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SAÚDE | EMAGRECIMENTO »

Funciona, mas não faz milagre

A implantação do balão intragástrico tem se tornado comum entre pessoas que querem perder peso. Segundo especialistas, o método é eficaz no combate à obesidade, mas o resultado vai depender, em grande parte, do paciente

Daniela Costa - Publicação:17/03/2016 13:05Atualização:17/03/2016 13:53
Os quilos a mais não tiram a espontaneidade e o alto-astral do cabeleireiro e maquiador Jô Martins, de 36 anos. Mas ele confessa que lhe trazem alguns inconvenientes. Com 150 quilos distribuídos em 1,80 metro de altura, ele conta que fica difícil passar em portas giratórias de bancos, roletas de ônibus e até mesmo se acomodar nas compactas poltronas de aviões. Apesar de se descrever como um “gordinho bem resolvido”, Jô decidiu rever seus conceitos. “Emagrecer significa conquistar saúde e qualidade de vida. Quero ter a liberdade de comprar a roupa que mais me agrada, e não apenas aquilo que me serve”, diz. Dores nas articulações, excesso de transpiração e as desagradáveis piadinhas ouvidas constantemente são apenas alguns dos problemas enfrentados por aqueles que sofrem com a obesidade. “Uma vez fui atender uma noiva e o pai dela disse que eu tinha cara de lutador de sumô, e não de maquiador”, diz Jô. “O preconceito existe, mesmo que velado.”

Segundo a Organização Mundial de Saúde, a obesidade é doença e tem sido considerada um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. A projeção é de que, em 2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos em todos os continentes estejam com sobrepeso, ou seja, com Índice de Massa Corporal (IMC) entre 27 e 29,9, e 700 milhões atinjam o nível de obesidade – IMC igual ou superior a 30. No Brasil, pelo menos 20,8% da população já é classificada como obesa. A estatística é grave, tendo em vista que a condição potencializa o surgimento de doenças como hipertensão, diabetes e câncer. “Os hábitos sedentários da vida moderna, a alimentação rápida de pior qualidade e o estresse são as principais causas desse quadro”, diz o médico Mauro Lúcio Jácome, especialista em gastroenterologia, cirurgia e endoscopia.

O cabeleireiro e maquiador Jô Martins 
não conseguiu o resultado esperado e
optou por fazer tudo de novo: 'Desta
vez, vai ser para valer' (Weber Padua/Divulgação)
O cabeleireiro e maquiador Jô Martins
não conseguiu o resultado esperado e
optou por fazer tudo de novo: "Desta
vez, vai ser para valer"
Para driblar a doença, muitos apostam em dietas milagrosas, medicamentos perigosos e até mesmo em cirurgia. Com Jô Martins a situação não foi diferente. Após passar por algumas experiências arriscadas e sem obter sucesso, fez uma nova escolha. “No início de 2014, coloquei o balão intragástrico e já nos primeiros três meses perdi 20 quilos. Meu apetite reduziu drasticamente, antes comia 800 gramas só no almoço”, conta. O procedimento consiste na introdução de um balão de silicone preenchido com soro fisiológico no estômago do paciente, via endoscopia, e é tido como auxiliar no tratamento da obesidade. Os primeiros modelos surgiram por volta de 1982 e foram sendo aprimorados ao longo do tempo. “O objetivo é ocupar espaço no estômago, induzindo o paciente a ingerir quantidade menor de alimentos, dando-lhe uma sensação de saciedade”, explica o médico Leonardo Salles de Almeida, cirurgião do aparelho digestivo.

As principais vantagens do método são ser pouco invasivo, já que não requer cortes ou internação, e ser totalmente reversível. No entanto, os especialistas ressaltam que o balão funciona, mas não faz milagres. Para que os resultados sejam satisfatórios, a colaboração do paciente é fundamental. “Sou o exemplo vivo disso. Como não segui as orientações médicas, engordei tudo novamente. Acabei de fazer um novo procedimento e, desta vez, vai ser para valer”, diz Jô Martins, que pretende perder 50 quilos. 

A tropa de choque que promete combater a obesidade consiste em balão, dieta, atividades físicas e acompanhamento psicológico. “Isso porque a obesidade não tem cura, mas sim controle, e exige tratamento multidisciplinar contínuo, com mudanças de hábitos permanentes”, diz o médico Bruno Sander, especialista em cirurgia da obesidade e endoscopia digestiva. Segundo ele, outra vantagem do método é ser indicado também para pacientes apenas com sobrepeso, e não necessariamente obesos.

Há um mês, a supervisora Bruna Navarro Cruz, de 28 anos, está com o balão e já perdeu nove quilos. Com 1,67 metro de altura, no início do tratamento, pesava 81,5 quilos e pretende chegar aos 60 quilos. “Optei pelo balão porque vai me ajudar a comer em menor quantidade e melhor. A primeira semana foi a mais difícil, por ser com dieta líquida. Não tive vômito, mas senti enjoo e dor no estômago”, conta. Ela acredita que está valendo a pena e pretende ficar com o balão por um período de seis meses. “Nunca estive tão feliz. Antes malhava e não conseguia perder peso. Hoje vejo os resultados”, diz Bruna.
 
A supervisora Bruna Navarro Cruz está com o balão há um mês e perdeu nove quilos: 'Já vejo os resultados' (Léo Araújo)
A supervisora Bruna Navarro Cruz está com o balão há um mês e perdeu nove quilos: "Já vejo os resultados"
 
O empresário Marcel Fantini Moreira
emagreceu 33 quilos. 'Eu me sinto 
mais disposto, ativo, comecei até a
malhar. É vida nova' (Geraldo Goulart)
O empresário Marcel Fantini Moreira
emagreceu 33 quilos. "Eu me sinto
mais disposto, ativo, comecei até a
malhar. É vida nova"
Segundo o médico Henrique Eloy Câmara, especialista em cirurgia da obesidade e endoscopia digestiva, as vantagens do balão, especialmente se comparado à cirurgia bariátrica, são várias. “Qualquer intervenção cirúrgica é passível de hemorragias, distúrbios metabólicos e alterações psíquicas, ainda mais sendo irreversível. Tudo isso não ocorre com o balão intragástrico, que é um procedimento endoscópio”, afirma.

O empresário Marcel Fantini Moreira, de 53 anos, está satisfeito com o resultado. Há nove meses pesava 128 quilos e hoje, com 33 quilos a menos, recuperou sua alegria de viver. “Eu me sinto mais disposto, ativo, e até comecei a malhar”, diz. “Sem dúvida, de agora em diante, é vida nova.”
 
 
 
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