Quando o excesso de amor vira doença
Se sacrificar ou se dedicar demais aos outros pode ser um sintoma de vício em "amar". Conheça um grupo de mulheres que se reúne, periodicamente, para tentar acabar com esse comportamento possessivo
Segundo Ana, um dos principais sintomas de uma participante do Mada é se anular em função do outro, e cobrar dele um amor exacerbado. "A pessoa se anula e vai viver o amor de forma ignorante, viver a vida do outro. Depois, há a típica cobrança: ‘anulei minha vida por você e é assim que me paga?'. O amor verdadeiro não precisa ter barganha. Não tem que existir nenhuma condição para ser recíproco", acredita. Além disso, a mineira afirma que, antes de entrar em recuperação, era muito mais cômodo controlar a vida do outro, pois assim não precisava tomar as rédeas da sua própria vida.
A integrante do Mada conta como descobriu ser viciada em "amar demais": "Não sei se estou curada, mas, atualmente, consigo perceber com muita facilidade quando a vida me coloca em situações de risco. E não é só em relacionamentos amorosos. Por exemplo, se antes, no trabalho, ficava responsável por um grupo, eu abraçava aquela equipe e não tinha mais vida além daquilo. Não percebia o meu comportamento como vício, por que achava que ser 'Mada' era apenas em relação a ter ciúmes. Quando percebi que podia ser uma viciada, perguntei para a minha psicóloga e ela confirmou. Fazia terapia há dois anos, mas a especialista não falava abertamente comigo sobre isso. Apenas apontava minha dependência em relação às outras pessoas. Então, a psicóloga me encaminhou para o Mada e, hoje, estou em recuperação. Me policio 24 horas por dia".
No grupo não há orientação de um psicólogo. As participantes compartilham histórias de vida e não podem dar palpites ou aconselhar as outras. O intuito é se identificar com o comportamento das outras mulheres, por meio de relatos e da troca de contatos após as reuniões – isso, se a participante interessar em dividir mais experiências e pedir opinião de alguém em particular.
Para a psicóloga Marisa Sanábria, que é coordenadora da comissão Mulheres e Questão de Gênero, do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais, participar de grupos que discutem um problema em comum é uma boa forma de se sentir acolhida num momento difícil. Como uma das regras para participar do Mada é não dar conselhos, a especialista explica que, para quem compartilha uma história sofrida, o importante é ser ouvida e, não, julgada. "A marca desse tipo de grupo tem que ser o respeito, não o julgamento. Entender que quem está ali passa por um sofrimento", diz Marisa. A especialista explica que participar de um grupo talvez não seja uma solução definitiva para a pessoa, mas pode ser um degrau para buscar uma ajuda terapêutica profissional.