Ao longo das últimas décadas, a classificação dos sintomas e o próprio diagnóstico da depressão registraram avanços significativos – a doença deixou de ser considerada banal, uma espécie de momento de fraqueza ou mesmo frescura, e chegou a ser referendada por diversas entidades médicas de cunho internacional como o mal do século. No Dia Mundial da Saúde, lembrado nesta sexta, dia 7 de abril, o transtorno foi escolhido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como tema prioritário e de suma importância.
Para João Nolasco, diretor executivo e professor do Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica, Ciências Humanas e Sociais, falar sobe depressão, conforme recomenda fortemente a própria OMS, deve ser o primeiro e mais importante passo não apenas para que fique claro que há tratamento para a doença, evitando, assim, o agravamento do quadro e, consequentemente, reduzindo o número de casos crônicos do transtorno.
"A distimia ou depressão leve é uma doença silenciosa. Hoje, entretanto, 6% da população mundial são acometidos por esse quadro. O indivíduo sofre calado e é comumente caracterizado como uma pessoa rabugenta ou mal-humorada. Atualmente, sabe-se que não se trata só de uma característica de humor ou temperamento. A pessoa está sempre triste, tudo é ruim, nada está bom. É alguém que não sente prazer ao realizar suas atividades rotineiras, mas consegue conviver, não se prostra", explica o especialista.
Aproveitando o tema de suma importância, a Agência Brasil fez uma entrevista com o psicanalista João Nolasco, sobre a importância do diagnóstico precoce como estratégia para combater quadros crônicos de depressão:
A grande prevenção da depressão gira em torno de a pessoa compreender a si mesma, já que a doença mexe com o que chamamos de falta de gerenciamento das emoções", diz o psicanalista João Nolasco
É possível falar em prevenir casos crônicos de depressão?
Dentro de um conceito psicanalítico, a grande prevenção da depressão gira em torno de a pessoa compreender a si mesma, já que a doença mexe com o que chamamos de falta de gerenciamento das emoções. Quando a gente não consegue ter essa percepção ou essa capacidade de gerenciar as emoções sobre o que acontece ao nosso redor, vão surgir diversos sentimentos e mecanismos de defesa. E um desses mecanismos pode se transformar em uma neurose ou em uma depressão. É uma espécie de baixa polaridade. Esse indivíduo se recolhe e, de alguma forma, quer fugir daquela dor.
O que fazer diante de um quadro de tristeza persistente?
Neste caso, a reação deve ser sempre a busca pela psicoterapia. Em alguns casos, claro, se fazem necessários a entrada de medicamentos e o atendimento psiquiátrico. Mas, a psicoterapia não pode faltar nunca, para que o indivíduo comece a compreender os porquês de tudo isso que acontece com ele. Trata-se de uma oportunidade para que consiga mudar. É como Sigmund Freud costumava dizer: quando a dor de não estar vivendo for maior do que o medo da mudança, a pessoa muda. Partimos deste princípio: a gente tem que fazer essa caminhada dentro de nós mesmos. Afinal, viver triste, prostrado e mal-humorado não é legal para ninguém.
No que exatamente consiste o tratamento?
As perguntas que sempre faço aos meus pacientes são: onde você estava? Onde está agora? E onde quer chegar? Também é preciso questionar-se: quem você era? Quem você é agora? E quem você quer ser? Isso abre portas para novas descobertas e se revela como uma oportunidade de rever a vida. A depressão leve pode aparecer como uma espécie de primeira fase para um processo de depressão severa ou crônica. Isso porque o quadro pode se agravar e se tornar muito mais intenso. Tanto é que levamos em torno de dois anos, desde o aparecimento dos primeiros sintomas, para chegar ao diagnóstico de distimia.
Ainda há muita confusão sobre o que é depressão e quais são seus sinais e sintomas?
As pessoas ainda confundem muito a tristeza com a depressão. Apesar da aparente contradição, é importante saber que o indivíduo, para ser feliz, precisa ter tristeza. Só que essa tristeza tem dia, hora e local para surgir. E sair dela deve ser um processo natural, assim como entrar nela foi um processo natural. O processo depressivo, na verdade, só se agrava devido à proporção com a qual se vive essa tristeza. Quanto mais tempo o paciente leva para procurar ajuda, mais comprometido física e emocionalmente ele vai ficar. Às vezes, ele próprio não tem essa percepção. Vai indo, vai indo e, quando vê, já está totalmente tomado pelo problema.
(com Agência Brasil)