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Diferentes estudos mostram que cada vez mais pessoas recorrem à web para encontrar um parceiro

Análise mais recente sobre o assunto feita nos EUA revelou que mais de um terço das pessoas que se casaram nos Estados Unidos entre 2005 e 2012 conheceram os parceiros pela internet

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Isabela de Oliveira - Correio Braziliense Publicação:02/08/2013 14:30Atualização:02/08/2013 16:03
Por que isso acontece? O principal motivo é a enorme oferta na rede (Valdo Virgo)
Por que isso acontece? O principal motivo é a enorme oferta na rede
A noite de sexta-feira chega e boa parte das pessoas está ansiosa para ir a bares e boates, que fervilham de oportunidades para novos relacionamentos. No entanto, um grupo expressivo de solteiros prefere ficar em casa. Não que a paquera esteja, necessariamente, fora de cogitação. Afinal, a cara-metade pode estar a três palmos do nariz, esperando nas redes sociais, nas salas de bate-papo ou nos sites especializados em encontros. Mais do que um modismo, o uso da internet para conhecer um parceiro veio para ficar, revelam estudos científicos. Essas pesquisas mostram que a rede mundial não alterou apenas as relações de trabalho e a forma de consumir, informar-se ou conversar com amigos. A web estabeleceu também uma nova maneira de viver o amor.

A análise mais recente sobre o assunto revelou que mais de um terço das pessoas que se casaram nos Estados Unidos entre 2005 e 2012 conheceram os parceiros pela internet. Feito por especialistas da Universidade de Chicago, do Gestalt Research e da Universidade de Harvard, o estudo entrevistou 19.131 homens e mulheres americanos de diferentes idades, etnias e classes sociais.

O dado pode surpreender muitas pessoas, mas não espanta os cientistas. “A internet mudou a forma de as pessoas fazerem muitas coisas, então faz sentido que mude também a forma de iniciar um relacionamento”, afirma Harry Reis, psicólogo da Universidade de Rochester. Reis não participou do estudo divulgado há poucos dias, mas conduziu, em 2012, uma análise que chegou a dados parecidos.

Depois de avaliar mais de 400 pesquisas sobre sites de encontros, Reis e colegas concluíram que essas páginas são a segunda forma mais comum de achar um novo parceiro nos EUA, ficando atrás da indicação de amigos. O estudo, publicado no jornal Psychological Science in the Public Interest, menciona um levantamento da Universidade de Stanford segundo o qual o fenômeno cresce rapidamente: enquanto, em 1998, menos de 5% dos heterossexuais norte-americanos haviam conhecido seus parceiros on-line, em 2009, esse índice era de 22%.

Por que isso acontece? O principal motivo é a enorme oferta na rede. “Existe a possibilidade de conhecer mais gente em menos tempo. Se a pessoa vai a uma festa, ela se concentra em apenas um alvo. Na internet, pode encontrar cinco ou seis pessoas de uma só vez”, diz José Antonio Ramalho, autor de Amar.com: relacionamento nos tempos da internet, Editora Gente.

Preconceito Os estudos também desmentem uma ideia ainda comum de que os contatos virtuais não levam a relações duradouras e felizes. No artigo divulgado na última semana, por exemplo, o índice de separações entre as pessoas que tinham conhecido o companheiro na internet era um pouco menor do que entre aqueles que tinham iniciado o relacionamento off-line (5,96% contra 7,67%). Os autores, contudo, ressaltam que isso não prova que encontros on-line são mais eficientes. A diferença pode estar relacionada a questões subjetivas.

Para o casal Maria Aparecida do Carmo, de 44 anos, e Andreison Gomes, de 37, a paquera virtual deu certo. Eles se conheceram na rede social Orkut, em 2010. “Ela me enviava mensagens anônimas, até que resolvemos conversar melhor no MSN. Começamos às 15h de sábado e só paramos às 3h de domingo”, lembra o agente de saúde. Na segunda-feira, eles se encontraram e engataram o namoro. “Tivemos sucesso no relacionamento porque nunca mentimos um para o outro”, conta Cida. “Enfrentamos preconceito, mas estamos juntos há três anos e vamos nos casar”, comemora.

No Brasil, faltam análises detalhadas como as produzidas nos EUA, mas a grande procura por sites especializados em encontros indica que os internautas do país não dispensam a ajuda da tecnologia na hora de buscar um companheiro. Um dos mais populares, o ParPerfeito, conta com cerca de 2 milhões de usuários ativos, segundo Gaël Deheneffe, diretor de Produtos da empresa. Desses, 53,65% são homens e 46,35%, mulheres.

