O autoconhecimento ajuda as pessoas a afastar sentimentos negativos como estresse, mau humor e irritabilidade
Lilian Monteiro - Estado de Minas
Publicação:07/07/2013 07:38Atualização: 07/07/2013 08:54
As pessoas andam irritadiças, de cara amarrada e sem paciência. O estresse é o vilão. Culpam a falta de tempo e os problemas do dia a dia. Mas há aquelas que encaram os mesmos dilemas e são bem-humoradas. Não se deixam abater pelas dificuldades que todos encaram. Será que tem um segredo, uma receita para levar a vida de forma mais leve?
Problemas todos têm. Dias ruins também. No entanto, muitas internalizam uma amargura que se apresenta na testa franzida, no bico, na falta de educação. Às vezes, pedir licença e dar bom-dia se tornam atitudes raras e até um sacrifício. Por outro lado, há quem se propõe contagiar pela alegria. Trabalha mental e espiritualmente para ter a felicidade como companhia. Não é viver num mundo cor-de-rosa, numa bolha. Pelo contrário. É se condicionar a buscar um temperamento que não maltrate seu fígado, mas que faça ter mais serotonina correndo nas veias.
Para servir de inspiração, apresentamos Gisele Aparecida Vianini, analista de recursos humanos, Renato Messias Soares da Silva, porteiro, e Brenda Rawicz Bricio, personal trainer, mineiros que fizeram uma resolução pessoal e interna: buscar o sorriso em primeiro lugar.
O primeiro exemplo é de uma filha obediente. Brenda Rawicz Bricio aprendeu com a mãe, Miriam, que o bom humor e a busca para estar bem são as coisas mais importantes para uma vida com menos intempéries, mais tranquila. “E o sorriso é o maior antídoto diante de quem só reclama da vida e não se cansa de lamentar. Ninguém ganha nada em ficar bravo e perder a paciência com os obstáculos diários. O ideal é sublimar, respirar fundo.”
SUPERAÇÃO Brenda, formada em educação física, vaidosa e com um corpão, passou por uma provação que só mesmo o sorriso para aliviar a dor. “Nunca sofri tanto, quase morri. Tive um hematoma no cérebro, abri a cabeça, tinha o cabelo na cintura e raspei. Ficar careca foi o de menos. Recusei peruca e passei por tudo sem ficar triste. Agradecia por estar viva e por não ter tido sequela. Sou vaidosa, mas mesmo antes de enfrentar essa barra, sempre soube que há coisas mais importantes, as pequenas, aquelas que realmente nos fazem felizes.”
A personal trainer conta que tem prazer em fazer as pessoas se sentirem bem. Tanto que, na época do Orkut, os amigos criaram uma comunidade – “A Brenda me faz rir”. “Fico feliz em arrancar o mau humor de alguém. Ganho o dia se a pessoa chega tensa, de cara fechada e,com jeitinho, a faço relaxar. Lógico que, como todo mundo, tenho problemas, não fantasio e não vivo em um mundo perfeito. Ele não existe. Mas a tristeza me incomoda tanto que faço tudo para superá-la. Seja a minha ou a dos outros, procuro e penso sempre em transformá-la em algo melhor. Não é num passe de mágica, mas é possível. Faço de forma natural. Esse é o meu jeito.O bom humor faz parte da minha vida, da dos meu pais e do meu marido, Paulo Marcos. Nossa missão, aliás, é nos divertir 24 horas por dia. Recomendo.”
Gerações distintas com a mesma sabedoria. A opção por ser contente, risonho e animado e não rabugento, intolerante, lamuriante, queixoso, resmungão e tantos outros adjetivos que conhecer para a falta de humor é uma escolha de vida. Gisele Aparecida Vianini, analista de recursos humanos, mineira de São João del-Rei, moradora de Contagem, é daquelas pessoas que nasceu de bem com vida. Uma característica do seu DNA, estar sempre “pra cima”. Ela conta que “acordo bem e sigo assim o dia, sem me deixar envolver pela amargura”. Por outro lado, é bom que saibam que Gisele não faz o papel de boazinha, no sentido de ser passiva, aceitar tudo. “Às vezes, perco o controle. As pessoas acham que sou zen. Mas se saio da minha calmaria nunca guardo raiva, rancor e, por isso, se algo me incomoda, falo o que devo, na hora, e me faço ser ouvida”. Vida que segue, “e sem cara amarrada”.
