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Especialistas alertam que zika e chikungunya podem ser ameaça no Verão

As doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti já causaram surtos no Brasil em 2016

Da redação com Agência Brasil - Publicação:20/08/2018 17:33

O fim do ano está chegando e, com ele o Verão, estação que traz a promessa de chuvas intensas. Apesar do alívio climático, especialistas alertam que o Brasil pode voltar a sofrer com epidemias de zika e chikungunya. Ainda que tenha sido registrada redução da incidência de casos das duas doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti este ano, elas podem voltar a ter força a partir de dezembro de 2018 ou janeiro de 2019, quando já terá passado o período da primeira onda de surto em alguns estados.

 

Segundo Carlos Brito, pesquisador colaborador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Pernambuco, o país se dedicou mais nos últimos dois anos ao estudo dos impactos do zika, devido ao surto e à perplexidade causada pelos casos de microcefalia em bebês. Ele ressalta, no entanto, que mesmo assim o Brasil continua despreparado para atender novos casos das arboviroses, principalmente de chikungunya.

 

"Na verdade, deixou-se um pouco de lado a chikungunya que, para mim, é a mais grave das arboviroses. E as pessoas geralmente nem têm ciência da gravidade, nem estão preparadas para conduzir a chikungunya. É uma doença que na fase aguda não só leva a casos graves, inclusive fatais, mas deixa um contingente de pacientes crônicos, que estão padecendo há quase dois anos com dores, afastamento das atividades habituais de trabalho, lazer e vida social", explica Carlos Brito em entrevista para a Agência Brasil.

 

O pesquisador diz ainda que a incidência das doenças transmitidas pelo Aedes deve variar por região. Os estados que tiveram muitas pessoas infectadas no início do surto em 2016, como os do nordeste, poderão ficar imunes por mais um tempo. No entanto, muitos municípios ainda têm a probabilidade de enfrentar novos surtos, como o Rio de Janeiro, que recentemente registrou vários casos de arboviroses.

 

"No Brasil tudo toma uma dimensão muito grande, porque é um país de dimensão continental. Então, não estamos preparados, nem os profissionais de saúde foram treinados, nem estamos tendo a dimensão da intensidade da doença, nem as instituições estão atentas para uma epidemia de grandes proporções em um estado como São Paulo, com 40 milhões de habitantes, ou no Rio de Janeiro, com 20 milhões", alerta Brito.

 (Wikimedia/Muhammad Mahdi Karim/Reprodução)
 

Redução

 

Segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, divulgado na sexta, dia 17 de agosto, de janeiro até 28 de julho deste ano foram registrados 63.395 casos prováveis de febre chikungunya no país. O resultado é menos da metade do número de casos reportados no mesmo período do ano passado, quando foram 173.450 doentes. Em 2016, tivemos 278 mil casos.

 

Mais da metade, ou seja, 61% dos casos reportados este ano, estão concentrados na região sudeste. Em seguida, aparece o centro-oeste (21%), o nordeste (13%), norte (7%) e sul (0,35%).

 

Nos primeiros sete meses de 2018 foram confirmadas 16 mortes por chikungunya. No mesmo período do ano passado, 183 pessoas morreram pela arbovirose. A redução no número de óbitos foi de 91,2%. Já em relação ao vírus da zika, em todo o país foram registrados 6.371 casos prováveis e duas mortes até o fim de julho. No ano passado, essa febre tinha infectado mais de 15 mil pessoas no mesmo período. A maior incidência de zika este ano também está concentrada no sudeste (39%), seguida pela região nordeste (26%).

 

 

Ameaça

 

Apesar da redução da incidência, o pesquisador Luiz Tadeu Moraes Figueiredo, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, também alerta que, depois do período de seca em que há baixa circulação dos vírus, essas arboviroses podem voltar a qualquer momento, assim como já ocorreu com a dengue e com a febre amarela.

 

"Não estamos tendo uma epidemia. Estamos tendo casos esporádicos. Mas ainda é um problema que pode voltar, sim. As arboviroses são assim mesmo, dengue, zika... Todas elas têm momentos em que desaparecem, depois voltam. O vírus está aí, está no Brasil, e ainda é uma ameaça. Ele pode voltar agora, inclusive, neste verão. O risco está aí", comenta o professor à Agência Brasil.

 

Luiz Figueiredo afirma que permanece o desafio de diagnosticar com precisão o zika em tempo de prevenir suas consequências. Apesar dos avanços nas pesquisas nos últimos anos, ainda não foi desenvolvida uma forma de detecção rápida desse vírus que possa ser disponibilizada em todo o país, disse o pesquisador.

 

"A dificuldade continua. A gente descobriu algumas coisas que podem ajudar o diagnóstico, mas o problema não está resolvido ainda. O mais eficaz é você encontrar o vírus, isolar é mais complicado. Ou você encontrar o genoma do vírus ou alguma proteína dele na fase aguda seria muito útil, aí você pode detectar na mulher, se estiver grávida inclusive", diz o pesquisador.

 

Para os especialistas, o ideal para prevenir o impacto de novos surtos seria desenvolver uma vacina. Contudo, eles lamentam que essa solução ainda está longe de ser concretizada. Enquanto isso, o foco ainda está no controle do mosquito transmissor dos vírus. "As pessoas devem ficar atentas e controlar o vetor nas suas casas e, assim, evitar a transmissão. É a única [solução] que nós temos nesse momento", orienta Luiz Figueiredo.

 

(com Agência Brasil)

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