Ciência e cultura explicam alimentos afrodisíacos
Assim como em tantos aspectos da saúde humana, a libido também é afetada pelo que se come, para o bem e para o mal
Valéria Mendes - Saúde Plena
Publicação:22/04/2013 08:00Atualização: 22/04/2013 08:36
Apetite sexual: não é coincidência que a expressão utilizada para traduzir o desejo físico pelo outro faça referência à sensação fisiológica de fome [o apetite]. Comida e libido tem culturalmente muitas associações. Alguns povos exacerbam essa conexão, outros a rechaçam. Para algumas religiões, há alimentos proibidos pela suposta propensão ao sexo e ao prazer. No campo da psicologia, a memória associada a alguns ingredientes e vivências do passado pode influenciar o desejo de uma pessoa. Nas universidades, o receio é de que, ao relacionar alimentos com o aumento da libido, se interprete essas conexões como receitas milagrosas para uma questão que não se soluciona com meia dúzia de amendoins e três ovos de codorna.
O terreno é arenoso e multifacetado, mas o que se reúne de evidências sobre a relação alimento e desejo permite afirmar que sim, algumas dietas podem favorecer ou, por outro lado, desestimular a libido. E ainda, que mudanças de hábitos alimentares podem ser indicadas como parte da solução de problemas relacionados ao interesse pelo sexo.
“Analisando friamente, os alimentos apresentam composições das mais diversas, previnem doenças e mexem com o metabolismo do organismo para que ele desenvolva diversas atividades, entre elas as que estão relacionadas com a sexualidade”, afirma a nutricionista doutora em ciência dos alimentos e pesquisadora da área de alimentos e nutrição da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Ana Vládia Bandeira.
No entanto, segundo ela, um alimento, isoladamente, não tem poder de melhorar a performance do organismo na categoria libido. Para ajudar a entender, Vládia cita como exemplo a ostra, uma riquíssima fonte de zinco, mineral que comprovadamente desempenha um papel na fertilidade tanto feminina quanto masculina, pois ajuda na maturação do esperma e na fertilização dos óvulos. “A pessoa come a ostra, mas exagerou no álcool e não consome as vitaminas do complexo B, aí não tem como o zinco chegar onde ele tem que chegar e surtir efeito”. Trocando em miúdos, para a alimentação auxiliar no desempenho sexual de uma pessoa, precisa ser pensada no seu todo.
Galeria de imagens:
Flávia Morais, coordenadora da área de nutrição da rede Mundo Verde, cilta algumas opções de estimulantes da libido
A pesquisadora explica que existem quatro leis básicas que fundamentam a alimentação. “A quantidade certa, levando-se em conta critérios como peso, altura, gênero e problemas de saúde; a qualidade certa, que significa o máximo de variedade e inclui os macronutrientes (proteína, carboidratos, gorduras ou lipídios) e os micronutrientes (como as vitaminas A, D, E, K e as oito do complexo B); a performance do metabolismo, adequado à faixa etária; e a harmonia (nas cores, na distribuição, no tato e na visão)”. Ou seja, exagerar em qualquer uma das categorias vai gerar efeito colateral.
Sabe-se, portanto, que alguns alimentos possuem nutrientes que auxiliam na disposição para o sexo. “A ciência já tem dados mais concretos da relação entre alimentação e fertilidade”, afirma Vládia. Um exemplo clássico é o amendoim, riquíssimo em vitamina E. “Ele é um poderoso anti-oxidante e, por isso, melhora o organismo como um todo. No caso dos homens, em particular, a glândula da próstata sofre muito em relação ao estresse, que gera um aumento de radical livres”, esclarece a professora da UFV. Mas se ele não for trabalhado em pequenas quantidades, ressalva a estudiosa, pode exercer o papel oposto, de oxidante.
O contrário também é verdade. “A ausência de algum nutriente compromete o metabolismo, que compromete o funcionamento do organismo, que vai ter influência na libido”, diz Vládia. Um exemplo simples - que abarca dois extremos - é o da pessoa desnutrida ou da que apresenta sobrepeso. Ambas terão o ânimo reduzido, não só para o sexo. A pesquisadora cita um estudo publicado na revista Nature que trocou a macrobiota - que são os microorganismo que vivem no intestino - de um coelho com a de uma lebre. Ela conta que o primeiro passou a ser mais agitado e o outro mais calmo. Não é pouca coisa: é como se os animais tivessem trocado de personalidade. Fazendo o paralelo com o ser humano, a carência de fibras altera de forma negativa o equilíbrio da macrobiota. Assim, o organismo não vai funcionar bem nas suas funções gerais, que inclui o interesse pelo ato sexual.
Especialista em nutrição clínica funcional da Rede Mundo Verde, Bruna Murta diz que frituras, excesso de doce e de carne dificultam a digestão, impedem a circulação adequada e atrapalham a potência sexual. Para ela, o segredo é uma vida regrada, no sentido de equilíbrio.
