Há dois anos a comerciante Glaucia Monteiro Macaroun, de 35 anos, fez o primeiro tratamento de varizes: "Valeu muito a pena. É muito bom poder colocar um short e ficar à vontade"
Aos poucos, pequenas ramificações avermelhadas foram ganhando espaço nas pernas da auxiliar administrativa Nara Santos, de 32 anos, e a aparência semelhante à de um mapa geográfico lhe causava pânico na hora de usar roupas mais curtas. Se não bastasse a questão estética, a sensação de peso, inchaço e queimação, acompanhada de dores constantes, causava sofrimento contínuo. "Trabalhei muito tempo como vendedora e ficava longas horas em pé. Com isso, já tive de realizar vários tratamentos, mas estou feliz com o resultado", diz. O problema pode ser ainda mais grave quando a dilatação das veias evolui para quadros de úlcera varicosa, flebite ou trombose. "Após dilatadas, as veias deixam de cumprir a sua função principal, que é levar o sangue venoso de volta ao coração", explica o angiologista Bruno de Lima Naves, coordenador do Hospital Madre Teresa. Nas mulheres, o problema é comum a partir da adolescência, por causa dos hormônios femininos, que contribuem para a dilatação das veias, aliados ao uso de anticoncepcionais e ao avanço da idade. Os sintomas se agravam durante a menstruação e a gravidez. Hábitos comuns no dia a dia, como ficar sentada ou em pé por longos períodos, também concorrem para o surgimento dos chamados vasinhos, assim como o uso de salto alto. Foi esse o motivo que levou a vendedora Fernanda Alves Spigolon, de 36 anos, a ter de fazer cirurgia de veias. "Sentia muita dor. Ficava horas em pé usando salto e com isso a panturrilha ficava o tempo todo contraída, dificultando a circulação. Hoje sou mais cuidadosa", diz. Segundo os especialistas, no entanto, o fator genético ainda é o que mais prevalece. "Costumo dizer que as varizes são uma tradição de família", afirma Bruno. Nos homens, a incidência da doença é bem menor e ocorre em consequência de traumas repetidos em esportes, ou devido ao sedentarismo, tabagismo e diabetes. "Seja qual for a origem da doença, o ideal é que a pessoa se movimente constantemente para melhorar o retorno venoso da perna", orienta o angiologista Josualdo Euzébio da Silva.
Apesar de comum – segundo a Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), 38% da população brasileira tem varizes –, a doença ainda não é levada tão a sério. Isso porque é associada mais a uma questão estética do que propriamente de saúde. Porém, quem sofre de insuficiência venosa crônica tem alterações irreversíveis na pele da região afetada. "Entre elas, estão escurecimento, descamação, ressecamento e abertura de feridas de difícil cicatrização", explica o angiologista Carlos Eduardo de Freitas, da clínica AngioGold.
Aos poucos, as varizes foram ganhando espaço nas pernas da auxiliar administrativa Nara Santos, de 32 anos: "Tive de fazer vários tratamentos, mas estou feliz com o resultado"
A boa notícia é que, apesar de não ter cura, as varizes têm tratamento e há a possibilidade de prevenção. Os pequenos vasos podem ser evitados com a prática de atividades físicas – especialmente caminhadas e ciclismo –, dieta saudável e controle de peso. Já o tratamento deve ser feito somente com médico especialista em doenças venosas e arteriais, caso contrário, um procedimento simples pode resultar em graves consequências. "O uso de laser e injeções de forma indiscriminada pode provocar manchas e feridas, além de ulcerações e até mesmo reações anafiláticas", diz o angiologista Daniel Mendes Pinho, presidente da regional MG da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular. O tratamento cirúrgico é indicado apenas nos casos mais graves. Em geral, utiliza-se a escleroterapia, popularmente conhecida como aplicação de veia (veja quadro abaixo), para sanar o problema. Segundo a angiologista Solange Meyge Evangelista, da Clínica Varizemed, um equívoco comum é acreditar que as varizes tratadas voltam. "Por ser uma doença crônica e progressiva, o que ocorre é que outras veias dilatadas podem surgir com o tempo, mas não as mesmas", explica. Outro mito é realizar as aplicações apenas no período do inverno. Apesar da contraindicação de se expor ao sol, nada impede que o tratamento seja realizado a qualquer época do ano. "Para isso, basta tomar os cuidados necessários, especialmente, o uso de meias compressivas", diz o angiologista Sérgio Salomão Maranhão. Há dois anos, a comerciante Glaucia Monteiro Macaroun, de 35 anos, fez o primeiro tratamento de varizes. Cuidadosa, hoje precisa apenas de manutenção. "Valeu muito a pena. É muito bom poder colocar um short e ficar à vontade", diz.