O sorriso é a marca de Gisele. É sua assinatura para a vida. E ela não escolhe a quem brindar com esse cartão de visitas. Mesmo nas horas ruins. “Gosto de beijar, abraçar é fundamental, e nada melhor do que o sorriso até nas fechadas de trânsito. Eu me preocupo em estar bem. Se vivo tristezas ou amarguras, digo sempre que não há nada tão ruim que não possa melhorar e contornar. Sou assim.” A analista enfatiza que escolheu sorrir porque não quer ser carrancuda. “Falam que estou sempre animada. É verdade, mas também me apoio em quem está ao meu lado. É nisso que me seguro diariamente e ensino para minha filha, Maria Clara, de 12 anos. Às vezes, levo uma encarada, mas não tem problema. Pelo menos tentei e, quando você tem atitude, sofre menos.”
Casada com Joel da Cunha há 15 anos, ela acaba de completar bodas de cristal. Gisele conta que até nos casos de doença não entra em desespero. “Não sei de onde vem. Aliás, acho que nossa força está no que cremos. É o que nos dá base. Busco estabilizar e pensar em coisas boas.” Prova de que “luta” diariamente para manter o bom humor é a maneira como ela venceu uma das piores fases da vida. “Primeiro, perdi um emprego de mais de 20 anos em dezembro de 2011. Não fiquei com raiva e, sim, pensei em me fortalecer na família e nas pessoas que me amam. Sabia que existia vida fora da empresa. Fiquei chateada, mas continuei feliz. E depois, nesse intervalo, precisei encarar o câncer do meu pai. Foram 34 dias, entre agosto e setembro de 2012, em que pedi a Deus em oração para levá-lo da melhor forma para ele, que sempre foi dinâmico. Quando se foi, não vivi uma pancada, fiquei tranquila pela força espiritual. É o que nos deixa de pé.”
MUDANÇA A alegria do porteiro Renato Messias Soares da Silva, de 53 anos, foi uma descoberta. Percebeu que a seriedade que transmitia era causada pela timidez e foi imposta pelo mercado de trabalho. Então, decidiu mudar. “Aos poucos, passei a me entender e me conhecer melhor. Ser porteiro é o espelho de um prédio. Exijo respeito, mas cara fechada não pode. Não deixo o mau humor dos outros e os obstáculos da vida estragarem meu dia. Esse é o meu compromisso.” Ele ensina que é preciso mandar para escanteio o estresse do dia a dia, a falta de educação de muitas pessoas, a irritabilidade no transitar pela cidade, a falta de tempo, a indignação pelo desrespeito, enfim, uma lista de obstáculos que várias pessoas usam para justificar a sisudez cotidiana. “Faz mal. Além do mais, se ficar nervoso, impaciente e desequilibrado vai levar para casa e a mulher e os filhos não têm nada com isso. Do mesmo modo, os problemas particulares não podem afetar o trabalho nem a relação com o outro.”
Renato enfatiza que sorrir é melhor que lamentar. E só reclamar é bem chato. “Cansa.” Por isso, há 16 anos num mesmo emprego, ele é reconhecido e aplaudido pelo bom humor. Prédio comercial, com muitos consultórios médicos, vários pacientes aguardam o dia da consulta para ser recebidos com sua alegria. “Sem perder o respeito, cumprimento, brinco, elogio, dou conselhos e distribuo bombom para os colegas. Às vezes, percebo e levanto a autoestima de quem está desanimado. Aperto a mão das senhoras, digo que estão chiquérrimas. Se alguém chegou de mau humor, trato tão bem que o desarmo, conto piada, faço uma graça e, no fim, ganho o sorriso. E ganho o dia. É assim que gosto de viver, seja na fila do banco ou na do caixa do supermercado.” Casado com Gilcélia há 20 anos e pai de Maria Gisele, Natália e Maria Letícia, Renato garante que em casa a alegria é a mesma. “É espontânea. A gargalhada é música na minha família.”
