Karla Calasanscriou o espetáculo para cantar a história de Dulcinea, musa de Don Quixote
O silêncio prevaleceu na vida de Dulcinea Del Toboso, a dama sem-par de Dom Quixote de La Mancha, durante quatro séculos. Ela permaneceu 411 anos presa ao mundo dos sonhos, da imaginação e das ideais do cavaleiro andante, até decidir falar e se expressar. A partir da música, a senhora do cativo coração faz ressoar angústias, dúvidas, amores e outros tantos sentimentos e questionamentos silenciados. Esse é o enredo do espetáculo Nos En(tre)cantos de Dulcinea Del Toboso ou Dulcinea em Cantata, da atriz Karla Calasans. A dramaturgia do espetáculo é resultado do trabalho de pesquisa de mestrado da atriz, defendido em junho de 2010, junto ao Departamento de Literatura da Universidade de Brasília (sob a orientação do professor André Luís Gomes). Momento em que Karla decidiu estudar o porquê do silêncio de Dulcinea em Dom Quixote.
A montagem percorre os pensamentos de Dulcinea. Mergulhada na cova de Montesinos, ela procura encontrar explicações a respeito de quem ela realmente é. Seria a dama apenas fruto da criatividade de Dom Quixote? Seria uma farsa? Ou seria simplesmente amada pelo conjunto de fórmulas e códigos que lhe caracterizam como mulher? Das muitas possibilidades, Karla Calasans idealizou e concebeu esse espetáculo para cantar os recantos e os encantos de Dulcinea Del Toboso, personagem criada no imaginário de Dom Quixote e que ganha vida a partir dos seus reais questionamentos.
A ausência de som, que lhe fez companhia durante tanto tempo, passa a ser, no espetáculo, o elemento que a dama sem-par precisava para iniciar a sua aventura. Ela se descobre encantada pela possibilidade de ser outras e de ir além do ideal de Dom Quixote. "Ela não quer mais ser uma mulher silenciada ", explica Karla Calasans. Ela é “a fenda no guarda-sol”, como a própria atriz afirma ao citar o fragmento abaixo de Deleuze e Gattari:
A peça integra a Primeira Mostra Artística Funarte em Espaços Cênicos Alternativos
"Os homens não deixam de fabricar um guarda-sol que os abriga, por meio do qual traçam um firmamento e escrevem suas convenções, suas opiniões; mas o poeta, o artista abre uma fenda no guarda-sol, rasga até o firmamento, para fazer passar um pouco de caos livre e tempestuoso e enquadrar numa luz brusca, uma visão que aparece através da fenda (...). Será preciso sempre outros artistas para fazer outras fendas, operar as necessárias destruições, talvez cada vez maiores, e restituir assim, a seus predecessores, a incomunicável novidade que não mais se pode ver”.
Assim, Dulcinea Del Toboso rasga, com expressividade e emoção, a quietude de quatro séculos e leva, com ela, os espectadores.
O espetáculo teve sua estreia em setembro de 2015. E neste ano estará de volta nos meses de agosto e setembro, no Teatro Goldoni, de quinta à domingo. Essa nova temporada vem para integrar a Primeira Mostra Artística Funarte em Espaços Cênicos Alternativos do Distrito Federal.
Serviço:Data: 26, 27 e 28 de agosto e 1, 2 e 3 de setembro (Quinta, sexta e sábado às 20h e domingo às 19h)