O sorriso é considerado por muitos um cartão de visitas em qualquer ocasião. Um ato simples, mas que para a fisioterapeuta Sheila Silene Soares, de 39 anos, sempre foi sinônimo de constrangimento. Ainda menina, já sofria o preconceito por ter a gengiva muito exposta. O desconforto se agravou com a chegada da adolescência e o despertar da vaidade. A situação que ela mais se recorda é de precisar restringir o sorriso para sair bem nas fotos. "Tudo aquilo que diminui a nossa autoestima acaba afetando todas as áreas de nossas vidas", diz Sheila.
A fisioterapeuta Sheila Silene Soares antes e depois do tratamento para inibir a superexposição da gengiva: "Antes eu evitava sorrir"
Somente há um ano, a fisioterapeuta descobriu que um procedimento pouco invasivo, com o uso da chamada toxina botulínica (Botox), muito conhecida para finalidades estéticas, poderia dar fim ao seu sofrimento. Com medo dos riscos da cirurgia gengival, ela já havia até decidido deixar o sonho da mudança para trás. "Até há pouco tempo eu acreditava que somente o processo cirúrgico poderia me ajudar", diz. "Foi quando soube que o Botox também traz ótimos resultados. Hoje posso sorrir sem medo."
A indicação da toxina na odontologia é recente, no tratamento de problemas bucais, como a correção do sorriso gengival, possibilitando um efeito harmonioso. "A bactéria age promovendo a paralisia muscular de determinado local, o que é muito positivo no tratamento de várias patologias, como bruxismo, dores orofaciais e implantes", explica a dentista Ana Paula Lara Resende, especialista em odontologia estética. Os resultados aparecem entre três a 10 dias após a aplicação. "No caso da gengiva exposta, ocorre a paralisia de algumas fibras do músculo responsável por levantar o lábio superior, de forma que a região fique menos evidente."
O procedimento é rápido - basta uma injeção do produto na região indicada - e dura, em média, de quatro a seis meses, quando nova aplicação deverá ser realizada. "É um tratamento paliativo, sem caráter definitivo, mas que se tornou opção por sua praticidade", diz a dentista Adriana do Paço Soares, especialista em disfunção temporomandibular e dor orofacial. "Em casos de bruxismo, por exemplo, a toxina botulínica auxilia na redução da pressão sobre a articulação e no bloqueio da dor, evitando danos contínuos", explica.
A modelo Kátia de Castro Faria, de 17 anos, paciente da dentista Ana Paula, optou pelo tratamento. "Há algum tempo sofro com o bruxismo e já na primeira semana de aplicação senti o maxilar mais aliviado", afirma. Apesar de sua utilidade terapêutica, o uso da toxina botulínica deve ser restrito, feito em doses mínimas e por profissionais capacitados. "Mesmo sendo um procedimento seguro, existem algumas contraindicações e por isso cada paciente deve ser avaliado de forma individual", diz o dentista Hugo Henriques Alvim, professor da Faculdade de Odontologia da UFMG. "Caso seja preciso, realiza-se teste alérgico."