Equilíbrio interno
Estado de espírito. O humor é determinado pela personalidade de quem ri, pela disposição e bem estar psicológico de cada um. Na história, a partir do século 6 a.C., os filósofos gregos começaram a buscar explicações naturais para a vida, o universo e tantas outras. Na visão grega, o corpo era composto de quatro humores —sangue, fleuma, bílis amarela e bílis negra e os distúrbios eram decorrentes do desequilíbrio entre eles, que regulariam a saúde física e emocional humana. Há também a ideia de que o humor ajuda na compreensão de culturas, religiões e costumes das sociedades de maneira ampla, sendo vital da condição humana. O homem é o único animal que ri.
Para a psicanalista Inez Lemos, o mau humor é um traço da nossa cultura e todo comportamento social reflete um discurso, e, no caso, é o da queixa. “Adoramos reclamar, nos fazer de vítimas, produzir um mau humor, já que com isso vendemos um fracasso que não existe, o que pode gerar algum ganho – afinal, a ordem é ‘levar vantagem em tudo’.”
Ela explica que esse comportamento é típico de pessoas neuróticas, que não tiveram oportunidade ou não quiseram questionar e analisar o sintoma. Inez conta que cada sujeito traz registros psíquicos que revelam o humor, as posturas, definindo-o “se é uma pessoa de bom astral ou não”. Ela destaca ainda que “se uma criança cresce entre adultos mal-humorados, intolerantes, impulsivos ou mães deprimidas, ela pode ser contaminada. Contudo, se crescemos entre pessoas positivas e alegres, que sabem lidar com as adversidades e frustrações, as chances de nos tornarmos pessoas ‘de bem com a vida’ são grandes”.
Harmonia
Por outro lado, Inez lembra que, no campo objetivo, o mau humor pode surgir em função de um cotidiano estressado, trânsito carregado, trabalho excessivo, violência, declínio da vida afetiva, filhos, etc. “Porém, há pessoas que,mesmo diante das chaturas da vida, conseguem manter um sorriso, ser gentis, tolerantes.” Ela reforça o que sempre diz: “Viver bem é para profissionais, não para amadores. E os profissionais do bem viver são aqueles que conquistaram equilíbrio interno, que estabelecem uma relação harmônica com a vida, lutaram para adquirir estrutura e elegância na alma”. Com segurança, a psicanalista enfatiza que há sempre uma forma de driblar a cultura, convocar forças e sabedoria ao enfrentar as dificuldades do mundo. “A vida de prazer é muito boa, mas é o sofrimento que nos molda”. Por mais repetitivo que seja para alguns, até clichê, na real “significa que o bonito é aprender com os fracassos e manter a alegria, o gosto pela vida. Não são os objetos que enfeitam o mundo, mas as pessoas coloridas, radiantes e iluminadas por dentro”. Um conselho? É de graça e de quem tem know-how para falar: “Bom humor é conquista. Vale a pena persegui-lo e lutar por ele”.
Palavra de especialista - Escolha e patologia
“Existe uma gama ampla de estados de humor, mas basicamente podemos analisá-lo por dois ângulos. Há um grupo de pessoas que têm o humor normal, sem alterações e outro que apresenta algum tipo de transtorno de humor. No primeiro existem algumas pessoas que têm uma atitude de vida diferenciada, bem-humorada, comportamento esse que é uma escolha. Acreditam que tudo vai dar certo e encaram o desafio com a certeza de que vão superá-lo,mesmo que parcialmente. Essas pessoas vão buscar força e formas diferentes de lidar com os problemas. No segundo grupo estão as pessoas com transtornos depressivos, personalidades melancólicas. Algumas podem ter distimia,a doença do mau humor. Para elas tudo é ruim e vai dar errado. E mesmo quando ganham na loteria não ficam extremamente felizes. Precisam procurar tratamento porque estão doentes e necessitam de ajuda terapêutica e medicamentosa.”
