Poluição pode prejudicar atividades físicas; entenda os riscos

Mesmo quando invisível, a poluição é uma grande inimiga das práticas esportivas, podendo tanto prejudicar o desempenho físico quanto causar danos sérios à saúde, incluindo infartos e câncer de pulmão

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Gabriella Pacheco - Saúde Plena Publicação:20/05/2013 08:00Atualização:17/05/2013 13:00

Maratonistas que competem em cidades com altos índices de poluição estão sujeitos à queda de desempenho por causa dos poluentes (AFP PHOTO/FRED DUFOUR)
Maratonistas que competem em cidades com altos índices de poluição estão sujeitos à queda de desempenho por causa dos poluentes
Quem sai de casa com a intenção de caminhar ou fazer uma corrida pelas ruas, avenidas ou parques de grandes centros urbanos faz isso com a melhor das intenções, no entanto um inimigo invisível pode estar mascarando os benefícios vindos da prática esportiva nessas condições: a poluição. As vezes despercebida, ela não 'atrapalha' a conclusão dos exercícios. Quando muito, o cheiro da fumaça de veículos incomoda ou os olhos ardem. Contudo, pesquisadores e especialistas têm destacado cada vez mais os riscos que a prática esportiva em lugares poluídos traz para o organismo. E se ficar saudável é a principal intenção de seus praticantes, o alerta merece ser ouvido com atenção por atletas e amadores: para o pulmão, frequentar esses lugares corresponde a fumar dois cigarros por dia.

“Dependendo dos trajetos que ela faz diariamente, a pessoa que não fuma pode estar submetida a riscos semelhantes aos do fumante”, comenta o cardiologista e presidente da Sociedade Mineira de Medicina do Exercício e do Esporte, Marconi Gomes da Silva, sobre os dados divulgados por uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP). Segundo ele, ao escolhermos um local poluído para nos exercitar, nos submetemos a altos níveis de poluentes que podem prejudicar o rendimento físico de forma imediata.

O dr. Marconi Gomes da Silva é cardiologista e presidente da Sociedade Mineira de Medicina do Exercício e do Esporte (Jair Amaral/EM/D.A Press)
O dr. Marconi Gomes da Silva é cardiologista e presidente da Sociedade Mineira de Medicina do Exercício e do Esporte
Isso acontece porque a atividade física demanda mais oxigênio do corpo, com músculos, coração e pulmões trabalhando com mais intensidade. Para atender a demanda, nosso corpo inala mais ar e, com ele, mais poluentes. “Quando o exercício se torna mais intenso respiramos também pela boca, o que possibilita a entrada em nossas vias aéreas de partículas poluentes, que seriam filtradas pelas narinas se respirássemos pelo nariz. Essas partículas poluentes são absorvidas pelo nosso sistema respiratório e interferem no consumo de oxigênio pelos tecidos, podendo provocar inflamação nas vias áreas”, explica Silva.

Cada pessoa reage de maneira diferente aos poluentes, mas os sintomas identificados com mais frequência são vermelhidão e irritação nos olhos e garganta, sensação de secura no nariz e na boca, assim como cansaço excessivo. Contudo, são as consequências que não conseguimos ver ou sentir na hora que causam os piores danos.

“Embora a poluição atmosférica, mesmo isoladamente, já aumente o risco de doenças cardiovasculares, quando associada à exposição ao tráfego intenso e o estresse advindo desses agentes, ocorre uma potencialização do risco de infarto do miocárdio”, pontua. Além disso, a poluição também pode ser responsável pelo aumento da incidência de bronquite crônica, baixo peso de bebês, abortos e até câncer de pulmão. “O risco desse câncer aumenta em torno de 30% e o de abortos 25%”, destaca o cardiologista.

Desempenho afetado
Assim como a saúde perde, o desempenho atlético também é afetado pela poluição presente no ar. Um estudo feito pela pesquisadora brasileira e doutora em Fisiologia e Imunologia do Exercício para a Edinburgh Napier University, da Escócia, Elisa Couto Gomes, confirmou que o ozônio – um dos poluentes mais presentes na atmosfera – quando combinado ao calor e umidade afeta em muito a performance de esportistas.

Dez atletas profissionais de alta performance participaram do experimento, sendo submetidos a corridas de 8 quilômetros em quatro ambientes diferenciados. O resultado identificou que quando os atletas eram expostos à grande concentração de ozônio, calor e umidade eles tinham uma piora de desempenho de, em média, 33 segundos. “Para um atleta de elite isso é uma piora muito grande”, destaca.

A pesquisadora brasileira Elisa Couto Gomes é formada em Educação Fìsica pela UFMG, Mestre em Fisiologia do Exercício pela Loughborough University, da Inglaterra, e Doutora em Fisiologia e Imunologia do Exercício pela Edinburgh Napier University (Arquivo Pessoal)
A pesquisadora brasileira Elisa Couto Gomes é formada em Educação Fìsica pela UFMG, Mestre em Fisiologia do Exercício pela Loughborough University, da Inglaterra, e Doutora em Fisiologia e Imunologia do Exercício pela Edinburgh Napier University
Os ambientes em que o experimento foi realizado eram controlados. Em três dos quatro, eles foram expostos à concentração de ozônio (O3) e em dois o poluente apareceu associado ao calor. Gomes explica que para a formação do gás é necessário luz solar, “então a concentração dele cresce com o aumento da temperatura”.

