"Hipocondria" alimentar: especialista alerta sobre os riscos de restringir alimentos de forma deliberada
Quando falamos em hábitos alimentares, logo vêm à memória as diversas dietas que conhecemos, desde as mais restritivas até as consideradas fáceis de serem implementadas. Afinal, todos os dias somos "bombardeados" por notícias e outros textos que circulam nas redes sociais abordando o assunto. Sempre há um "alimento da moda" e também os "vilões do momento" – aqueles que, teoricamente, deveríamos evitar, pois, supostamente, fazem mal à saúde.
Acontece que esse "festival" de informações, muitas vezes inverídicas (as chamadas fake news), pode causar vários problemas, entre eles, tornar as pessoas "hipocondríacas" da alimentação. Ou seja, muita gente cria, por conta própria, o hábito de deixar de consumir alimentos fundamentais para o bom funcionamento do organismo por acreditar que eles são nocivos.
Uma das provas de que esse comportamento negativo está se tornando cada vez mais comum é um levantamento realizado pela empresa britânica DNA Fit, especializada em nutrição, que aponta que um terço dos adultos da Grã-Bretanha pode ser considerado "hipocondríaco" alimentar. A empresa, inclusive, adotou o termo "nutricondríaco" para se referir a essas pessoas.
A pesquisa mostra, ainda, que 22% dos entrevistados acreditam que podem ter algum tipo de intolerância alimentar só porque ouviram celebridades falando sobre o assunto. No estudo da DNA Fit, 32% das pessoas que responderam ao questionário acreditam que são intolerantes a laticínios e 24% ao glúten. Isso sem consultar um especialista para comprovar o suposto problema.
Para a nutricionista Marina Wardi, diretora-secretária do Conselho Regional de Nutricionistas de Minas Gerais (CRN9), existe mesmo os chamados "hipocondríacos" da alimentação. Ela aponta o "culto ao corpo magro e sarado" e o mau uso das redes sociais como os principais fatores que desencadeiam o problema. "Muitas pessoas leigas, ou mesmo profissionais de saúde, postam informações sem fundamento científico sobre algum alimento ou dieta e essa informação é tomada como verdade absoluta por quem lê", comenta a especialista.
Ela ressalta que esses textos (fake news) que circulam na internet geralmente não mencionam que, como "cada pessoa possui sua individualidade, um alimento ou mudança de comportamento considerado benéfico para determinado indivíduo pode não ser para outro". Deste modo, ainda segundo a nutricionista, as pessoas não conseguem obter o resultado esperado e passam a se sentir frustradas. Com isso, mudam a alimentação de forma deliberada, o que pode levar aos transtornos alimentares.
Os "vilões"
Marina Wardi destaca os carboidratos, o glúten e a lactose como principais substâncias que as pessoas costumam retirar da dieta sem antes consultar um profissional. Mas, como ela alerta, a retirada deliberada desses produtos da alimentação pode provocar efeitos contrários às expectativas de quem deixa de comê-los, incluindo indisposição, aumento de peso repentino, reações alérgicas e, até mesmo, problemas psicológicos, como distanciamento social.
Para não cair nas armadilhas das informações perigosas que circulam nas redes sociais, a especialista recomenda que, antes de fazer qualquer tipo de dieta ou deixar de ingerir determinado alimento, é preciso sempre procurar ajuda especializada. "O primeiro passo é consultar com um nutricionista, pois, só assim, haverá uma orientação consciente e segura de como melhorar ou manter a saúde", diz. Ela lembra ainda que é necessário que todos tenham a consciência de que "ser magro não é sinônimo de saúde, nem de beleza".
A diretora-secretária do CRN9 reforça também a importância de se manter o prazer em comer. "Devemos nos basear na nossa diversidade e cultura alimentares. Então, nada de restrições drásticas"