Pacientes que sofrem com os efeitos colaterais dos medicamentos utilizados atualmente no tratamento da doença de Chagas podem ganhar um alívio dentro de alguns anos. Pesquisadores brasileiros e alemães descobriram um novo complexo que apresentou bons resultados contra o Trypanosoma cruzi – parasita causador da doença. O trabalho, que foi publicado recentemente no periódico científico Dalton Transactions, foi realizado em parceria com pesquisadores da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, da USP em Ribeirão Preto e em São Carlos, e da Freie Universität Berlin, da Alemanha.
A substância foi desenvolvida a partir da união de duas moléculas: a tiossemicarbazona, um composto orgânico, e o ouro. No Trypanosoma cruzi, a tiossemicarbazona atravessa a membrana da célula e atua diretamente na forma amastigota (que não possui flagelo), considerada a mais resistente.
O novo composto criado por pesquisadores brasileiros e alemães inclui ouro em sua composição e se mostrou eficaz contra a Doença de Chagas, transmitida por barbeiro
De acordo com Carla Duque Lopes, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, uma das autoras do trabalho, sabe-se que a tiossemicarbazona inibe a cruzaína, uma enzima essencial para a sobrevivência do parasita. "O ouro, como metal, pode atuar desestruturando o DNA do Trypanosoma cruzi ou em alguma via da rota metabólica. A ideia é que o complexo metálico atue em múltiplos alvos contra ele. Entretanto, seu mecanismo de ação ainda precisa ser mais bem estudado", esclarece a pesquisadora.
O estudo também avaliou que é preciso usar pequenas quantidades do composto para matar o parasita. "Possivelmente, para um tratamento, a quantidade de composto pode ser menor que a administrada para o benznidazol [medicamento normalmente usado contra a Doença de Chagas]. Além disso, ele não perde suas propriedades quando em estado sólido. Isso permite transportá-lo sem a necessidade de resfriamento, o que é importante considerando que populações atingidas pela doença de Chagas nem sempre estão em locais de fácil acesso", completa Carla Lopes.
(com Jornal da USP)