O chocolate é outro exemplo clássico de alimento associado ao desejo. A sua composição tem cafeína, que é um estimulante, e fenilalanina, um neurotransmissor que atua na libido. “Além disso, tem toda a questão sensorial, do derreter na boca”, menciona Vládia. Segundo ela, as especiarias, de um modo geral, também tem relação com a cultura do afrodisíaco pelo apelo do aroma. E o cheiro, assim como a forma e o visual - de acordo com a pesquisadora - também incrementam essa associação de comida e sexo. “Alguns alimentos têm o cheiro do próprio ato, uma aura picante e provocativa, o aroma tem relação muito forte com desejo”, diz ela.
Quem são eles
“Alguns nutrientes são importantes para produção de hormônios sexuais que aumentam o desejo e alguns alimentos tem ações estimulantes”, afirma Murta. Na primeira categoria, ela cita o ômega 3 (encontrados em óleos de peixe, atum, salmão); ômega 6 (na semente ou óleo de linhaça, óleo de girassol, e oleaginosas); ômega 7 (na semente ou óleo de macadâmia); e ômega 9 (nas oleaginosas, azeite de oliva extra-virgem e óleo de abacate). Além deles, o magnésio também é listado e está presente nos vegetais verde-escuros, oleaginosas, quinoa e semente de chia. Segundo a nutricionista, a vitamina A, que regula a síntese da progesterona, pode ser consumida em hortaliças e frutas cor amarela-alaranjada, e também é importante. No grupo, entra ainda a vitamina E (encontrada no gérmem de trigo e óleos vegetais); o zinco (em ostras, grão de bico, leguminosas, lentilha, feijão, semente de abóbora, cereais integrais, oleaginosas e chocolate amargo) e, por último, o triptofano, um aminoácido que ajuda na produção de serotonina, neurotransmissor responsável pela sensação de prazer e felicidade. O nutriente está no chocolate amargo, no arroz integral, na banana, em oleaginosa, quinoa, ovos e leguminosas.
Entre os alimentos com ações estimulantes ela cita o cacau, gengibre, café, amendoim, pimenta, catuaba e a maca peruana, encontrada no Brasil em forma de farinha e que pode ser usada em vitamina e suco.
Murta salienta que esses alimentos têm que fazer parte do cardápio da pessoa para surtir o efeito desejado. “Para conseguir um efeito positivo na libido é preciso consumir não só esses alimentos, mas equilibrar todos os nutrientes em quantidades adequadas”. Conclusão: receita mágica não existe.
Modismos
A castanha de baru - também conhecida como amendoim do sertão - é o novo alimento da moda quando o assunto é comida afrodisíaca. “Anos e anos de pesquisa são traduzidos em uma frase pela mídia sem aprofundamento científico fundamentado”, ressalta Ana Vládia. A nutricionista explica que ainda não se tem a caracterização completa do alimento. Para ilustrar, cita o exemplo da castanha do pará, rica em selênio, mas que se consumida em excesso tem efeito tóxico. “Ainda não se sabe qual a dose de segurança a ser consumida”, afirma. E diz mais: “nenhum alimento, mesmo tendo característica muita parecidas, vai desempenhar a mesma função do que outro”.
A doutora em ciência dos alimentos fala que no meio científico, além de a palavra afrodisíaco ser vista como tabu, não se busca de forma explícita a relação entre os alimentos e a libido.
Álcool
As bebidas alcoólicas podem influenciar tanto positiva quanto negativamente a disposição para o sexo. Doses pequenas podem provocar desinibição, euforia e contribuir. “Se exagerar muito, não vai ajudar, vai atrapalhar”, alerta a nutricionista da UFV.
Receitas milagrosas não existem, mas a alimentação pode influenciar a libido
O terreno é arenoso e multifacetado, mas o que se reúne de evidências sobre a relação alimento e desejo permite afirmar que sim, algumas dietas podem favorecer ou, por outro lado, desestimular a libido. E ainda, que mudanças de hábitos alimentares podem ser indicadas como parte da solução de problemas relacionados ao interesse pelo sexo.
“Analisando friamente, os alimentos apresentam composições das mais diversas, previnem doenças e mexem com o metabolismo do organismo para que ele desenvolva diversas atividades, entre elas as que estão relacionadas com a sexualidade”, afirma a nutricionista doutora em ciência dos alimentos e pesquisadora da área de alimentos e nutrição da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Ana Vládia Bandeira.
No entanto, segundo ela, um alimento, isoladamente, não tem poder de melhorar a performance do organismo na categoria libido. Para ajudar a entender, Vládia cita como exemplo a ostra, uma riquíssima fonte de zinco, mineral que comprovadamente desempenha um papel na fertilidade tanto feminina quanto masculina, pois ajuda na maturação do esperma e na fertilização dos óvulos. “A pessoa come a ostra, mas exagerou no álcool e não consome as vitaminas do complexo B, aí não tem como o zinco chegar onde ele tem que chegar e surtir efeito”. Trocando em miúdos, para a alimentação auxiliar no desempenho sexual de uma pessoa, precisa ser pensada no seu todo.