A personal trainer Brenda Rawicz Bricio diz que o sorriso é o maior antídoto para as pessoas que lamentam muito
As pessoas andam irritadiças, de cara amarrada e sem paciência. O estresse é o vilão. Culpam a falta de tempo e os problemas do dia a dia. Mas há aquelas que encaram os mesmos dilemas e são bem-humoradas. Não se deixam abater pelas dificuldades que todos encaram. Será que tem um segredo, uma receita para levar a vida de forma mais leve?
Problemas todos têm. Dias ruins também. No entanto, muitas internalizam uma amargura que se apresenta na testa franzida, no bico, na falta de educação. Às vezes, pedir licença e dar bom-dia se tornam atitudes raras e até um sacrifício. Por outro lado, há quem se propõe contagiar pela alegria. Trabalha mental e espiritualmente para ter a felicidade como companhia. Não é viver num mundo cor-de-rosa, numa bolha. Pelo contrário. É se condicionar a buscar um temperamento que não maltrate seu fígado, mas que faça ter mais serotonina correndo nas veias.
Para servir de inspiração, apresentamos Gisele Aparecida Vianini, analista de recursos humanos, Renato Messias Soares da Silva, porteiro, e Brenda Rawicz Bricio, personal trainer, mineiros que fizeram uma resolução pessoal e interna: buscar o sorriso em primeiro lugar.
O primeiro exemplo é de uma filha obediente. Brenda Rawicz Bricio aprendeu com a mãe, Miriam, que o bom humor e a busca para estar bem são as coisas mais importantes para uma vida com menos intempéries, mais tranquila. “E o sorriso é o maior antídoto diante de quem só reclama da vida e não se cansa de lamentar. Ninguém ganha nada em ficar bravo e perder a paciência com os obstáculos diários. O ideal é sublimar, respirar fundo.”
SUPERAÇÃO Brenda, formada em educação física, vaidosa e com um corpão, passou por uma provação que só mesmo o sorriso para aliviar a dor. “Nunca sofri tanto, quase morri. Tive um hematoma no cérebro, abri a cabeça, tinha o cabelo na cintura e raspei. Ficar careca foi o de menos. Recusei peruca e passei por tudo sem ficar triste. Agradecia por estar viva e por não ter tido sequela. Sou vaidosa, mas mesmo antes de enfrentar essa barra, sempre soube que há coisas mais importantes, as pequenas, aquelas que realmente nos fazem felizes.”
A personal trainer conta que tem prazer em fazer as pessoas se sentirem bem. Tanto que, na época do Orkut, os amigos criaram uma comunidade – “A Brenda me faz rir”. “Fico feliz em arrancar o mau humor de alguém. Ganho o dia se a pessoa chega tensa, de cara fechada e,com jeitinho, a faço relaxar. Lógico que, como todo mundo, tenho problemas, não fantasio e não vivo em um mundo perfeito. Ele não existe. Mas a tristeza me incomoda tanto que faço tudo para superá-la. Seja a minha ou a dos outros, procuro e penso sempre em transformá-la em algo melhor. Não é num passe de mágica, mas é possível. Faço de forma natural. Esse é o meu jeito.O bom humor faz parte da minha vida, da dos meu pais e do meu marido, Paulo Marcos. Nossa missão, aliás, é nos divertir 24 horas por dia. Recomendo.”
Gerações distintas com a mesma sabedoria. A opção por ser contente, risonho e animado e não rabugento, intolerante, lamuriante, queixoso, resmungão e tantos outros adjetivos que conhecer para a falta de humor é uma escolha de vida. Gisele Aparecida Vianini, analista de recursos humanos, mineira de São João del-Rei, moradora de Contagem, é daquelas pessoas que nasceu de bem com vida. Uma característica do seu DNA, estar sempre “pra cima”. Ela conta que “acordo bem e sigo assim o dia, sem me deixar envolver pela amargura”. Por outro lado, é bom que saibam que Gisele não faz o papel de boazinha, no sentido de ser passiva, aceitar tudo. “Às vezes, perco o controle. As pessoas acham que sou zen. Mas se saio da minha calmaria nunca guardo raiva, rancor e, por isso, se algo me incomoda, falo o que devo, na hora, e me faço ser ouvida”. Vida que segue, “e sem cara amarrada”.