Após se conhecerem pelo Orkut, Cida e Andreison estão com casamento marcado (Antonio Cunha/Esp. CB/D.A Press)
Após se conhecerem pelo Orkut, Cida e Andreison estão com casamento marcado
Um site assim uniu Alan Ferreira, de 25 anos, e Joyce Alves, de 24, que se conheceram em 2010, em Belo Horizonte. “Eu já tinha me frustrado antes, quando conheci on-line uma menina que mentiu para mim. Daí, tentei um site de encontros. Na época, paguei R$ 120 para ter acesso ilimitado durante seis meses e conheci a Joyce.” Para ele, a possibilidade de filtrar o perfil dos usuários influenciou a decisão de procurar a página especializada. “Eu queria alguém da minha idade, que morasse com os pais, não fumasse nem bebesse”, lista Alan.

Mudança

A recente pesquisa americana encontrou outro dado curioso: em média, o nível de satisfação com o relacionamento é levemente maior entre aqueles que conheceram o parceiro on-line, em especial nos sites de encontros, segundo questionários respondidos pelos participantes. A princípio, o dado soa como um argumento de que a filtragem promovida por esses serviços, e que atraiu Alan, favoreça encontros mais felizes. Mas, novamente, os autores lembram que muitos fatores podem estar por trás do resultado. “É possível que os indivíduos que conheceram seus cônjuges on-line se diferenciem, por exemplo, em personalidade, motivação para uma relação de longo prazo ou algum outro fator”, escrevem em artigo publicado numa revista recentemente.

Em outras palavras, talvez não seja o mecanismo de seleção utilizado pelos sites especializados que gere relações mais satisfatórias, mas o perfil dos usuários. “As pessoas que participam dessas páginas geralmente são mais velhas, independentes financeiramente e já tentaram outras formas de relacionamento que não deram certo”, lembra Carlos Augusto de Medeiros, coordenador do curso de mestrado em psicologia do Centro Universitário de Brasília (UniCeub). O especialista em relacionamentos pela internet Jeffrey Hall, professor da Universidade do Kansas, faz um raciocínio parecido: “Os entrevistados no estudo que conheceram o companheiro on-line são mais maduros e têm um nível de escolaridade maior. Eles parecem estar num ponto da vida em que compromisso é mais vantajoso para eles”.

Uma coisa é certa, no entanto. O universo virtual significa uma mudança profunda na forma de procurar um parceiro romântico. “No on-line, há uma inversão nos critérios: primeiro se conhece a personalidade da pessoa. A estética vem apenas depois”, avalia Sérgio Freire, especialista em linguística e professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

O novo caminho do flerte, como tudo, traz vantagens e desvantagens, conforme averiguou o estudo realizado por Harry Reis. Apesar das várias facilidades, a internet tem armadilhas. Os contatos on-line não fornecem a experiência completa de conhecer alguém, o que pode levar a decepções. Além disso, a troca prolongada de mensagens pode gerar expectativas exageradas. A internet ajuda, mas não faz mágica. (Colaborou Humberto Rezende)

DUAS PERGUNTAS PARA...
Gian C. Gonzaga - pesquisador do Gestalt Research, na Califórnia, e coautor do estudo sobre casamentos que se iniciaram na internet


As interações românticas on-line crescem em todo o mundo ou isso depende da cultura?
Os relacionamentos são influenciados pelas culturas, mas a internet tem vantagens que podem atravessar todas elas. Ela pode ajudar a pessoa a encontrar um parceiro romântico, e, se ela procurar por alguém com personalidade e valores parecidos, pode ter mais chance de desenvolver um bom relacionamento. Assim, as relações on-line podem ser tão satisfatórias no Brasil quanto nos EUA.

Que tipo de resultados as relações on-line podem trazer a longo prazo?

Eu acho que as pessoas vão usar a tecnologia cada vez mais em seus relacionamentos. Você já pode ver isso acontecendo. As pessoas não só usam a internet para conhecer potenciais parceiros, mas também usam mensagens de texto para se manter em contato, chamadas de vídeo e calendários on-line para coordenar os horários. Se as pessoas usarem a tecnologia da maneira certa, podem melhorar as relações. Mas a tecnologia também pode ficar no caminho dos relacionamentos. Alguns olham mais para os smartphones do que para eles mesmos. A tecnologia pode ajudar ou prejudicar um relacionamento, tudo depende de como as pessoas a usam.

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