Galeria de imagens:
Flávia Morais, coordenadora da área de nutrição da rede Mundo Verde, cilta algumas opções de estimulantes da libido
A pesquisadora explica que existem quatro leis básicas que fundamentam a alimentação. “A quantidade certa, levando-se em conta critérios como peso, altura, gênero e problemas de saúde; a qualidade certa, que significa o máximo de variedade e inclui os macronutrientes (proteína, carboidratos, gorduras ou lipídios) e os micronutrientes (como as vitaminas A, D, E, K e as oito do complexo B); a performance do metabolismo, adequado à faixa etária; e a harmonia (nas cores, na distribuição, no tato e na visão)”. Ou seja, exagerar em qualquer uma das categorias vai gerar efeito colateral.
"A gente não come só o que precisa, come o que deseja", afirma a doutora em ciência dos alimentos Ana Vládia Bandeira
O contrário também é verdade. “A ausência de algum nutriente compromete o metabolismo, que compromete o funcionamento do organismo, que vai ter influência na libido”, diz Vládia. Um exemplo simples - que abarca dois extremos - é o da pessoa desnutrida ou da que apresenta sobrepeso. Ambas terão o ânimo reduzido, não só para o sexo. A pesquisadora cita um estudo publicado na revista Nature que trocou a macrobiota - que são os microorganismo que vivem no intestino - de um coelho com a de uma lebre. Ela conta que o primeiro passou a ser mais agitado e o outro mais calmo. Não é pouca coisa: é como se os animais tivessem trocado de personalidade. Fazendo o paralelo com o ser humano, a carência de fibras altera de forma negativa o equilíbrio da macrobiota. Assim, o organismo não vai funcionar bem nas suas funções gerais, que inclui o interesse pelo ato sexual.
Especialista em nutrição clínica funcional da Rede Mundo Verde, Bruna Murta diz que frituras, excesso de doce e de carne dificultam a digestão, impedem a circulação adequada e atrapalham a potência sexual. Para ela, o segredo é uma vida regrada, no sentido de equilíbrio.
O cheiro - assim como a forma, o visual e a sensação tátil - também incrementam essa associação de comida e sexo
Quem são eles
“Alguns nutrientes são importantes para produção de hormônios sexuais que aumentam o desejo e alguns alimentos tem ações estimulantes”, afirma Murta. Na primeira categoria, ela cita o ômega 3 (encontrados em óleos de peixe, atum, salmão); ômega 6 (na semente ou óleo de linhaça, óleo de girassol, e oleaginosas); ômega 7 (na semente ou óleo de macadâmia); e ômega 9 (nas oleaginosas, azeite de oliva extra-virgem e óleo de abacate). Além deles, o magnésio também é listado e está presente nos vegetais verde-escuros, oleaginosas, quinoa e semente de chia. Segundo a nutricionista, a vitamina A, que regula a síntese da progesterona, pode ser consumida em hortaliças e frutas cor amarela-alaranjada, e também é importante. No grupo, entra ainda a vitamina E (encontrada no gérmem de trigo e óleos vegetais); o zinco (em ostras, grão de bico, leguminosas, lentilha, feijão, semente de abóbora, cereais integrais, oleaginosas e chocolate amargo) e, por último, o triptofano, um aminoácido que ajuda na produção de serotonina, neurotransmissor responsável pela sensação de prazer e felicidade. O nutriente está no chocolate amargo, no arroz integral, na banana, em oleaginosa, quinoa, ovos e leguminosas.
Entre os alimentos com ações estimulantes ela cita o cacau, gengibre, café, amendoim, pimenta, catuaba e a maca peruana, encontrada no Brasil em forma de farinha e que pode ser usada em vitamina e suco.
Murta salienta que esses alimentos têm que fazer parte do cardápio da pessoa para surtir o efeito desejado. “Para conseguir um efeito positivo na libido é preciso consumir não só esses alimentos, mas equilibrar todos os nutrientes em quantidades adequadas”. Conclusão: receita mágica não existe.
Modismos
Nutricionista alerta que a castanha de baru ainda não foi totalmente caracterizada
A doutora em ciência dos alimentos fala que no meio científico, além de a palavra afrodisíaco ser vista como tabu, não se busca de forma explícita a relação entre os alimentos e a libido.
Álcool
As bebidas alcoólicas podem influenciar tanto positiva quanto negativamente a disposição para o sexo. Doses pequenas podem provocar desinibição, euforia e contribuir. “Se exagerar muito, não vai ajudar, vai atrapalhar”, alerta a nutricionista da UFV.
Em doses moderadas, bebidas alcoólicas podem ajudar no relaxamento