“É interessante e relevante para o Brasil que quando o calor é adicionado à equação a queda de desempenho é exacerbada. Além disso, no ambiente em que havia calor, umidade e ozônio, ainda houve um maior dano no epitélio pulmonar e diminuição de antioxidantes pulmonares”, afirma. Mesmo sem o acréscimo do calor ou umidade, as presença do ozônio no segundo ambiente já foi suficiente para implicar em uma queda média de 12 segundos nas performances dos atletas.

A queda no desempenho foi uma das consequências pontuais identificadas pelo estudo de Gomes, que agora parte em busca de outros impactos sentidos a longo prazo pelo organismo.

Outros vilões
A pesquisadora ainda chama a atenção para a presença de outros poluentes na atmosfera. “O ozônio é um gás altamente oxidante. Outros poluentes, como o material particulado, têm a mesma propriedade. Quando as pessoas são expostas a um coquetel de poluentes, como os encontrados nos grandes centros urbanos, a gente pode ter esse efeito exacerbado”. Ela também lembra que grandes capitais brasileiras como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Curitiba possuem taxas de incidência de ozônio e material particulado na atmosfera acima do indicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

De acordo com a Fundação Estadual do Meio Ambiente de Minas Gerais (Feam), além do O3, os poluentes encontrados com maior frequência na região metropolitana de Belo Horizonte são o material particulado (poeira), o dióxido de enxofre (SO2), o monóxido de carbono (CO), os óxidos de nitrogênio (NOx) e os hidrocarbonetos (HC). Especialmente no inverno, eles são identificados em quantidades acima do considerado adequado.

Com a proposta de encontrar um meio de fugir dos efeitos de poluentes como o ozônio, Gomes participou de uma segunda pesquisa que estudou o impacto de suplementos antioxidantes, como as vitaminas C e E, na diminuição dos efeitos prejudiciais da poluição na prática esportiva. O resultado foi uma melhora de 49 segundos no tempo dos atletas. No entanto, a pesquisa também identifica alguns malefícios do uso dos mesmos. "Eu recomendaria a ingestão dessas vitaminas em pequenas quantidades, por um tempo limitado. Para indivíduos fisicamente ativos ou que estejam em treinamento, o uso constante de antioxidantes vai ser prejudicial, pois vai diminuir a adaptação do organismo ao estímulo da atividade física. Sem contar que indivíduos fisicamente ativos já possuem mais antioxidantes no organismo do que os sedentários".

A jornalista Angelina Fontes é adepta das corridas e foge de locais poluídos (Arquivo Pessoal)
A jornalista Angelina Fontes é adepta das corridas e foge de locais poluídos
Fugindo da poluição

Mesmo sem sentir nitidamente os danos da poluição atmosférica, a jornalista Angelina Fontes, de 32 anos, não arrisca fazer suas corridas em locais propícios aos poluentes. Ela corre entre três a quatro vezes por semana e somente uma delas é na esteira, em academias.“Em BH é difícil encontrar um lugar sem movimento ou poluição, mas eu sempre tento ir para praças, para a Pampulha ou lugares com menos movimento de carros”, conta.

Assim como a maioria das pessoas, até ser questionada sobre o assunto ela não tinha associado espontaneamente a dificuldade de respiração ou aumento do cansaço com dias poluídos. “Mas tem mesmo dias em que o desempenho da gente fica abaixo do de costume, especialmente no inverno, quando o tempo está muito seco e tem muita poeira no ar”. A associação da jornalista é pertinente porque o material particulado é um outro poluente com as mesmas características oxidantes do ozônio. “Nesses dias você fica cansada mais rápido porque parece que você tem que respirar mais”, completa.

Dicas úteis

A intuição da jornalista corresponde à orientação médica de tentar evitar ao máximo lugares em que a exposição a poluentes é maior, como corredores de trânsito e proximidades de fábricas. Vale também ficar atento às condições meteorológicas. “A chamada inversão térmica aumenta a concentração dos poluentes, já que diminui a dispersão destes”, destaca o cardiologista, Marconi Gomes da Silva. Quando o dia for favorável, ele recomenda que as pessoas procurem locais expostos às correntes de ar consideráveis, como parques e regiões costeiras.

Realizar exercícios em locais fechados, nem sempre significa evitar a exposição aos poluentes. Segundo o médico, existem várias atividades domésticas que aumentam significativamente a emissão do monóxido de carbono (CO) e que prejudicam o rendimento durante o exercício físico.

Vale lembrar também que há maior emissão de monóxido de carbono e outros poluentes nos horários em que o tráfego de veículos é maior, como na hora do rush. “Os melhores horários para a prática de exercícios ao ar livre são antes das 7h e após às 20h, horários com menores tráfego de veículos e com temperaturas mais amenas”.

Além disso, é fundamental pensar em posturas que diminuam a emissão de poluentes na atmosfera, como a substituição dos combustíveis fósseis e a revisão das políticas de mobilidade urbana. “Na maioria das vezes essas políticas privilegiam o transporte individual e não dão os mesmo incentivos ao transporte coletivo, ao uso de bicicleta como meio de transporte e à programas que viabilizem o transporte por esses meios”, destaca.

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