O sorriso é a marca de Gisele. É sua assinatura para a vida. E ela não escolhe a quem brindar com esse cartão de visitas. Mesmo nas horas ruins. “Gosto de beijar, abraçar é fundamental, e nada melhor do que o sorriso até nas fechadas de trânsito. Eu me preocupo em estar bem. Se vivo tristezas ou amarguras, digo sempre que não há nada tão ruim que não possa melhorar e contornar. Sou assim.” A analista enfatiza que escolheu sorrir porque não quer ser carrancuda. “Falam que estou sempre animada. É verdade, mas também me apoio em quem está ao meu lado. É nisso que me seguro diariamente e ensino para minha filha, Maria Clara, de 12 anos. Às vezes, levo uma encarada, mas não tem problema. Pelo menos tentei e, quando você tem atitude, sofre menos.”
Casada com Joel da Cunha há 15 anos, ela acaba de completar bodas de cristal. Gisele conta que até nos casos de doença não entra em desespero. “Não sei de onde vem. Aliás, acho que nossa força está no que cremos. É o que nos dá base. Busco estabilizar e pensar em coisas boas.” Prova de que “luta” diariamente para manter o bom humor é a maneira como ela venceu uma das piores fases da vida. “Primeiro, perdi um emprego de mais de 20 anos em dezembro de 2011. Não fiquei com raiva e, sim, pensei em me fortalecer na família e nas pessoas que me amam. Sabia que existia vida fora da empresa. Fiquei chateada, mas continuei feliz. E depois, nesse intervalo, precisei encarar o câncer do meu pai. Foram 34 dias, entre agosto e setembro de 2012, em que pedi a Deus em oração para levá-lo da melhor forma para ele, que sempre foi dinâmico. Quando se foi, não vivi uma pancada, fiquei tranquila pela força espiritual. É o que nos deixa de pé.”
O porteiro Renato Messias Soares da Silva é um exemplo de que o bom humor faz bem à saúde. Para se embriagar, basta querer
MUDANÇA A alegria do porteiro Renato Messias Soares da Silva, de 53 anos, foi uma descoberta. Percebeu que a seriedade que transmitia era causada pela timidez e foi imposta pelo mercado de trabalho. Então, decidiu mudar. “Aos poucos, passei a me entender e me conhecer melhor. Ser porteiro é o espelho de um prédio. Exijo respeito, mas cara fechada não pode. Não deixo o mau humor dos outros e os obstáculos da vida estragarem meu dia. Esse é o meu compromisso.” Ele ensina que é preciso mandar para escanteio o estresse do dia a dia, a falta de educação de muitas pessoas, a irritabilidade no transitar pela cidade, a falta de tempo, a indignação pelo desrespeito, enfim, uma lista de obstáculos que várias pessoas usam para justificar a sisudez cotidiana. “Faz mal. Além do mais, se ficar nervoso, impaciente e desequilibrado vai levar para casa e a mulher e os filhos não têm nada com isso. Do mesmo modo, os problemas particulares não podem afetar o trabalho nem a relação com o outro.”
Renato enfatiza que sorrir é melhor que lamentar. E só reclamar é bem chato. “Cansa.” Por isso, há 16 anos num mesmo emprego, ele é reconhecido e aplaudido pelo bom humor. Prédio comercial, com muitos consultórios médicos, vários pacientes aguardam o dia da consulta para ser recebidos com sua alegria. “Sem perder o respeito, cumprimento, brinco, elogio, dou conselhos e distribuo bombom para os colegas. Às vezes, percebo e levanto a autoestima de quem está desanimado. Aperto a mão das senhoras, digo que estão chiquérrimas. Se alguém chegou de mau humor, trato tão bem que o desarmo, conto piada, faço uma graça e, no fim, ganho o sorriso. E ganho o dia. É assim que gosto de viver, seja na fila do banco ou na do caixa do supermercado.” Casado com Gilcélia há 20 anos e pai de Maria Gisele, Natália e Maria Letícia, Renato garante que em casa a alegria é a mesma. “É espontânea. A gargalhada é música na minha família.”
