Doenças diagnosticadas por dentistas
Saiba por que bulimia, cirrose e até HIV podem ser descobertas "por acaso" durante uma consulta odontológica
Segundo o cirurgião-dentista Frederico Salles, da clínica Artis, a possibilidade desses diagnósticos existe porque algumas doenças apresentam sintomas na cavidade bucal: "O organismo é um todo indivisível e qualquer comprometimento de uma parte do corpo pode ter relação com as demais", afirma. Ele diz que mais de 200 enfermidades podem atingir a boca, sendo algumas delas próprias da região, enquanto outras apresentam apenas manifestações – é o caso de doenças sistêmicas como a Aids, diabetes, câncer, bulimia, cirrose, infarto do miocárdio, entre muitas outras.
Segundo Miriam Tomaz, cirurgiã-dentista da clínica INDOR, a visita periódica ao consultório odontológico é importante para evitar que as doenças sistêmicas passem despercebidas e alcancem estágios perigosos: “O diagnóstico precoce aumenta as chances de sucesso do tratamento”, afirma. Ela já ajudou a diagnosticar casos de câncer em fase inicial e até mesmo de Aids: “O paciente havia feito uma cirurgia de implante dentário e sua gengiva ficou inchada por mais tempo que o normal. Ele veio ao consultório para saber o que poderia ser aquilo. Pedi o exame de HIV e deu positivo”, conta.
Segundo a dentista, conhecer a vida, os hábitos e o histórico médico dos pacientes é primordial antes de iniciar um tratamento dental. “Atualmente, o dentista e o médico tentam disponibilizar o máximo de informações conjuntas para o paciente para que essas doenças possam ser descobertas”, afirma.
Sintomas bucais
Weston A. Price (1870-1948), dentista famoso por teorias que relacionavam estudos de nutrição, odontologia e medicina, afirmou, certa vez: “Enquanto as faculdades de odontologia não ensinarem mais medicina [...] e as faculdades de medicina não ensinarem mais patologia dental, [...] a humanidade deve esperar e sofrer”. Entenda como algumas doenças podem ser diagnosticadas por sintomas bucais:
Aids
Como a doença afeta o sistema imunológico, alguns sinais ou lesões são produzidos na boca por bactérias, fungos e vírus, como inflamações na gengiva, esbranquiçamento nas laterais da língua, e ferimentos na mucosa interna das bochechas, da língua, da gengiva, das amígdalas e dos lábios.
Bulimia
É comum o bulímico provocar o vômito intencionalmente para esvaziar o estômago. Esse procedimento traz o ácido clorídrico do estômago para a boca, causando destruição dos tecidos dentários e produzindo lesões na mucosa. Várias outras alterações podem ser observadas, como a incidência de cáries, bruxismo (ranger dos dentes), hipersensibilidade dentinária e alterações do fluxo salivar.
Câncer
Vários tipos de tumores malignos podem ter manifestações na boca, dentre os quais destacam-se a leucemia e o linfoma, que produzem o aumento do tamanho das gengivas, acompanhado de lesões (como verrugas, típicas do HPV bucal, que pode desencadear o tumor). O paciente com câncer também pode sentir dores ao receber uma fraca batida no dente.
Cirrose hepática
Podem surgir lesões na boca como bolhas, erosões e placas. O céu de boca e a região embaixo da língua ficam pálidas. Outra manifestação que o dentista pode detectar é a forte halitose, conhecida como odor hepático.
Diabetes
Não há lesões orais específicas que possam induzir o dentista a suspeitar de diabetes, a não ser o hálito cetônico característico da doença (com cheiro similar ao de frutas envelhecidas). Ele surge devido a pouca disponibilidade de glicose como fonte energética. Isso leva o organismo a queimar gorduras para compensar, o que produz o cheiro.
Infarto do miocárdio
Não apresenta lesões nem sintomas no âmbito da cavidade oral, porém, tem como um dos indícios uma dor irradiada na mandíbula, que pode levar o paciente a procurar o dentista, confundindo-a com dor de dente. É importante o diagnóstico diferencial: se o dentista não encontrar uma causa compatível com a queixa ou, caso encontre, a dor não cessar com uma anestesia, então é bom encaminhar o paciente a um pronto socorro cardiológico. Ele pode estar na fase de pré-infarto.