Especialista afirma que comportamento pode
afetar saúde e a fertilidade das futuras gerações
Estudo dinamarquês comprovou que mesmo o homem que bebe moderadamente está prejudicando a qualidade de seu esperma e poderá enfrentar problemas relacionados à fertilidade. De acordo com a professora Tina Kold Jensen, da University of Southern Denmark, esse é o primeiro estudo realizado com jovens saudáveis que avalia a fundo o consumo de álcool e o impacto que isso pode gerar na procriação. "De acordo com os dados, na Europa ocidental há um elevado consumo de bebidas alcoolicas, e isso pode ser tornar um problema de saúde pública", diz a pesquisadora.
Mais de 1.200 homens entre 18 e 28 anos que se submeteram a exames médicos do serviço militar entre 2008 e 2012 tiveram de responder algumas questões sobre ingestão regular de álcool e tiveram amostras de sêmen e sangue coletadas para que os níveis de hormônios sexuais fossem analisados. Cerca de 60% deles disseram ter abusado do álcool mais de duas vezes no mês anterior à pesquisa. Em média, cada entrevistado ingeriu 11 latinhas de cerveja na semana que precedeu os exames.
Apesar de não fazer muita diferença quanto cada homem bebeu um mês antes, o consumo de álcool na semana anterior ao exame revelou mudanças importantes nos níveis de hormônios reprodutivos – com aumento dos níveis de testosterona e diminuição da globulina ligadora de hormônios sexuais. Nesse grupo, quanto maior foi o consumo de bebidas alcoolicas, menor foi a qualidade do esperma – com menor quantidade e tamanhos e formatos defeituosos. Aqueles que ingeriram 40 latinhas de cerveja durante uma semana tiveram a contagem de esperma reduzida em 33% e uma queda de 51% na qualidade deles – quando comparados àqueles que consumiram entre uma e cinco unidades.
Segundo o ginecologista Edson Borges Junior, especialista em medicina reprodutiva, esse tipo de estudo é importante na medida em que comprova o mal que alguns hábitos fazem à fertilidade – não só a ingestão excessiva de álcool, como o abuso de cigarro, de carne vermelha e gordura trans. "Casais em tratamento de fertilidade são altamente aconselhados a adotar hábitos de vida mais saudáveis, já que as centenas de substâncias presentes no cigarro e nas bebidas alcoólicas aumentam o estresse oxidativo sistêmico, empobrecendo a qualidade do esperma".
Para o médico, se os homens continuarem agindo de forma desregrada, a saúde e a fertilidade das futuras gerações estarão em risco. Essa é a conclusão, inclusive, do primeiro estudo do gênero realizado no Brasil e conduzido por Borges. A partir da análise de 2.300 amostras de sêmen fornecidas por pacientes que recorreram ao tratamento de fertilização assistida nos períodos de 2000 a 2002 e 2010a 2012, foi possível registrar diferenças estatisticamente significativas nas características seminais dos indivíduos analisados, principalmente em relação à concentração de espermatozoides e à sua morfologia.
"Nossa pesquisa mostrou uma queda de mais da metade do número de espermatozoides produzidos, assim como uma diminuição importante na porcentagem dos que são considerados normais – de 4,6% para 2,7%. Outro resultado também surpreendeu: dobrou o número de homens com azoospermia, que é a ausência de espermatozoides na ejaculação". Esses dados mostram que a qualidade do sêmen humano está se deteriorando ao longo dos anos. "É fundamental encontrar e reduzir os agentes que estão causando esse declínio da fertilidade masculina. Mas já é possível afirmar que o aumento da frequência de anomalias reprodutivas masculinas reflete os efeitos adversos dos fatores ambientais ou de estilo de vida dos indivíduos", conclui Edson Borges.