Menopausa chega antes dos 40 anos para 1% da população feminina adulta
Irregularidade menstrual, ondas de calor, alteração no humor e insônia, em mulheres antes dos 40 anos, podem sinalizar que o fim da fase reprodutiva chegou antes do esperado
Celina Aquino
Publicação:26/03/2013 09:05Atualização: 15/04/2013 10:31
Toda mulher sabe que o fim da fase reprodutiva vai chegar. Difícil é aceitar quando os ovários param de funcionar antes do esperado. Estima-se que 1% da população feminina adulta entre em menopausa antes dos 40 anos, o que caracteriza a falência ovariana prematura. O prejuízo é certo para quem ainda planejava ter filhos, mas as consequências vão além da infertilidade. Por causa da baixa produção de estrógeno – hormônio protetor do coração e dos ossos –, aumenta-se o risco de doenças cardiovasculares e osteoporose, assim como o envelhecimento precoce. Especialistas garantem que a reposição hormonal, quando não for contraindicada, ajuda a mulher a passar por essa fase com tranquilidade.
Primeiro vem a irregularidade menstrual, depois podem surgir os mesmos sintomas da menopausa na idade normal, que ocorre entre os 40 e 58 anos, como ondas de calor, alteração de humor e insônia. O problema é que dificilmente uma jovem vai associar os sinais com a falência ovariana prematura. Por isso, mulheres com menos de 40 anos que estão sem menstruar há pelo menos quatro meses devem procurar um médico o quanto antes. Para chegar ao diagnóstico, é necessário fazer a dosagem de hormônios, principalmente o FSH (ver arte), em dois meses consecutivos. Também é usual confirmar a suspeita com ultrassonografia, que mostra o volume dos ovários. Como entram em processo de atrofia, já que param de trabalhar, os órgãos diminuem tanto de tamanho que quase não são visualizados.
“É imperativo que a menopausa precoce seja tratada para prevenir as complicações, que também podem aparecer antes da hora”, alerta a chefe da clínica de endocrinologia da Santa Casa de Belo Horizonte e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), Maria Regina Calsolari. Durante a fase reprodutiva, o hormônio feminino impede que os ossos esfarelem e ajudam a proteger o sistema cardiovascular. Além de afastar a possibilidade de osteoporose, infarto e acidente vascular cerebral, o tratamento vai reverter o quadro de atrofia genital, em que a vagina fica seca com a perda de estrogênio e progesterona, responsáveis pela lubrificação.
Para tratar a falência ovariana prematura, Maria Regina indica a reposição hormonal, que influencia também no bem-estar e sexualidade da mulher. Não há confirmação científica de que repor hormônios por um período mais longo pode aumentar o risco de câncer de mama. O que se sabe é que em alguns casos a terapia não pode ser usada. Mulheres sedentárias, com diagnóstico de câncer, histórico familiar de infarto precoce ou pressão, colesterol e triglicérides altos devem ser orientadas a seguir outro tipo de tratamento. “O médico tem que estar atento para reverter isso de outra forma, incentivando a paciente a fazer exercício físico para trabalhar o aparelho cardiovascular e repor cálcio e vitamina D na ingestão de alimentos ou com uso de medicamentos”, esclarece a endocrinologista.
DÚVIDAS E SONHO ADIADO
Em média, a menopausa chega aos 51 anos, mas independentemente da idade ela representa uma transição marcante na vida da mulher. Será que a pele vai ficar ressecada? Posso ter dificuldade para dormir ou sentir menos apetite sexual? Tenho mais chance de desenvolver depressão? Cheias de dúvidas, muitas têm receio de parar de menstruar. “Quando descobrem o diagnóstico aos 30 anos, é desesperador. Chegam ao consultório com 10 dosagens do hormônio FSH, porque não se conformam com o fato de que os ovários pararam de funcionar. Elas acham que a vida acabou” relata a médica do Instituto Paulista de Ginecologia, Obstetrícia e Reprodução Assistida (IPGO), em São Paulo, e membro da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) Amanda Barreto Volpato Alvarez.
Como a gravidez passa a ser um sonho cada vez mais adiado, o diagnóstico de menopausa precoce vira um drama na vida da mulher atual. A falência dos ovários realmente é um processo irreversível, mas os médicos podem encontrar uma solução para a maternidade quando o diagnóstico chega a tempo. Se os exames mostram que ainda há uma reserva de óvulos, a paciente vai ser orientada a engravidar com urgência ou considerar a possibilidade de congelar as células reprodutivas, com o objetivo de preservar a fertilidade. Amanda pontua, no entanto, que na maioria das vezes a mulher com falência ovariana prematura recorre ao tratamento de fertilização in vitro com óvulos de doadora para ter filhos.
