails e alarme. Para se ter uma ideia do interesse das empresas pelos vestíveis, a Smarty Ring, que produz os anéis inteligentes, buscou apoio por meio do modelo de doações crownfunding para arrecadar US$ 40 mil. O objetivo era iniciar a pesquisa e o desenvolvimento do produto. Até dezembro de 2013, havia conseguido quase US$ 300 mil.
Entre todos os dispositivos que chegam ao mercado, o Google Glass é o mais aguardado. Hoje, é possível comprá-lo na loja da Amazon por cerca de US$ 2 mil, mas o preço deve reduzir muito ainda. Para Bruno Tozzini, a tecnologia vestível, antes de tudo, tem de ajudar a resolver algum problema do dia a dia, ser útil, fashion e fazer com que o usuário tenha o mínimo de contato com telas, teclados e botões. E os óculos da Google propõem exatamente isso.
Uma das principais preocupações dos especialistas sobre o uso excessivo de dispositivos conectados ao corpo é a privacidade. Para que o Google Glass comece a filmar ou fotografar tudo que está sendo visto por meio da lente, basta um comando de voz. Para a professora da UNA, Luciana Andrade, falar de privacidade na era da hiperconexão é quase uma contradição. "O íntimo está cada vez mais exposto com as redes sociais e os processos de compartilhamento. Uma internet conectada ao corpo funciona da mesma forma que um celular usado em tempo integral. O importante é não ficar refém desses dispositivos e não comprar todas as promessas oferecidas", diz.
Mas o que as empresas de tecnologia buscam com tanta conexão em tantos dispositivos? Um dos motivos é a publicidade OOH (sigla em inglês para out of home) ou mídia fora de casa, que está, cada vez mais, perdendo atenção da audiência pelo uso excessivo de celulares durante o deslocamento nos espaços urbanos. Por isso, é de se esperar que o marketing descubra e invada nossas vidas por meio dos novos dispositivos conectados. "Estar conectado o tempo todo é uma porta aberta para o bombardeio de publicidade, o que pode tornar a rotina estressante", diz Luciana.
Um forte movimento tenta coibir o uso de telefones celulares em bares, restaurantes e boates, locais propícios ao bate-papo presencial. O assunto ficou tão sério que virou até verbete no Wikipedia – o phubbing, como é conhecido o ato de ignorar outra pessoa usando o celular, prática cada vez mais comum nos dias atuais. Para Bruno Tozzino, "as novas soluções tecnológicas podem ajudar nesse sentido, permitindo que a pessoa se desconecte sem estar desconectadoacompletamente", diz. Certo ou não, a internet não está mais presa aos celulares. É possível se vestir de tecnologia e aproveitar as vantagens da nova era que já está batendo à porta.