Brincadeiras à parte, muita gente não abre mão da companhia da sogra
Em que pesem os adjetivos e as piadinhas que cercam este tema polêmico, há muitos que não dispensam sua presença e abrem espaço para um relacionamento mais harmonioso e divertido
De tanto ser criticada e vista como um fardo na vida das noras e genros, ou das namoradas e namorados, a sogra virou objeto de estudo. O meio acadêmico já busca entender que tipo de relação é essa que desperta tantas piadas e controvérsias. Para a surpresa daqueles com um repertório de gracinhas prontas sobre elas, os pesquisadores têm descoberto que quem mais tem a reclamar dessa relação são as noras e namoradas. Ou seja, os homens, que replicam as frases feitas contra sogra para arrancar gargalhadas, têm relações melhores do que as mulheres com as mães de seus maridos e namorados.
Prova disso está pelo mundo. Entre 1985 e 2008, a psicóloga Terri Apter, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, analisou o comportamento de 156 pessoas (49 esposas, 40 maridos, 49 sogras, 18 sogros e 10 enteados). Resultado: elas reclamavam mais das sogras, e não eles (60% contra 15%, acredite!). A pesquisa resultou no livro What do you want from me? (O que você quer de mim?), que procura esmiuçar tais relacionamentos e propor sugestões para melhorá-los. No ano passado, cerca de 2 mil mulheres responderam a pesquisa de um site britânico, e acusaram suas sogras de sempre criticarem suas habilidades como mãe, inclusive na frente do parceiro e dos filhos. Quase um terço das pesquisadas disse que as sogras as faziam se sentir como não merecedoras do marido.
Relação descomplicada
O pacote é completo: sogro, cunhado, cachorro, papagaio e a sogra. Quem começa um relacionamento a dois e pretende levá-lo a sério sabe bem que essa relação não se restringe a apenas duas pessoas. Vai muito além disso . “Quando se namora, namora a família inteira”, dizem por aí. Não sem razão. Ter um bom relacionamento com a figura materna é peça-chave. Sabe-se que, muitas vezes, por ciúmes, apego à cria ou simplesmente por implicância, a sogra acaba virando uma cobra. “Existem sogras. E a palavra é no plural. Ao mesmo tempo em que pode haver aquela megera, haverá aquelas que são companheiras, cúmplices e uma segunda mãe”, comenta o psicólogo Roberto Chateaubriand. Não tão raras e contrariando os ditos populares, as boas sogras estão cada vez mais se adaptando aos novos tempos, estão mais abertas e verdadeiras amigas.
“Adoro todos eles. São como meus filhos. Quando há uma discussão de casal, não me intrometo, nem tomo partido. Se eu entrar, eles fazem as pazes e depois quem fica ruim na história sou eu. Sogra calada já está errada, né?”, brinca. A experiência de Sandra retrata bem o que dizem os especialistas: “Não existe relacionamento a dois”. Ao nos relacionarmos, trazemos conosco um pacote de vivências. “E isso pode incluir uma família mais ampliada, como filhos de outras relações ou nossos familiares. A gente está sempre trazendo para o relacionamento a dois uma certa multidão”, comenta o psicólogo.
De acordo com ele, querendo ou não, a sogra está muito presente não só no imaginário. Ele diz que levamos para nossas relações essa figura materna. “E muitas vezes, essa mulher não está presente nem interferindo diretamente no relacionamento, mas o filho traz essa figura para dentro de casa.” Uma reclamação comum é a queixa das esposas que são comparadas às sogras pelos maridos. “Eles dizem: ‘Minha mãe faz isso muito bem’.”
Essa comparação, considerada desleal pelo psicólogo, reflete a idealização da mãe pelo filho. “Esse homem que faz essa comparação, terá, na sua memória afetiva, a sua mãe como a melhor mulher.” O especialista diz que é preciso rever esses papéis com distinção. “Mãe é mãe, mulher é mulher”. Como pais, segundo Roberto, há, desde sempre, o pronome possessivo “aquele é meu filho, minha filha”, e, ao longo do tempo, eles passam a perceber que “aquele que era meu passa a ser do mundo”. “Tem mães que não conseguem fazer essa passagem. Mas outras sim. Incentivam a autonomia da cria e respeitam isso.”
RESPEITO
Em seu último relacionamento, que durou 16 anos, sua mãe foi exemplo de boa sogra. “Ela se casou no cartório com o meu parceiro da época, para que nós dois conseguíssemos ter os nossos direitos”, lembra, dizendo que sua mãe já faleceu, mas foi um bom exemplo, assim como é Sebastiana. “Quando há uma relação de dois homens, não há concorrência com a mãe do outro. A sogra ganha mais um filho.” Sérgio nem se importa com o fato de Sebastiana ter fotos do ex de Bruno em casa. “Isso demonstra o carinho que ela tem por ele.”
Como existem sogras e sogras, também há genros e genros. Cláudio Freitas Rocha, de 42, conta que no início do namoro com Laila, há 22 anos, não era tão bem-aceito. Mas, com o passar do tempo, conquistou a família e a sogra o conquistou também. Tanto é que há 17 anos saiu do banco onde trabalhava e resolveu montar um restaurante, tendo como sócios os sogros. Myriam Elizabeth Macintyre Lisboa é a sogra e mete a colher, somente no restaurante. Escocesa, ela diz que Cláudio virou filho. “Se a minha filha achou alguém que a faça feliz, tenho mais é que dar força. Vejo que os brasileiros têm a cultura de que a sogra não é bem-vista por interferir demais. Não faço isso. Ele é uma das pessoas que mais admiro, foi uma bênção para a minha filha.” Cláudio retribui os elogios dizendo que gosta demais dessa postura dela, sem interferências na vida do casal.
