O café, em si, não é cancerígeno, mas seu consumo em temperaturas acima dos 65º C pode ser fator de risco para o surgimento de câncer no esôfago
Ingerir bebidas muito quentes – acima dos 65° C – pode levar ao surgimento de câncer no esôfago de humanos. Esta foi uma das conclusões do grupo de 23 cientistas convocados pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), que é vinculada à Organização Mundial da Saúde (OMS), para avaliar o potencial cancerígeno do consumo de café, mate e outros produtos.
O câncer de esôfago é o oitavo mais comum em todo o mundo e uma das principais causas de morte pela doença, com cerca de 400 mil óbitos registrados em 2012 – o que equivale a 5% de todas as mortes por câncer.
O grupo de trabalho não encontrou evidências conclusivas sobre os efeitos cancerígenos da ingestão de café, nem sobre a ingestão de mate em temperaturas não muito altas, mas identificou tendências perigosas associadas a outros aspectos do consumo.
Estudos feitos em países como a China, Irã, Turquia e na América do Sul – onde o chá e o mate são ingeridos tradicionalmente em temperaturas elevadas, a cerca de 70°C – apontaram que o risco de câncer no esôfago aumenta em proporção direta à temperatura em que as bebidas eram consumidas.
"Esses resultados sugerem que o consumo de bebidas muito quentes é uma das prováveis causas de câncer no esôfago e que é a temperatura, e não a bebida em si, que aparenta ser responsável por isso", afirma o diretor da IARC, Cristopher Wild.
A agência da OMS destaca, porém, que a análise foi baseada em evidências limitadas. Em experimentos envolvendo animais, também houve poucos indicativos concretos para o potencial cancerígeno da água muito quente. "Fumar e ingerir bebidas alcoólicas são as principais causas do câncer de esôfago, particularmente em muitos países de alta renda", salienta Wild.
O tabaco, por exemplo, é classificado no Grupo 1 de carcinogênicos para humanos, ao passo que o café e o mate não apresentam potencial cancerígeno, sendo colocados no Grupo 3 da avaliação da IARC. A classificação não indica qual o nível exato de risco existente para a saúde das pessoas associado à exposição.
"Entretanto, a maioria dos casos da doença ocorrem em partes da Ásia, América do Sul e África Ocidental, onde é comum o consumo de bebidas muito quentes e onde as razões para a alta incidência desse tipo de câncer não são bem compreendidas", completa Cristopher Wild.