Carinho pelos animais é misterioso e parece que as pessoas já nascem com ele
Conheça a história de três pessoas que gostam tanto dos pets que jamais conseguiriam ter um só
Revista do CB - Correio Braziliense
Publicação:14/08/2013 14:00Atualização: 12/08/2013 10:05
A lição do frango
A história de Renata Dias, 21 anos, com animais vem de longa data. A estudante e assessora de marketing conta que seu primeiro contato com um animal de estimação foi aos 2 anos. Sua mãe, a empresária Maria Amélia Campos Dias, 44, comprou um passarinho para a família. Renata diz que foi amor à primeira vista. “Eu gostava tanto dele que ficava sentada horas na frente da gaiola, até que um dia eu não sei o que aprontei, que caí no chão com a gaiola e tudo”, ri.
Ela conta que sempre pedia animais para a mãe, mas a família morava em uma casa pequena — ficava complicado ter muitos pets. Quando a família se mudou para um espaço mais amplo, Renata, então com 4 anos, ganhou uma dachshund chamada Flicka. Durante cinco anos, a família conviveu apenas com Flicka e com um papagaio. “Eu amava os dois, vivia andando com o papagaio na minha minha cabeça”, conta.
O resultado foi que a família ficou sem almoço. Renata fez amizade com o frango e não permitiu que ele fosse morto. A mãe foi conversar com a menina, explicando que bicho era um alimento e que ela comia carne todos os dias. Nesse momento, Renata, que tinha 9 anos, tomou uma decisão: “Então não vou mais comer frango”. Os pais acharam que era uma fase, mas o fato é que, daquele dia em diante, ela se tornou vegetariana.
E a história não acabou aí. Quando a família se mudou para Brasília, as duas cadelas, Flicka e Brisa vieram na bagagem. Nesse momento, houve a tentativa de adotar um hamster. Mas Renata teve uma forte alergia e ele precisou ser doado. Daí Renata encontrou um pássaro ferido na rua e não pensou duas vezes em abrigá-lo. “Meu avô sempre gostou de animais e me ajudou a cuidar desse passarinho, ele voltou a voar e acabamos descobrindo que ele era um gavião.” Depois de um mês se recuperando, o gavião acabou não se adaptando à vida doméstica e morreu.
Renata tem dois irmãos: Rafaela, 25, e Luiz Eduardo, 9. Porém, o conceito de família vive se expandindo. Quando Flicka morreu, a casa ganhou a poodle Mel. “Ela foi meu xodó, tinha até pijaminha para dormir comigo”, conta a estudante. Depois, veio o peixe beta Mário Neto, que viveu dois anos, feliz em seu aquário. A seu tempo, Brisa e Mel também se foram. Ficaram, porém, os filhotinhos desta, Pitty e Tita. Os agregados mais recentes são Cravo e Rosa, papagaios devidamente autorizados pelo Ibama. “Eu tenho pelos animais o mesmo sentimento que tenho pelas pessoas, não consigo vê-los como seres inferiores”, conclui a defensora dos animais.
Cabe mais um?
O apartamento é tranquilo e cheiroso, não há sinal de pelos espalhados pela casa. Na entrada, a recepção de Benji, um spitz alemão, o cachorro da família. Aos poucos, é possível notar movimentos pelo espaço — são os gatos da família, que vão saindo de seus esconderijos. A bibliotecária Cláudia Guimarães, 49 anos, divide o apartamento na Asa Norte com a filha, Marília, 23, o marido, Marcelo Fagundes, 51, o já citado Benji e 15 gatos.
O número de pets é grande, mas o amor por eles é ainda maior. Cláudia conta que não consegue definir qual foi o momento exato em que se apaixonou por animais. “Eu pegava muitos animais na rua. Morava em casa e cuidava dos gatos que viviam por ali, nos telhados ou na rua.” Em suas lembranças mais remotas, os bichanos são uma constante. Certa vez, aos 4 anos, ela frustrou uma ida da família ao cinema para não se afastar da gatinha de estimação. “Comecei falando bem baixinho, depois fui aumentando a voz: ‘Quero ir para casa brincar com minha gata’. Até minha mãe me levar embora”, diverte-se.
Cláudia cresceu e sua relação com os animais foi ficando cada vez mais forte. Em 2005, em parceria com duas amigas, criou um grupo independente de protetores, o Salvando Vidas. “Cada uma já fazia o seu trabalho isolado e, a partir daí, foram surgindo as feirinhas de adoção e eventos de arrecadação”, explica. Hoje, o grupo conta com cerca de seis membros fixos, além de pessoas que ajudam esporadicamente.
