Segundo pesquisa da USP, a melatonina pode contribuir no tratamento de mulheres que sofrem com a infertilidade
Pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) observaram que a melatonina, hormônio cuja principal função em humanos é regular o sono, tem papel importante no processo de crescimento do folículo ovariano. A descoberta, que pode ajudar no tratamento de mulheres com infertilidade, foi publicada no periódico científico Journal of Ovarian Research.
Além de regular várias funções celulares, a melatonina é responsável por transportar informações sobre a duração do períodos de luz nos dias e a duração das noites, ao longo do ano, permitindo ao organismo responder com mudanças adaptativas às alterações do ambiente. A suspeita de que o hormônio estaria relacionado à maturação do folículo ovariano surgiu do fato de que há três vezes mais melatonina no líquido que o envolve do que na circulação sanguínea. Além disso, as células foliculares possuem receptores de melatonina.
"Descobrimos que a melatonina tem participação importante no processo de chegada de nutrientes, de crescimento das estruturas foliculares e na liberação da produção de esteroides sexuais, que modula o crescimento do folículo ovariano, a unidade básica do sistema reprodutor feminino", explica José Maria Soares Junior, professor associado do departamento de Obstetrícia e Ginecologia da FMUSP.
De acordo com o pesquisador, já havia relatos na literatura científica de que a melatonina pode ajudar no amadurecimento do oócito, a célula feminina que está prestes a se converter num óvulo maduro, interferindo na função ovariana.
Para chegar aos resultados obtidos pelo estudo recente da FMUSP, os pesquisadores estabeleceram, entre fevereiro de 2014 e março de 2015, culturas de células foliculares, cujas camadas são chamadas de granulosa, que foram tratadas com melatonina em laboratório. Foram incluídas na pesquisa 20 pacientes com idade entre 20 e 35 anos.
"Os resultados indicam que a melatonina tem uma participação importante na regulação do crescimento folicular, com consequências numa melhor qualidade oocitária, e sugerem uma possibilidade de tratamento de mulheres com infertilidade relacionada a baixas concentrações do hormônio ou a problemas nos receptores nas células da granulosa", diz José Soares Junior.
Ainda segundo o professor, são necessários novos estudos para que se saiba se o aumento da concentração de melatonina no fluido folicular pode resultar em embriões de melhor qualidade.