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CCBB recebe mostra com mais 90 de obras sobre o continente africano

Obras revelam a história e o atual momento de um continente que, ao mesmo tempo em que tenta se reconstruir da ferida causada por séculos de tráfico negreiro e de colonização, volta a expandir as suas cores e cultura para outras fronteiras

Da redação com Assessorias - Redação Publicação:15/08/2018 15:42Atualização:15/08/2018 15:58

O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) recebe, até o dia 21 de outubro, a mostra de arte contemporânea Ex África, com mais de 90 obras que revelam a história e o atual momento de um continente que, ao mesmo tempo em que tenta  se reconstruir da ferida causada por séculos de tráfico negreiro e de colonização, volta a expandir as suas cores e cultura para outras fronteiras. São esculturas, fotografias, instalações, performances, pinturas e vídeos assinados por 20 artistas.  A entrada é gratuita.  

 

Nomes como os do ganês Ibrahim Mahama – que montará uma gigantesca instalação no Pavilhão de Vidro do CCBB Brasília –; do provocativo retratista senegalês Omar Victor Diop, do fotógrafo e ativista zimbabuano Kudzanai Chiurai e de outros 15 artistas de oito países africanos se juntarão aos de dois brasileiros: o carioca Arjan Martins e o brasiliense Dalton Paula.

 

Arjan e Dalton possuem obras dedicadas à herança africana na cultura brasileira. Para isso, realizaram estudos no Brazilian Quarter, bairro localizado na capital nigeriana construído por brasileiros que retornaram ao continente após a abolição da escravatura, no final do século XIX.

 (Divulgação )
 

O brasiliense Dalton de Paula, aliás, tem conquistado destaque internacional com seu trabalho que remonta à realidade dos afrodescendentes no Brasil. É, por exemplo, o único representante do país na edição deste ano do Trienal do New Museum, uma das maiores mostras de artes visuais de Nova Iorque. “Em seus quadros acreditamos ouvir o som do sosso-bala, o lendário xilofone da Guiné, que há 800 anos anuncia rapto e derramamento de sangue, mas também a recuperação de uma inocência perdida”, comenta o curador da exposição, Alfons Hug.

 

Ex-diretor do Instituto Goethe em Lagos, na Nigéria, período em que realizou diversos estudos sobre a arte contemporânea do continente, Hug acrescenta que exposição acontece num momento em que a herança africana volta a estar em evidência no Brasil. “Existe uma maior valorização da arte africana e afro-brasileira, porque a presença negra nessa cultura vem aumentando em quase todas as áreas. Além disso, os artistas africanos consideram o Brasil um país irmão e o intercâmbio cultural vem se intensificando aos poucos", destaca o curador.

 

Hug explica ainda que o conceito da mostra vem da frase Ex Africa semper aliquid novi (da África sempre há novidades a reportar), cunhada há mais de 2 mil anos pelo escritor romano Caio Plínio. A Ex Africa é dividida em quatro eixos: Ecos da História, Corpos e Retratos, O Drama Urbano e Explosões Musicais. “A interseção desses eixos mostra que o continente africano vive um contínuo e                efervescente processo de renovação criativa e artística”, sublinha.        

 

Tradição e modernidade

Uma crítica ácida ao colonialismo e ao tráfico de escravos estão em Ecos da História, primeira parte da exposição. Nela, destaca-se uma instalação formada por objetos do tempo do comércio de escravos (algemas, ferros de marcar, moedas, mandados de captura). Assinada pela artista nigeriana Ndidi Dike, a obra propõe uma obscura viagem no tempo, época impiedosa, marcada pelo sofrimento humano e pela cobiça.

 

 (Divulgação)

As obras sugerem ainda uma reflexão amarga sobre a relação entre a pobreza, o desemprego, as recentes migrações e aspectos relacionados aos tempos dos navios negreiros. Não deixam de lembrar as imposições de uma cultura religiosa ocidental e herança colonial, evidenciada na série de fotografias de Leonce Raphael Agbodjelou, artista do Benim. Em parte de sua obra, ele evoca o Code Noir, decreto em que a administração colonial francesa da África Ocidental regulava a escravatura.

 

Cosmópoles

 

Paisagens desoladoras, ordem e caos, modernidade e ruínas. Esses e tantos outros contrates das metrópoles africanas estão nas obras de O Drama Urbano. Um dos destaques vai para a videoinstalação Ponte City, nome de um arranha-céu no centro de Joanesburgo. Assinada pelos artistas Mikhael Subotsky e Patrick Waterhouse, a obra é composta por 12 janelas digitais que simulam a vista do edifício marcado por histórias de decadência e gentrificação.

 

Karo Akpokiere, nascido em Lagos (maior cidade da Nigéria e uma das maiores do mundo) assina ilustrações, com fortes elementos da cultura pop, que fazem uma sátira à miríade de anúncios publicitários que invadem diariamente a megalópole e refletem modismos, o mercado e suas desigualdades, a política e negociatas de toda natureza.

 

Cabelos trançados que lembram delicadas esculturas; retratos com ares ironicamente pomposos remetem a notáveis africanos que atuaram na Europa entre os séculos XVI e XIX. A força expressiva da estética corporal está nas fotografias, vídeos e instalações de Corpos e Retratos, recorte que traz os famigerados autorretratos do senegalês Omar Victor Diop e a série Hairdo Revolution (revolução do penteado), com fotografias em preto e branco do nigeriano J. D. Okhai Ojeikere.

 

Outro destaque do eixo Corpos e Retratos é a arte multifacetada do angolano Nástio Mosquito. Por meio de vídeos, performances, música experimental, instalações e poesia, o artista levanta questões em torno da fé, identidade, herança colonial, entre outros temas. “Para onde queremos ir? O que queremos construir?”, ele pergunta. “Não seja cool, seja relevante. E se conseguir ser cool de maneira relevante, melhor ainda”, diz. Na mostra ele apresenta uma videoinstalação da música Hilário.

 

 

Galerias musicais

Do afrobeat de Fela Kuti, ao pop nigeriano, Explosões Musicais transforma uma das galerias de “Ex Africa” no “Clube Lagos”. Poder, sexo, riqueza e religião são temas habituais da música africana e ganham relevância nesta sala onde os clichês da world music dão lugar à autenticidade do Naija Pop. O New Afrika Shrine, de Femi Kuti, muito popular na cena nigeriana, também está entre os destaques.      

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