Sem entrar em competição
Está comprovado: o fantasma da sogra megera aparece é para as noras. Por isso, homens que enchem a boca para falar mal das mães de suas parceiras podem repensar essas teorias, porque, segundo muitos estudos, essa rixa é entre as mulheres. Apesar de real e muitas vezes motivo de separação entre os casais, o mal-estar entre elas pode ser driblado e superado. Há quem encontrou nelas verdadeiras mães, amigas e companheiras inseparáveis, e mantém, então, relações harmoniosas, pede colo, arrego e diz ser até invejada por outras mulheres, que não tiveram a mesma sorte.
Foi também depois da gravidez que o laço de Fátima Melo Mendes com a sogra, Clélia Gomes, de 60, ficou ainda mais forte. Com 25 semanas de gravidez, há dois anos, Fátima, que sempre se deu muito bem com Clélia, começou a ter complicações que poderiam resultar em um parto prematuro. “Minha sogra saiu lá de Baependi, no Sul de Minas, para me ajudar. De uma forma muito respeitosa, ela entrou na nossa casa e tomou conta de mim.” Eduardo não foi prematuro e, nos primeiros dias de vida, contou com a ajuda das duas avós. “Junto com a minha mãe, Clélia fez tudo para me ajudar. Foi de uma bondade incrível. Quando ela voltou para a cidade dela, chorei demais.”
Fátima teve depressão pós-parto e adivinha quem deu a mão para ela nessa hora? Sua sogra. “Eu e Eduardo fomos para Baependi. Ela cuidou de tudo, até que eu melhorasse. É um anjo na minha vida”, diz, contando que, infelizmente, não a vê todos os dias, mas conversam com frequência pelo telefone.
Essas lindas histórias de Amanda e Fátima, segundo os estudos, são raras. Uma em cada quatro mulheres não suporta essa parente. A pesquisa, divulgada em 2011, é do site Netmums, e aponta que as insatisfeitas descrevem a sogra como "controladora, intrometida e megera". Cerca de 2 mil mulheres responderam a pesquisa e algumas dessas situações levaram ao rompimento do casamento.
QUEIXAS É uma realidade. Sem a sorte de Amanda e de Fátima, e pelos consultórios psiquiátricos brasileiros, é comum as pacientes se queixarem das mães de seus companheiros. Segundo conta o vice-presidente da Associação Mineira de Psiquiatria e professor titular de psiquiatria da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Humberto Correa, as causas são as mais variadas para essas relações conflituosas. “Para muitas mães, ninguém será capaz de cuidar de seus filhos como elas”, diz. O psicólogo Roberto Chateaubriand lembra que as piadas sobre essa parente geralmente são ditas por homens, “mas os dramas reais são vividos pelas mulheres”, compara.
Ele lembra do dito “se caso uma filha, ganho um filho. Se caso um filho, o perco”. Essa é a teoria que muitas noras sabem na prática. “No dia a dia das mulheres, essa concorrência é quase desleal. Há muitos casos em que a mãe do homem entra no relacionamento muito idealizada por ele.” Segundo ele, isso vem da maternidade. “A relação da mãe com o filho homem tem traços de paixão. A própria psicanálise, em uma linha freudiana, cita o mito de Édipo (personagem da mitologia grega famoso por matar o pai e casar-se com a própria mãe). Essa paixão reescrita na relação materna mostra que há uma certa prevalência afetiva, em que a mãe vai cuidar desse filho quase colocando-o debaixo das asas. Ele é uma espécie de reizinho, de bem maior.”
Para muitas mulheres, então, ter uma nora é uma espécie de competição, ameaça. “Segundo a psicanálise, esse menino veio para completar a vida dela como mulher. Ao se tornar um homem, a mãe não consegue desgrudar dele e, muitas vezes, vai ser a jararaca.” Roberto diz que isso não é regra e nem acontece com a maioria da mães. “A nora não pode cair no jogo de provocação nem entrar na competição, porque vai sair ferida. Tem que pensar em uma estratégia de convivência. A melhor maneira é relevar e não permitir que as provocações tenham efeitos no relacionamento do casal.” Outra tática, segundo ele, é tentar compreender e se colocar no lugar dela. “As noras que conseguem se convencer de que não estão ali para tirar o filho da sogra conseguem driblar isso muito bem”, aconselha. (LE)
Dicas de convivëncia
Para genros e noras
Procure escutar mais que interferir. Tenha uma escuta ativa, procurando não julgar, apenas ouvindo.
Mesmo que você não concorde com nada do que ela diz, foque em pelo menos 1% do que você acredita e seja válido
para você.
Veja somente os lados positivos de sua sogra. Com certeza deve existir alguma coisa nela que seja admirável, não é mesmo? Pelo menos ela gerou alguém que você ama demais. Agradeça-a.
Seja curioso (a). Tenha interesse em saber mais sobre as opiniões, crenças e valores de sua sogra. Ela provavelmente irá compartilhar algumas coisas muito interessantes.
Não entre em provocações nem competições. O ferido pode ser você.
Em caso de ciúmes de sogra, tente mostrar com ações que você não vai roubar sua filha ou filho. E que vocês podem conviver em harmonia.
Respeite-a.
Para as sogras
Tente não interferir na vida do casal.
Respeite sua nora ou genro.
Dê opinião quando lhe pedirem.
Não aponte os erros do genro ou da nora. Tente enxergar as qualidades deles.
Jamais entre na casa do casal como se fosse a dona dela.
Tenha consciência que ninguém vai tirar o seu filho (a) de você, mas ele (a) amadureceu e tem direito de criar a própria família
Respeite as escolhas do seu filho (a). E apoie a sua felicidade.