Médica testa técnica que regenera nervo ligado às expressões do rosto
Os resultados são melhores do que os apresentados pelos tratamentos atuais
Vilhena Soares - Correio Braziliense
Publicação:01/08/2013 16:00Atualização: 01/08/2013 16:26
As paralisias no rosto causam grandes estragos. Interferem em aspectos fisiológicos, como a incapacidade de piscar os olhos, que pode levar à cegueira; e sociais, já que as expressões faciais ficam comprometidas. O tratamento para o problema costuma ser complexo. Em busca de aprimorar esse processo, a otorrinolaringologista Raquel Salomone decidiu testar, em seu doutorado na Universidade de São Paulo (USP), uma nova técnica para recuperar movimentos faciais utilizando células-tronco. O experimento inicial foi feito com ratos e obteve sucesso, além da premiação no Congresso Mundial de Otorrinolaringologia, em junho, na Coreia do Sul, na categoria jovem cientista.
Desde 2006, Raquel atua no Ambulatório de Paralisia Facial Periférica da Faculdade de Medicina da USP. O interesse em criar uma técnica que aprimorasse tratamentos para ajudar a corrigir esse tipo de problema no rosto foi despertado nesse período. “A minha iniciativa surgiu justamente dos resultados ruins de alguns casos de paralisia facial e da inúmeras possibilidades que as células-tronco proporcionam”, conta. Salomone resolveu realizar a pesquisa com ratos e provar a suspeita de que, por meio de células-tronco, seria possível regenerar o nervo facial danificado. “Essa é a grande questão da minha pesquisa: Consegui provar que é possível justamente por elas ‘suprirem’ a falta das células necessárias para a regeneração neural”, explica a pesquisadora.
Na técnica realizada por Salomone, os animais foram submetidos a neurotmese — um trauma físico grave nos nervos. Para isso, foi cortado um pedaço do sétimo nervo craniano das cobaias, deixando um espaço entre as duas partes remanescentes. A lesão induzida foi a mais crítica possível, com prejuízos além dos da maioria dos casos clínicos. Os ratos com paralisia foram, então, divididos em grupos: parte deles foi tratada com um tubo de silicone vazio; outra, com um gel colocado dentro do tubo de silicone; o terceiro grupo recebeu células-tronco no tubo; e o quarto, células-tronco diferenciadas em células de Schwann, uma espécie de capa que reveste os axônios, que constituem os nervos.
Os ratos tratados com células-tronco tiveram melhoras quando comparados aos resultados obtidos com as cobaias submetidas aos outros dois tratamentos. “Todos os tipos de lesões neurais que causam sequelas, como as axoniotmeses e as neurotmeses, foram o foco da pesquisa. As células-tronco fariam o papel e/ou dariam suporte para que as células envolvidas na regeneração neural, como as células de Schwann, pudessem sobreviver”, destaca Raquel. “Todos os animais nos quais foram implantadas células-tronco (indiferenciadas ou já diferenciadas) tiveram melhora muito mais expressiva do que os outros que receberam outros materiais. Confirmamos, assim, a hipótese de que as células-tronco podem realmente contribuir para a regeneração do nervo.”
Outra constatação importante foi o sucesso maior obtido com as células-tronco indiferenciadas. A pesquisadora acredita que isso se deve ao uso do tubo de silicone no tratamento. “Como são capazes de desempenhar múltiplas funções, as células de Schwann precisam de um maior substrato para sobreviver, e isso foi dificultado pelo tubo”, diz.
Recuperação complexa
Para Silvio Caldas, chefe do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), há outros estudos que propõem o uso de células-tronco para estimular nervos, mas ele ressalta que a pesquisa realizada por Salomone se diferencia pela uso de uma técnica bem-sucedida e por estar focada nos nervos faciais, uma estrutura muito complexa de tratamento. “A pele se regenera rápido porque suas células cutâneas têm regeneração alta, os nervos não”, compara. “Por isso, sempre procuramos algo, sejam substâncias químicas, sejam técnicas cirúrgicas, que ajudasse a estimular os nervos.”
Caldas destaca que o local em que as células-tronco foram aplicadas fez toda a diferença para o trabalho ter atingido um resultado satisfatório. “Diferentemente de outras técnicas, essa da USP não busca o tratamento na célula, mas, em seu prolongamento, o local responsável pela regeneração, o axônio”, explica. Os axônios são revestidos por uma capa formada pelas células de Schwann, que dão ao nervo o suporte de que ele necessita. A regeneração do nervo, portanto, depende dessa estrutura celular.