A ginecologista Ana Lucia Valadares, membro da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), explica que a menopausa precoce pode ter causa primária ou secundária. Do primeiro grupo fazem parte os casos relacionados a doenças autoimunes (hipotireoidismo autoimune e lupus sistêmico levam os anticorpos a destruir precocemente os ovários), doenças crônicas como insuficiência renal, endometriose, além de origem genética. Entre as causas secundárias estão radioterapia, quimioterapia e tabagismo. Segundo Ana Lucia, existe a suspeita de que outras substâncias tóxicas, como pesticidas encontrados nos alimentos, também podem levar a uma destruição dos ovários. O mais comum, na verdade, é a falência ovariana prematura ter causa indefinida.
Na maioria dos casos, não há como evitar que a menopausa chegue antes da hora, mas a ginecologista da Sogimig aponta uma medida que pode retardar o processo de atrofia dos ovários. "A prevenção mais fácil é parar de fumar", destaca.
SEMPRE HÁ ESPERANÇA
Ana, de 32 anos*
Ela prefere não revelar a identidade. Recentemente diagnosticada com falência ovariana prematura, a paulista de 32 anos teve um caminho difícil nos últimos 15 anos. Aos 17 anos, descobriu que tinha endometriose e passou por seis cirurgias. A última, em agosto do ano passado, foi feita para tirar um ovário, duas trompas e 20 centímetros de intestino. Por isso, sempre soube que teria dificuldade para engravidar. “Os médicos sempre me disseram que endometriose é a maior causa de infertilidade, mas nunca deixei de acreditar. Mesmo tendo a comprovação no exame antimulleriano, não perdi a esperança. Continuava acreditando que poderia ocorrer um milagre”, conta Ana*. Apesar de ter demorado para aceitar a menopausa precoce, ela não desistiu de ser mãe e viu nos óvulos de uma doadora desconhecida a oportunidade de superar o problema e realizar seu maior sonho: ter um bebê. “Já passei por muita dor, chorei muito, conversei com Deus de diversas maneiras. Ficava depressiva, irritada e feliz no mesmo dia, passei por muito estresse mesmo.” Ela conseguiu o que mais queria, engravidar, mas perdeu a criança, no início da gestação. Sem perder as esperanças, diz que vai tentar novamente. E também considera a possibilidade de adotar uma criança.
* Nome fictício a pedido da entrevistada
Toda mulher sabe que o fim da fase reprodutiva vai chegar. Difícil é aceitar quando os ovários param de funcionar antes do esperado. Estima-se que 1% da população feminina adulta entre em menopausa antes dos 40 anos, o que caracteriza a falência ovariana prematura. O prejuízo é certo para quem ainda planejava ter filhos, mas as consequências vão além da infertilidade. Por causa da baixa produção de estrógeno – hormônio protetor do coração e dos ossos –, aumenta-se o risco de doenças cardiovasculares e osteoporose, assim como o envelhecimento precoce. Especialistas garantem que a reposição hormonal, quando não for contraindicada, ajuda a mulher a passar por essa fase com tranquilidade.
Primeiro vem a irregularidade menstrual, depois podem surgir os mesmos sintomas da menopausa na idade normal, que ocorre entre os 40 e 58 anos, como ondas de calor, alteração de humor e insônia. O problema é que dificilmente uma jovem vai associar os sinais com a falência ovariana prematura. Por isso, mulheres com menos de 40 anos que estão sem menstruar há pelo menos quatro meses devem procurar um médico o quanto antes. Para chegar ao diagnóstico, é necessário fazer a dosagem de hormônios, principalmente o FSH (ver arte), em dois meses consecutivos. Também é usual confirmar a suspeita com ultrassonografia, que mostra o volume dos ovários. Como entram em processo de atrofia, já que param de trabalhar, os órgãos diminuem tanto de tamanho que quase não são visualizados.
“É imperativo que a menopausa precoce seja tratada para prevenir as complicações, que também podem aparecer antes da hora”, alerta a chefe da clínica de endocrinologia da Santa Casa de Belo Horizonte e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), Maria Regina Calsolari. Durante a fase reprodutiva, o hormônio feminino impede que os ossos esfarelem e ajudam a proteger o sistema cardiovascular. Além de afastar a possibilidade de osteoporose, infarto e acidente vascular cerebral, o tratamento vai reverter o quadro de atrofia genital, em que a vagina fica seca com a perda de estrogênio e progesterona, responsáveis pela lubrificação.