A bibliotecária faz da sua casa um lar temporário para gatos que aguardam adoção, já que o grupo não dispõe de um abrigo. As responsabilidade é grande. “Tem que ter muito amor, porque dá trabalho. Eles ficam doentes, alguns têm que ficar separados, senão brigam”, reconhece a voluntária, que tenta acompanhar a vida posterior de cada um dos seus hóspedes.
“The crazy cat lady”
O apelido acima pertence a Manuela Muguruza de Morais, 26 anos. Em português, “a mulher louca dos gatos” — alcunha inventada pela própria antropóloga para definir seu amor pelos bichanos. Ela conta que começou a ter contato com gatos desde muito nova. Aos 4 anos, alimentava gatos de rua que viviam nas proximidades do trabalho da mãe. Já aos 8, a família comprou uma chácara, onde viviam alguns gatos, que instantaneamente se tornaram os xodós da garota. Manuela conta que uma das experiências mais marcantes que viveu com animais foi nessa época. Uma das gatas estava grávida e, quando a família chegou para o fim de semana, foi recebê-los no carro, mesmo com chuva. Manuela começou a seguir a gata, que se escondeu em uma pequena casa de bonecas para ter seus filhotinhos. “Achava que ela não ia me querer ali naquele momento, mas quando eu me levantava, a gata ia junto. Percebi que ela queria que eu estivesse ao seu lado”, emociona-se.
Quando ela e a mãe mudaram de cidade, o carinho teve de esperar um pouco. Manuela passou oito anos sem um gatinho para chamar de seu. Para espantar a saudade, decorou o quarto todo com fotos de felino. Quando saiu de casa, aos 19, não perdeu tempo e adotou uma gata, Nina, com quem vive até hoje. A gatinha reinou solitária até a antropóloga trocar a quitinete por um apartamento maior. Aí foi uma farra. “Cheguei a ter sete gatos, todos adotados”, enumera.
Hoje, em um apartamento de três quartos, Manuela vive com o namorado, o acupunturista Marco Aurélio Ferreira, 30 anos, e mais cinco bichanos: Nina, Mia, Meg, Mafalda e Fox. Marco era daqueles que prefere cães, mas acabou se adaptando. Foi ele quem escolheu o nome do único gato macho, Fox. O casal o resgatou de dentro do motor de um carro. “Passamos a noite inteira na garagem, tentando atrair o gato. Quando o vimos, percebemos que seria fácil de doar, pois era muito bonito, mas o Marco disse que não, que esse seria o gato dele, porque todos os outros eu que tinha escolhido”, diverte-se.
Sempre que pode, a antropóloga oferece lar temporário para felinos de rua, mas explica que é complicado, pois eles precisam ficar isolados dos seus, que nem sempre se adaptam aos novos hóspedes. “É uma coisa de colecionador maluco, você sempre quer ter mais um, um exemplar diferente. Por isso, fazer o lar temporário é tão legal, você vai matando essa vontade”, justifica.
Há pouco tempo, a família ainda tinha oito membros, mas a sexta gatinha, acabou falecendo. “Foi uma das coisas mais difíceis que já vivi, minha primeira experiência com a morte”, relata a jovem. Carniça foi um dos resgates de Manuela e sofria de insufiência renal, devido a FeLV (Vírus da Leucemia Felina), uma doença que ataca o sistema imunológico. Manuela se envolveu tanto com a felina que guarda as cinzas de Carniça em uma pequena caixinha e explica que ainda não está pronta para se separar da amiga.
Para Luiz Eduardo, Maria Amélia e Renata, a família só está completa na presença dos cachorros e dos papagaios
A história de Renata Dias, 21 anos, com animais vem de longa data. A estudante e assessora de marketing conta que seu primeiro contato com um animal de estimação foi aos 2 anos. Sua mãe, a empresária Maria Amélia Campos Dias, 44, comprou um passarinho para a família. Renata diz que foi amor à primeira vista. “Eu gostava tanto dele que ficava sentada horas na frente da gaiola, até que um dia eu não sei o que aprontei, que caí no chão com a gaiola e tudo”, ri.
Ela conta que sempre pedia animais para a mãe, mas a família morava em uma casa pequena — ficava complicado ter muitos pets. Quando a família se mudou para um espaço mais amplo, Renata, então com 4 anos, ganhou uma dachshund chamada Flicka. Durante cinco anos, a família conviveu apenas com Flicka e com um papagaio. “Eu amava os dois, vivia andando com o papagaio na minha minha cabeça”, conta.
Saiba mais...
