Excesso de sal matou 2,3 milhões em 2010

Consumo exagerado de sódio representou 15% dos óbitos por infartos, AVC e outras doenças do coração. Ingestão não deve passar de 2g diários

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Bruna Sensêve - Correio Braziliense Publicação:22/03/2013 13:20Atualização:22/03/2013 14:08
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Pesquisadores da Escola de Saúde Pública de Harvard, em Boston, nos Estados Unidos, estimam que cerca de 2,3 milhões de pessoas morreram em 2010, em todo o mundo, por doenças relacionadas à ingestão exagerada de sal. O número corresponde a 15% do total de óbitos por infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e outras doenças cardíacas registrados naquele ano no planeta. Os números assustadores são consequência da altíssima ingestão do ingrediente. Em uma segunda análise, o grupo concluiu que 75% da população mundial consome quase o dobro da recomendação diária de sódio. Os dados foram apresentados ontem nas Sessões Científicas de 2013 em Epidemiologia, Prevenção, Nutrição, Atividade Física e Metabolismo, da Associação Americana do Coração, nos Estados Unidos. A equipe responsável pelo levantamento é a mesma que, na terça-feira, associou o consumo de bebidas açucaradas a 183 mil mortes em 2010.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cada pessoa deve ingerir no máximo 2g de sódio por dia, quantidade encontrada em 5g de sal. A Associação Americana do Coração (AHA, em inglês) é ainda mais restritiva, e recomenda que essa taxa de consumo atinja no máximo 1,5g. O autor sênior da pesquisa, Darius Mozaffarian, codiretor do Programa em Epidemiologia Cardiovascular e professor de medicina e epidemiologia na Universidade de Harvard, afirma que a média de consumo no mundo é de 4g diários. A variação entre os países é muito grande. As menores taxas de ingestão estão em países africanos, como Quênia (1,5g por dia), Malauí (1,5g) e Ruanda (1,6g), enquanto o Cazaquistão superou os outros 186 países estudados, com uma ingestão per capita de 6g por dia.

No entanto, o país com a maior taxa não está muito distante da maioria. As populações de quase 100% das nações avaliadas ultrapassam a recomendação da OMS, sendo que 88% têm uma média de consumo de 1g acima do limite sugerido pela entidade. Para obter esses dados, os cientistas usaram 247 pesquisas prévias sobre o uso de sódio no mundo. Os métodos utilizados nesses estudos vão desde a avaliação do cardápio de voluntários à análise de amostras de urina recolhidas por 24 horas.

Pressão alta
O consumo excessivo de sódio provoca aumento da pressão arterial, um dos principais fatores para o desenvolvimento de doença cardiovascular e AVC. Essa relação levou os cientistas a buscarem dados ainda mais abrangentes, correlacionando os índices de ingestão de sal com os óbitos registrados nos diversos países. A coleta desses dados levou ao número de 2,3 milhões de mortes em 2010, sendo 42% delas por infarto, 41% por AVC e 17% por outras complicações cardíacas. Um fator chama ainda mais a atenção: 40% desses óbitos ocorreram prematuramente, em pessoas com até 69 anos.

Esses resultados fornecem a evidência mais forte até agora sobre o impacto global e específico para cada país do excesso de sódio no desenvolvimento das doenças cardiovasculares. “Esperamos que nossos resultados influenciem os governos nacionais a desenvolver intervenções de saúde pública para reduzir o sódio no cardápio das pessoas”, afirmam os pesquisadores. Para a chefe do Departamento de Epidemiologia da Universidade do Alabama, Donna Arnett, os dados representam um grande passo na prevenção, uma vez que o alto consumo de sódio pode ser controlado.
“O aumento da pressão sanguínea nas nossas artérias significa que nosso coração tem de trabalhar mais duro para bombear o sangue. O que significa um trabalho mais complicado nas veias sanguíneas de todo o corpo, que fica mais suscetível a um AVC”, detalha a médica. Donna considera uma tarefa difícil, mas ressalta a importância de as pessoas cortarem o sódio lentamente. “Suas papilas gustativas vão pedir por sódio, então seja paciente.”

Ralph Sacco, professor de neurologia, epidemiologia e saúde pública da Universidade de Miami, também reconhece a dificuldade existente na diminuição do consumo de sódio pelas pessoas, já que o elemento compõe muitas comidas processadas e pré-prontas presentes no cardápio da população urbana mundial. “A primeira coisa que eu falo aos meus pacientes é : ‘Por favor, não adicionem mais sódio ou sal com o saleiro’. A segunda é para colocarem mais vegetais e frutas frescas e menos alimentos processados na dieta”, enumera Sacco. Sua terceira recomendação é a leitura dos rótulos. “Todos precisamos estar conscientes da quantidade de sódio nos alimentos que compramos no supermercado.” Ele considera que o mais importante é fazer a conta básica de quantos miligramas de sódio há em cada porção e quanto pode ser ingerido por dia.

“Se você pega um pacote que está escrito 0,3g ou 0,5g por porção, é melhor evitar esse produto. Muitas vezes é difícil fazer isso sozinho, mas é possível usar calculadoras portáteis em que você registra tudo que come”, sugere. “Lembre-se que você só tem 1,5g para o dia inteiro. Controlando o consumo de sódio, conseguiremos diminuir a hipertensão. Isso significa menos AVCs e doenças cardiovasculares.”

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