Segundo Salomone, a pesquisa continua. O próximo passo é implantar células-tronco humanas nos animais submetidos a neurotmese. Caso a melhora seja novamente detectada, a etapa seguinte será o estudo clínico, com a adoção do procedimento em pacientes de cirurgia para reconstituição do nervo facial. “Ganhar o prêmio no Congresso Mundial de Otorrinolaringologia, um dos mais importantes na área, com concorrentes de várias universidades do mundo, como a Harvard, prova que, se houver apoio, temos muita capacidade”, destaca.
Desde 2006, Raquel atua no Ambulatório de Paralisia Facial Periférica da Faculdade de Medicina da USP. O interesse em criar uma técnica que aprimorasse tratamentos para ajudar a corrigir esse tipo de problema no rosto foi despertado nesse período. “A minha iniciativa surgiu justamente dos resultados ruins de alguns casos de paralisia facial e da inúmeras possibilidades que as células-tronco proporcionam”, conta. Salomone resolveu realizar a pesquisa com ratos e provar a suspeita de que, por meio de células-tronco, seria possível regenerar o nervo facial danificado. “Essa é a grande questão da minha pesquisa: Consegui provar que é possível justamente por elas ‘suprirem’ a falta das células necessárias para a regeneração neural”, explica a pesquisadora.
Na técnica realizada por Salomone, os animais foram submetidos a neurotmese — um trauma físico grave nos nervos. Para isso, foi cortado um pedaço do sétimo nervo craniano das cobaias, deixando um espaço entre as duas partes remanescentes. A lesão induzida foi a mais crítica possível, com prejuízos além dos da maioria dos casos clínicos. Os ratos com paralisia foram, então, divididos em grupos: parte deles foi tratada com um tubo de silicone vazio; outra, com um gel colocado dentro do tubo de silicone; o terceiro grupo recebeu células-tronco no tubo; e o quarto, células-tronco diferenciadas em células de Schwann, uma espécie de capa que reveste os axônios, que constituem os nervos.
Os ratos tratados com células-tronco tiveram melhoras quando comparados aos resultados obtidos com as cobaias submetidas aos outros dois tratamentos. “Todos os tipos de lesões neurais que causam sequelas, como as axoniotmeses e as neurotmeses, foram o foco da pesquisa. As células-tronco fariam o papel e/ou dariam suporte para que as células envolvidas na regeneração neural, como as células de Schwann, pudessem sobreviver”, destaca Raquel. “Todos os animais nos quais foram implantadas células-tronco (indiferenciadas ou já diferenciadas) tiveram melhora muito mais expressiva do que os outros que receberam outros materiais. Confirmamos, assim, a hipótese de que as células-tronco podem realmente contribuir para a regeneração do nervo.”
Outra constatação importante foi o sucesso maior obtido com as células-tronco indiferenciadas. A pesquisadora acredita que isso se deve ao uso do tubo de silicone no tratamento. “Como são capazes de desempenhar múltiplas funções, as células de Schwann precisam de um maior substrato para sobreviver, e isso foi dificultado pelo tubo”, diz.
Recuperação complexa
Para Silvio Caldas, chefe do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), há outros estudos que propõem o uso de células-tronco para estimular nervos, mas ele ressalta que a pesquisa realizada por Salomone se diferencia pela uso de uma técnica bem-sucedida e por estar focada nos nervos faciais, uma estrutura muito complexa de tratamento. “A pele se regenera rápido porque suas células cutâneas têm regeneração alta, os nervos não”, compara. “Por isso, sempre procuramos algo, sejam substâncias químicas, sejam técnicas cirúrgicas, que ajudasse a estimular os nervos.”
Caldas destaca que o local em que as células-tronco foram aplicadas fez toda a diferença para o trabalho ter atingido um resultado satisfatório. “Diferentemente de outras técnicas, essa da USP não busca o tratamento na célula, mas, em seu prolongamento, o local responsável pela regeneração, o axônio”, explica. Os axônios são revestidos por uma capa formada pelas células de Schwann, que dão ao nervo o suporte de que ele necessita. A regeneração do nervo, portanto, depende dessa estrutura celular.
Segundo Salomone, a pesquisa continua. O próximo passo é implantar células-tronco humanas nos animais submetidos a neurotmese. Caso a melhora seja novamente detectada, a etapa seguinte será o estudo clínico, com a adoção do procedimento em pacientes de cirurgia para reconstituição do nervo facial. “Ganhar o prêmio no Congresso Mundial de Otorrinolaringologia, um dos mais importantes na área, com concorrentes de várias universidades do mundo, como a Harvard, prova que, se houver apoio, temos muita capacidade”, destaca.