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NEGÓCIOS »

Crise, que crise?

Startups crescem 200% ao ano e driblam a crise através de novas ideias e tecnologias

Julyerme Darverson - Publicação:11/03/2016 10:04Atualização:11/03/2016 11:17
Embora a crise econômica tenha afetado vários setores, um novo segmento tem ganhado força: as startups, empresas com modelos de negócio nada tradicionais, têm tido crescimento superior a 200% ao ano. 

Segundo a diretora técnica do Sebrae, Heloisa Menezes, as startups priorizam modelos de negócios inovadores e buscam a validação do cliente, focando sempre na solução rápida de um problema específico. Com uma estrutura enxuta e sem muitos custos operacionais, uma startup pode se movimentar mais rápido no mercado, adaptando-se à realidade apresentada. "Isso permite crescer, inclusive, em tempos difíceis. Além disso, é nos momentos de crise que as empresas pequenas, médias e grandes procuram soluções inovadoras no mercado, e as startups são as mais preparadas para oferecer esse serviço, ampliando seu potencial de crescimento", comenta.
 
Para Heloisa Menezes, diretora técnica do Sebrae, as startups são  preparadas para resolver problemas: 'Elas surgem como inovação, que potencializam a criação de novos mercados ou a resolução de problemas reais que a cada dia se multiplicam' (Carlos Vieira/CB/D.A Press 
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Para Heloisa Menezes, diretora técnica do Sebrae, as startups são preparadas para resolver problemas: "Elas surgem como inovação, que potencializam a criação de novos mercados ou a resolução de problemas reais que a cada dia se multiplicam"
 
Na Associação Brasileira de Startups, AbStartups, 4167 empreendimentos estão cadastrados em seu banco de dados. Em 2015, mais de mil novos cadastros foram realizados no site. "As startups conseguem trazer melhorias para o cotidiano, não só da população diretamente, mas indiretamente, através de grandes empresas que muitas vezes não conseguem aplicar inovações sozinhas, em função de estruturas grandes e engessadas", diz Guilherme Junqueira, diretor executivo da AbStartups.

O perfil dos empreendedores que começam esse tipo de negócio é de jovens, em sua maioria, mas pessoas mais experientes também atuam no ramo. "A idade e o perfil variam conforme o segmento escolhido: redes sociais e mobile, por exemplo, são muito trabalhados por um perfil mais jovem, enquanto que o foco em resolver problemas dos segmentos tradicionais é trabalhado por um perfil mais experiente", explica Heloisa Menezes.

Os mercados que mais se destacam no momento são de SaaS (web app - aplicativos), internet, educação, e comunicação e mídia, segundo dados da AbStartups.

Desafios e planejamento

Para quem quer começar a investir na área, a construção da ideia de negócio é o primeiro passo e para isso o empreendedor deve buscar conhecimento. "A informação está acessível a todos e é premissa estar atualizado para aproveitar as oportunidades. A partir desse comprometimento, algumas ações devem ser cumpridas, incluindo validação do modelo de negócio, equipe, sócios, métricas, execução, planejamento, cultura da startup e estratégia de crescimento", informa Heloisa.

No Distrito Federal, existem 83 empreendimentos cadastrados na ABStartups. A Configr, que atua no ramo de gerenciamento de servidores e aplicações, é uma das parceiras da associação.

Arthur Furlan, de 29 anos, CEO da Configr, percebeu a dificuldade de amigos e viu que isso era uma oportunidade de negócio: "Ou eles gastavam muito dinheiro, ou eles não tinham uma boa infraestrutura, ou os dois, e como eu vinha de uma parte técnica, isso para mim foi relativamente simples. E eu acabei ajudando eles e com isso eu pensei: eu preciso pegar esse trabalho que eu faço e transformar num sistema".
 
'Procuramos primeiro uma pessoa disposta a pagar pela solução e então passamos a desenvolver a Configr junto com os clientes', conta Arthur Furlan, CEO da Configr (Carlos Moura/CB/D.A Press )
"Procuramos primeiro uma pessoa disposta a pagar pela solução e então passamos a desenvolver a Configr junto com os clientes", conta Arthur Furlan, CEO da Configr
 
Nos meses iniciais, a startup teve um crescimento de 120 %. Em 2015, a Configr cresceu 600% seu faturamento e aumentou em 1100% o número de clientes. Em agosto do ano passado, a empresa realizava cerca de 1400 aplicações em 60 servidores. Hoje, gerencia mais de 4.500 aplicações em 180 servidores, atendendo clientes de mais de 15 estados brasileiros, Europa e Estados Unidos. Para responder a demanda, principalmente de hospedagem de sites, a equipe dobrou de tamanho nos últimos seis meses com expectativa de continuar crescendo esse ano.

