Pesquisa identifica células-tronco capazes de regular apetite

Até então se acreditava que as pessoas tinham número fixo de neurônios reguladores do apetite. Com a descoberta, cientistas acreditam se tornar possível a criação de medicamentos para combater a obesidade e outros distúrbios alimentares

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Gabriella Pacheco - Saúde Plena Publicação:07/05/2013 08:00Atualização:07/05/2013 09:28
Mais de 1,4 bilhão de adultos em todo o mundo estão acima do peso e mais de meio bilhão são obesos (CARLOS BARRIA / Agência)
Mais de 1,4 bilhão de adultos em todo o mundo estão acima do peso e mais de meio bilhão são obesos

Imagine poder combater a obesidade e o desejo de comer com uma pílula que ajuda a controlar o apetite. Essa possibilidade até pouco tempo era, no máximo, um sonho, mas uma descoberta de cientistas britânicos pode mudar a maneira como a obesidade e outros transtornos alimentares têm sido tratados. A novidade foi a identificação de células-tronco, chamadas tanycytes, no hipotálamo - região do cérebro responsável por regular o sono, gasto de energia e apetite - capazes de agir como neurônios reguladores do apetite.

Até então se acreditava que cada pessoa tinha um número fixo de neurônios associados com a regulação do apetite, gerados inteiramente durante a fase embrionária. Segundo os pesquisadores da University of East Anglia, a perda ou mal funcionamento de neurônios nessa região do cérebro é uma das principais causas de distúrbios alimentares, tais como a obesidade. Contudo, com essa nova constatação, os pesquisadores acreditam que será possível, na próxima década, gerar novos reguladores de apetite para pacientes já na vida adulta.

Considerando que esse circuito do cérebro pode ser manipulado, o próximo passo dos cientistas é definir um grupo de genes e processos celulares que regule o comportamento e atividade das tanycytes. De acordo com eles, essa informação pode ampliar o conhecimento sobre células-tronco e ser explorada para desenvolver medicamentos que modulem o número ou funcionamento dos neurônios reguladores de apetite.

A expectativa é de que o trabalho com humanos demore ainda cerca de 10 anos para ser alcançado. Apesar disso, eles já acreditam que o avanço possa levar à intervenções permanentes na infância, para pessoas predispostas à obesidade, ou até mais tarde na vida, quando a doença se tornar aparente.

Para o chefe da Unidade de Endocrinologia Pediátrica do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, Durval Damiani, o desenvolvimento da capacidade de controle do apetite e saciedade seria de extrema importância para a melhoria do quadro de obesidade no mundo.

Autor de um artigo sobre controle de apetite, o professor ressalta que a obesidade é hoje uma pandemia, sem uma explicação simples de existir. No entanto, ele tenta lançar luz na questão explicando o comportamento do cérebro em relação à alimentação. “Entender o papel do cérebro nesse processo é importante para se desenharem estrategias de combate à obesidade”, comenta.

Para além da razão

Segundo Damiani, o controle do apetite é baseado em duas funções distintas do cérebro. A mais estudada é a que regula o aspecto metabólico da alimentação. “Essa parte é matemática e calcula o quanto de calorias seu organismo necessita, dependendo do gasto energético dele”, explica. É no hipótalamo que se originam as ações que visam adequar o balanço energético do organismo.

 (CARLOS BARRIA)

Ele também ressalta que os processos cognitivos e emocionais não podem ser desprezados. “O cérebro cognitivo tem ascendência sobre o metabólico e decide que você vai comer mais pelo prazer que aquele alimento proporciona”. Segundo ele, as estruturas córtico-límbicas lidam com cognição, recompensa e emoção. “Sabendo que este sistema tem a capacidade de modular o comportamento alimentar, necessitaremos sempre considerar a necessidade de terapias que atenuem sua atividade”.

Enquanto uma solução simples não chega – se é que um dia será simples – grande parte do tratamento à obesidade consiste em mudar a relação que essas pessoas têm com a comida. “Acho que a relação das pessoas com a comida é mais emocional que orgânica, porque quando a pessoa é obesa ela come além da fome. Normalmente a gente come para viver, mas no sobrepeso isso é invertido e a gente come para ter prazer”, destaca a psicóloga do Núcleo Mineiro de Obesidade, Sandra Vaz Lisboa.

Sem uma pílula 'milagrosa' que reduza o apetite, a cirurgia bariátrica é a solução atual para reverter radicalmente a obesidade. No entanto, a psicóloga chama atenção para os problemas emocionais que tendem a continuar existindo mesmo após a perda de peso. “ A vontade de comer vai continuar existindo. O papel da psicologia é entender o papel que a comida estabelece com a pessoa e encontrar uma forma de mudar essa relação”, pondera.

Círculo vicioso

A maioria das mulheres sabe como é buscar consolo em uma barra de chocolate. E quando a fuga é pontual, os danos não são tão visíveis, mas se isso vira uma dependência, o problema se torna muito maior. Lisboa conta que quem vive com sobrepeso, a ansiedade é um problema sério.

Segundo ela, às vezes é difícil diferenciar quando a pessoa tem ansiedade porque come de quando ela come por ansiedade. “A pessoa sente a discriminação da sociedade e isso gera ansiedade, que a pessoa compensa com comida. É um círculo vicioso”, afirma. “Eu vejo que a maioria das pessoas lida com a obesidade tem a mesma relação com comida que o alcoólatra tem com a bebida e o fumante com o cigarro: a comida ocupa o lugar do grande amigo”, completa.


O Núcleo Mineiro de Obesidade é uma Organização Não-Governamental (ONG) que ajuda no enfrentamento do sobrepeso. Mais informações sobre os serviços prestados pelo telefone (31)3643-1145.

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