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Academia nos EUA cria espaço de atividade física exclusivo para clientes com sobrepeso

Especialistas dizem que, muitas vezes, ambientes causam constrangimento em obesos

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Luciane Evans Publicação:14/04/2013 11:57Atualização:14/04/2013 12:16
Com atendimento individualizado, Mateus Magalhães conseguiu emagrecer 13 quilos em dois meses (Beto Magalhães/EM/DA Press)
Com atendimento individualizado, Mateus Magalhães conseguiu emagrecer 13 quilos em dois meses
Na teoria, uma academia de ginástica tem como público-alvo aqueles que estão preocupados com a saúde, querem perder medidas ou o excesso de peso. Mas, na prática, a história é outra. Na maioria das vezes, desfilam por ali corpos malhados e aqueles que precisam perder alguns quilinhos. Mas, se os brasileiros estão cada vez mais obesos, onde estariam, então, aqueles que deveriam estar ocupando as esteiras, as salas de spinning e aulas de abdominal? Especialistas respondem que a ausência dessas pessoas se deve, muitas vezes, a constrangimentos e falta de estrutura específica para um público que sofre de obesidade.

Pensando nisso, empresários nos Estados Unidos criaram uma academia destinada para aqueles que estão, pelo menos, 22 quilos acima do recomendável. Por aqui, esses clientes têm buscado lugares com atendimento mais personalizado para suar a camisa e garantem que estão alcançando suas metas com mais prazer.

Quem está muito acima do peso, muitas vezes, tem dificuldades em lidar com a imagem, principalmente em lugares onde o corpo magro e sarado é tão cultuado. No consultório da psicóloga mineira, especialista em obesidade e transtornos alimentares pela Universidade de São Paulo (USP), Fernanda Kalil, a reclamação é constante. “Ouço todos os dias meus clientes dizerem que academia é lugar de magro.” Ela explica que um obeso tenta esconder o corpo o dia inteiro, muitas vezes nem se olhando ao espelho. “Aí, ele vai para uma academia, onde o corpo é o foco, e se sente, muitas vezes, constrangido e desanimado com o exercício.”

Fernanda lembra que, infelizmente, há muitos desafios impostos aos que estão acima do peso, que hoje, correspondem, de acordo com dados do Ministério da Saúde, a quase metade da população brasileira. “Você entra em um avião e não há espaço para o obeso. O mesmo ocorre com os cinemas. Recentemente, na Ilha de Samoa, no Oceano Pacífico, uma companhia área resolveu cobrar o preço da passagem de acordo com o peso do passageiro”, critica.

DISCRIMINAÇÃO

A especialista destaca que, muitas vezes, em academias há até preconceito com a obesidade. É aí que o caminho para a vida saudável para esse público vai ficando cada vez mais difícil, já que a atividade física é de extrema importância para o tratamento da doença. “Eles precisam se sentir incluídos. Se são excluídos em aviões, imagina em uma academia? A ideia nos EUA é interessante, porque terá profissionais voltados para atender a necessidade desses clientes. Aí, eles passam a ter motivação”, opina.

Margarida Albeny de Matos Silva, de 81 anos, frequenta a Academia da Cidade na Região Centro-Sul de BH e diz que se sente bem cuidada (Jair Amaral/EM/DA Press)
Margarida Albeny de Matos Silva, de 81 anos, frequenta a Academia da Cidade na Região Centro-Sul de BH e diz que se sente bem cuidada
Essa vontade de alcançar metas o universitário Mateus Magalhães Ribeiro, de 24 anos, conseguiu com um atendimento mais personalizado. Ele pesava 135 quilos e, em dois meses, perdeu 13 quilos. Foi na Efeito Personal, localizada no Bairro de Lourdes, na Região Centro-Sul, que ele se sentiu melhor para conquistar o que queria. No espaço, que é um studio, o público é mais limitado e o atendimento mais individualizado. “Frequentava outras academias em que me davam uma ficha e pronto. Não tinha ânimo de continuar”, reclama.

Mateus reconhece que muitos ambientes para atividade física não são feitos para os que estão com sobrepeso. “Aqui, entrei com uma meta e eles vão me acompanhando de perto. Os profissionais me conhecem pelo nome, não me sinto mais um número. A minha meta ainda é emagrecer 20 quilos no total. Estou animado”, confessa, avaliando que se houvesse em Belo Horizonte uma academia específica para os obesos, a demanda pelo serviço seria alta.

AUTOESTIMA

Para a nutricionista e professora do curso de nutrição da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Aline Cristine Souza Lopes, quando o obeso frequenta uma academia onde só há magros com corpos sarados, ele pode se deparar com a sensação de que nunca poderá ser assim. Somado a isso, ela aponta que, em muitos espaços, há ainda os profissionais que não estão preparados para lidar com as necessidades desses clientes. “Em um mesmo grupo, que está com os mesmos objetivos, a afinidade é uma motivação. Um espaço só para esse público é uma oportunidade de mercado”, enfatiza, lembrando que o exercício físico melhora a autoestima de quem o pratica.

Um destaque de Aline para um ambiente onde há mais preocupação com a saúde do que com o estético é a Academia da Cidade, projeto da Prefeitura de Belo Horizonte no qual, segundo ela, o foco está em “ser saudável.” Criado em 2005, já são 57 academias em BH. De acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde, o número de participantes cresceu de 16,5 mil para 25 mil. “Passou a ser também um espaço de integração social, o que é muito interessante. Há aparelhos adequados para o público com problemas articulares e cardíacos, que precisa de um acompanhamento mais de perto. A prevalência de obesidade é de 40%”, destaca a nutricionista, afirmando que, cada vez mais, “estamos entendendo que somos mais que uma máquina e não adianta fazer atividade física por fazer, tem que ter prazer”.

É esse prazer que sente Margarida Albeny de Matos Silva, de 81 anos, ao frequentar a Academia da Cidade no Bairro Cidade Jardim, na Região Centro-Sul. Ela conta que procurou o espaço porque quer chegar à velhice com saúde. “Já passei por muitas academias particulares e sentia que o atendimento não era o ideal, porque não enxergam você com individualidade”, diz. Ali, ela se alegra em dizer que suas necessidades são ouvidas com carinho. “O clima é fantástico. Tem pessoas de todas as raças, condições socais e físicas. Sinto que estão cuidando mais de mim.”

Bolsa-academia
Para incentivar adolescentes com sobrepeso, surge em Minas Gerais uma espécie de “bolsa-academia”. A partir deste mês, jovens de 10 a 19 anos que estiverem acima do peso e sendo atendidos pelo Programa Saúde da Família poderão ter a atividade física custeada pelo governo. Desde o início do ano, prefeituras e academias estão sendo cadastradas para acolher os novos alunos no projeto Geração Saúde, desenvolvido pelas secretarias de Estado de Esportes e de Saúde. A mensalidade será R$ 50, paga pelo estado. Um total de 78 academias já se inscreveram no estado. Para ser beneficiado, o jovem precisa comparecer no mínimo três vezes por semana à academia e a presença será confirmada por meio de biometria.

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