Para tratar a falência ovariana prematura, Maria Regina indica a reposição hormonal, que influencia também no bem-estar e sexualidade da mulher. Não há confirmação científica de que repor hormônios por um período mais longo pode aumentar o risco de câncer de mama. O que se sabe é que em alguns casos a terapia não pode ser usada. Mulheres sedentárias, com diagnóstico de câncer, histórico familiar de infarto precoce ou pressão, colesterol e triglicérides altos devem ser orientadas a seguir outro tipo de tratamento. “O médico tem que estar atento para reverter isso de outra forma, incentivando a paciente a fazer exercício físico para trabalhar o aparelho cardiovascular e repor cálcio e vitamina D na ingestão de alimentos ou com uso de medicamentos”, esclarece a endocrinologista.
DÚVIDAS E SONHO ADIADO
Em média, a menopausa chega aos 51 anos, mas independentemente da idade ela representa uma transição marcante na vida da mulher. Será que a pele vai ficar ressecada? Posso ter dificuldade para dormir ou sentir menos apetite sexual? Tenho mais chance de desenvolver depressão? Cheias de dúvidas, muitas têm receio de parar de menstruar. “Quando descobrem o diagnóstico aos 30 anos, é desesperador. Chegam ao consultório com 10 dosagens do hormônio FSH, porque não se conformam com o fato de que os ovários pararam de funcionar. Elas acham que a vida acabou” relata a médica do Instituto Paulista de Ginecologia, Obstetrícia e Reprodução Assistida (IPGO), em São Paulo, e membro da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) Amanda Barreto Volpato Alvarez.
Como a gravidez passa a ser um sonho cada vez mais adiado, o diagnóstico de menopausa precoce vira um drama na vida da mulher atual. A falência dos ovários realmente é um processo irreversível, mas os médicos podem encontrar uma solução para a maternidade quando o diagnóstico chega a tempo. Se os exames mostram que ainda há uma reserva de óvulos, a paciente vai ser orientada a engravidar com urgência ou considerar a possibilidade de congelar as células reprodutivas, com o objetivo de preservar a fertilidade. Amanda pontua, no entanto, que na maioria das vezes a mulher com falência ovariana prematura recorre ao tratamento de fertilização in vitro com óvulos de doadora para ter filhos.
A ginecologista Ana Lucia Valadares, membro da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), explica que a menopausa precoce pode ter causa primária ou secundária. Do primeiro grupo fazem parte os casos relacionados a doenças autoimunes (hipotireoidismo autoimune e lupus sistêmico levam os anticorpos a destruir precocemente os ovários), doenças crônicas como insuficiência renal, endometriose, além de origem genética. Entre as causas secundárias estão radioterapia, quimioterapia e tabagismo. Segundo Ana Lucia, existe a suspeita de que outras substâncias tóxicas, como pesticidas encontrados nos alimentos, também podem levar a uma destruição dos ovários. O mais comum, na verdade, é a falência ovariana prematura ter causa indefinida.
Na maioria dos casos, não há como evitar que a menopausa chegue antes da hora, mas a ginecologista da Sogimig aponta uma medida que pode retardar o processo de atrofia dos ovários. "A prevenção mais fácil é parar de fumar", destaca.
SEMPRE HÁ ESPERANÇA
Ana, de 32 anos*
Ela prefere não revelar a identidade. Recentemente diagnosticada com falência ovariana prematura, a paulista de 32 anos teve um caminho difícil nos últimos 15 anos. Aos 17 anos, descobriu que tinha endometriose e passou por seis cirurgias. A última, em agosto do ano passado, foi feita para tirar um ovário, duas trompas e 20 centímetros de intestino. Por isso, sempre soube que teria dificuldade para engravidar. “Os médicos sempre me disseram que endometriose é a maior causa de infertilidade, mas nunca deixei de acreditar. Mesmo tendo a comprovação no exame antimulleriano, não perdi a esperança. Continuava acreditando que poderia ocorrer um milagre”, conta Ana*. Apesar de ter demorado para aceitar a menopausa precoce, ela não desistiu de ser mãe e viu nos óvulos de uma doadora desconhecida a oportunidade de superar o problema e realizar seu maior sonho: ter um bebê. “Já passei por muita dor, chorei muito, conversei com Deus de diversas maneiras. Ficava depressiva, irritada e feliz no mesmo dia, passei por muito estresse mesmo.” Ela conseguiu o que mais queria, engravidar, mas perdeu a criança, no início da gestação. Sem perder as esperanças, diz que vai tentar novamente. E também considera a possibilidade de adotar uma criança.
* Nome fictício a pedido da entrevistada