Quando questionado sobre planejamento, Arthur conta que o passo inicial foi procurar um cliente para depois dar "vida'' a Configr: "Tivemos a ideia da empresa e decidimos começar ao contrário. Procuramos primeiro uma pessoa disposta a pagar pela solução e então passamos a desenvolver a Configr junto com os clientes".

Matheus Moretti Rangel tem 21 anos e é fundador da Idee, startup de marketing de conteúdo. Ele disse que buscou um nicho que sabia que era deficiente: a criação de textos de qualidade para a internet: "Hoje as pessoas não gostam de ser bombardeadas com propagandas. Tem que ser algo sutil, algo que vá acrescentar. Sua marca ganha muito com isso. Sempre acreditei no aprendizado pela experiência. Ainda temos muito o que evoluir. Temos muitas ideias que estão em andamento", ressalta.
 
'Conseguimos nosso primeiro cliente em menos de uma semana após fecharmos a ideia da startup', comenta Matheus Moretti, fundador da Idee Conteúdos (Raimundo Sampaio/Encontro/D.A Press)
"Conseguimos nosso primeiro cliente em menos de uma semana após fecharmos a ideia da startup", comenta Matheus Moretti, fundador da Idee Conteúdos
 
Para o sócio de Matheus, o estudante José Alday Pinheiro Alves, também com apenas 21 anos, as pessoas estão consumindo mais conteúdo, principalmente virtual, devido a grande conectividade. "As empresas necessitam de conteúdos originais, seja offline, como descrição de produtos ou serviços, ou online, com produção de conteúdo para blogs, por exemplo", conta. Atualmente a equipe produz de 250 a 300 artigos por mês. 

Deu certo

Criada há dois anos, a Novatics, especializada em consultoria e desenvolvimento de software para web e mobile, saiu do status de startup e tornou-se uma empresa com um plano de negócio definido.

Flávio Fonseca Alves, de 30 anos, CEO Fundador, diretor executivo e engenheiro de software, conta que o início foi complicado, pois ele tinha o desafio de administrar o negócio sozinho. "Tive dificuldades de gestão porque era muito volume de trabalho. Eu faço várias tarefas na empresa, desde questões administrativas, fechamento de contrato, até desenvolvimento de softwares", comenta.
 
Flávio Fonseca, CEO Fundador da Novatics: 'Nós focamos na qualidade do serviço prestado e no desenvolvimento de uma cultura de excelência', comenta (Raimundo Sampaio/Encontro/D.A Press)
Flávio Fonseca, CEO Fundador da Novatics: "Nós focamos na qualidade do serviço prestado e no desenvolvimento de uma cultura de excelência", comenta
 
Hoje, o empreendimento envolve 13 pessoas na equipe. Em agosto de 2015, esse número era de sete pessoas. Atualmente, a Novatics atende clientes do Distrito Federal, Rio de Janeiro e São Paulo. Além dos atendimentos realizados no país, a empresa já realizou trabalhos para o exterior.

Crise econômica

Heloisa comenta que a inovação é a fórmula para driblar a crise, principalmente quanto ao modelo de negócio. "O empreendedor deve estar atento às oportunidades para buscar soluções rápidas e assertivas. A tecnologia possibilita modelos de negócios escaláveis, com potencial de crescimento rápido, e repetíveis, com pequenas adaptações a solução pode ser aplicada a novos clientes. Essa dinâmica favorece a criação de negócios capazes de driblar a crise", completa.

Além da Idee Conteúdos, José Alday
 também é sócio na startup GexWay: 
'Desde a adolescência eu quis empreender,
pois sempre tive um espírito de liderança' (Arquivo Pessoal)
Além da Idee Conteúdos, José Alday
também é sócio na startup GexWay:
"Desde a adolescência eu quis empreender,
pois sempre tive um espírito de liderança"
Para enfrentar a crise econômica, a Idee Conteúdos está apostando em preços mais baixos para continuar mais competitiva e novos métodos de trabalho. "Hoje podemos oferecer, por exemplo, o serviço de Gestão de Redes Sociais por 60% ou 70% do preço do mercado", conta Matheus Moretti. "Elaboramos o conceito de Sistema de Demandas, um espaço virtual no qual nós podemos reunir nossos clientes e todos os nossos colaboradores. Desta forma, conseguimos fornecer, tanto a clientes como a colaboradores, um ambiente unificado de criação de conteúdo", enfatiza José Alday.
 
Segundo Flávio Fonseca, da Novatics, o mercado retraiu com a crise e o primeiro impacto é cortar custos. "Estamos buscando alternativas para oferecer diferenciais para se tornar mais atrativo para as empresas, pois ainda existe demanda de desenvolvimento de softwares, e isso é importante para o negócio delas. Estamos também com estratégias de aquisição de clientes internacionais para termos outros canais de venda", explica.
 
Para os jovens empresários, o segredo do sucesso está em analisar o mercado para verificar se faz sentido abrir uma empresa, verificar se existe cliente que está disposto a pagar pelo serviço, focar no trabalho, e trabalhar muito.

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