Equilíbrio interno
Estado de espírito. O humor é determinado pela personalidade de quem ri, pela disposição e bem estar psicológico de cada um. Na história, a partir do século 6 a.C., os filósofos gregos começaram a buscar explicações naturais para a vida, o universo e tantas outras. Na visão grega, o corpo era composto de quatro humores —sangue, fleuma, bílis amarela e bílis negra e os distúrbios eram decorrentes do desequilíbrio entre eles, que regulariam a saúde física e emocional humana. Há também a ideia de que o humor ajuda na compreensão de culturas, religiões e costumes das sociedades de maneira ampla, sendo vital da condição humana. O homem é o único animal que ri.
Para a psicanalista Inez Lemos, o mau humor é um traço da nossa cultura e todo comportamento social reflete um discurso, e, no caso, é o da queixa. “Adoramos reclamar, nos fazer de vítimas, produzir um mau humor, já que com isso vendemos um fracasso que não existe, o que pode gerar algum ganho – afinal, a ordem é ‘levar vantagem em tudo’.”
Ela explica que esse comportamento é típico de pessoas neuróticas, que não tiveram oportunidade ou não quiseram questionar e analisar o sintoma. Inez conta que cada sujeito traz registros psíquicos que revelam o humor, as posturas, definindo-o “se é uma pessoa de bom astral ou não”. Ela destaca ainda que “se uma criança cresce entre adultos mal-humorados, intolerantes, impulsivos ou mães deprimidas, ela pode ser contaminada. Contudo, se crescemos entre pessoas positivas e alegres, que sabem lidar com as adversidades e frustrações, as chances de nos tornarmos pessoas ‘de bem com a vida’ são grandes”.
Harmonia
Por outro lado, Inez lembra que, no campo objetivo, o mau humor pode surgir em função de um cotidiano estressado, trânsito carregado, trabalho excessivo, violência, declínio da vida afetiva, filhos, etc. “Porém, há pessoas que,mesmo diante das chaturas da vida, conseguem manter um sorriso, ser gentis, tolerantes.” Ela reforça o que sempre diz: “Viver bem é para profissionais, não para amadores. E os profissionais do bem viver são aqueles que conquistaram equilíbrio interno, que estabelecem uma relação harmônica com a vida, lutaram para adquirir estrutura e elegância na alma”. Com segurança, a psicanalista enfatiza que há sempre uma forma de driblar a cultura, convocar forças e sabedoria ao enfrentar as dificuldades do mundo. “A vida de prazer é muito boa, mas é o sofrimento que nos molda”. Por mais repetitivo que seja para alguns, até clichê, na real “significa que o bonito é aprender com os fracassos e manter a alegria, o gosto pela vida. Não são os objetos que enfeitam o mundo, mas as pessoas coloridas, radiantes e iluminadas por dentro”. Um conselho? É de graça e de quem tem know-how para falar: “Bom humor é conquista. Vale a pena persegui-lo e lutar por ele”.
Cynthia Dias Pinto Coelho, Psicóloga
“Existe uma gama ampla de estados de humor, mas basicamente podemos analisá-lo por dois ângulos. Há um grupo de pessoas que têm o humor normal, sem alterações e outro que apresenta algum tipo de transtorno de humor. No primeiro existem algumas pessoas que têm uma atitude de vida diferenciada, bem-humorada, comportamento esse que é uma escolha. Acreditam que tudo vai dar certo e encaram o desafio com a certeza de que vão superá-lo,mesmo que parcialmente. Essas pessoas vão buscar força e formas diferentes de lidar com os problemas. No segundo grupo estão as pessoas com transtornos depressivos, personalidades melancólicas. Algumas podem ter distimia,a doença do mau humor. Para elas tudo é ruim e vai dar errado. E mesmo quando ganham na loteria não ficam extremamente felizes. Precisam procurar tratamento porque estão doentes e necessitam de ajuda terapêutica e medicamentosa.”