A jovem, no entanto, não se contentava com os pets que tinha. Sempre que via animais na rua, levava para casa, alimentava e tentava convencer a mãe a adotá-los. A questão do espaço era sempre ponderada por Maria Amélia, o que não impediu a chegada de Brisa, uma weimaraner. Foi nessa época que Renata viveu a experiência mais marcante em sua relação com os animais. A família morava no interior de Minas Gerais, onde havia o costume de comprar galinhas vivas, para cozinhar em casa. Um dia, Maria Amélia comprou um frango, deu as instruções para a cozinheira e saiu para trabalhar.- Mau hálito pode ser sintoma de algo mais sério com a saúde do bichinho de estimação
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O resultado foi que a família ficou sem almoço. Renata fez amizade com o frango e não permitiu que ele fosse morto. A mãe foi conversar com a menina, explicando que bicho era um alimento e que ela comia carne todos os dias. Nesse momento, Renata, que tinha 9 anos, tomou uma decisão: “Então não vou mais comer frango”. Os pais acharam que era uma fase, mas o fato é que, daquele dia em diante, ela se tornou vegetariana.
E a história não acabou aí. Quando a família se mudou para Brasília, as duas cadelas, Flicka e Brisa vieram na bagagem. Nesse momento, houve a tentativa de adotar um hamster. Mas Renata teve uma forte alergia e ele precisou ser doado. Daí Renata encontrou um pássaro ferido na rua e não pensou duas vezes em abrigá-lo. “Meu avô sempre gostou de animais e me ajudou a cuidar desse passarinho, ele voltou a voar e acabamos descobrindo que ele era um gavião.” Depois de um mês se recuperando, o gavião acabou não se adaptando à vida doméstica e morreu.
Renata tem dois irmãos: Rafaela, 25, e Luiz Eduardo, 9. Porém, o conceito de família vive se expandindo. Quando Flicka morreu, a casa ganhou a poodle Mel. “Ela foi meu xodó, tinha até pijaminha para dormir comigo”, conta a estudante. Depois, veio o peixe beta Mário Neto, que viveu dois anos, feliz em seu aquário. A seu tempo, Brisa e Mel também se foram. Ficaram, porém, os filhotinhos desta, Pitty e Tita. Os agregados mais recentes são Cravo e Rosa, papagaios devidamente autorizados pelo Ibama. “Eu tenho pelos animais o mesmo sentimento que tenho pelas pessoas, não consigo vê-los como seres inferiores”, conclui a defensora dos animais.
Cláudia Guimarães, sua filha, Marília, e uma amostra dos seus 15 hóspedes: o amor pelos gatos é uma missão
O apartamento é tranquilo e cheiroso, não há sinal de pelos espalhados pela casa. Na entrada, a recepção de Benji, um spitz alemão, o cachorro da família. Aos poucos, é possível notar movimentos pelo espaço — são os gatos da família, que vão saindo de seus esconderijos. A bibliotecária Cláudia Guimarães, 49 anos, divide o apartamento na Asa Norte com a filha, Marília, 23, o marido, Marcelo Fagundes, 51, o já citado Benji e 15 gatos.
O número de pets é grande, mas o amor por eles é ainda maior. Cláudia conta que não consegue definir qual foi o momento exato em que se apaixonou por animais. “Eu pegava muitos animais na rua. Morava em casa e cuidava dos gatos que viviam por ali, nos telhados ou na rua.” Em suas lembranças mais remotas, os bichanos são uma constante. Certa vez, aos 4 anos, ela frustrou uma ida da família ao cinema para não se afastar da gatinha de estimação. “Comecei falando bem baixinho, depois fui aumentando a voz: ‘Quero ir para casa brincar com minha gata’. Até minha mãe me levar embora”, diverte-se.
Cláudia cresceu e sua relação com os animais foi ficando cada vez mais forte. Em 2005, em parceria com duas amigas, criou um grupo independente de protetores, o Salvando Vidas. “Cada uma já fazia o seu trabalho isolado e, a partir daí, foram surgindo as feirinhas de adoção e eventos de arrecadação”, explica. Hoje, o grupo conta com cerca de seis membros fixos, além de pessoas que ajudam esporadicamente.
A bibliotecária faz da sua casa um lar temporário para gatos que aguardam adoção, já que o grupo não dispõe de um abrigo. As responsabilidade é grande. “Tem que ter muito amor, porque dá trabalho. Eles ficam doentes, alguns têm que ficar separados, senão brigam”, reconhece a voluntária, que tenta acompanhar a vida posterior de cada um dos seus hóspedes.
A antropóloga Manuela (na foto, com Nina) tem cinco felinos: "Cada um tem personalidade própria, uma história diferente"
O apelido acima pertence a Manuela Muguruza de Morais, 26 anos. Em português, “a mulher louca dos gatos” — alcunha inventada pela própria antropóloga para definir seu amor pelos bichanos. Ela conta que começou a ter contato com gatos desde muito nova. Aos 4 anos, alimentava gatos de rua que viviam nas proximidades do trabalho da mãe. Já aos 8, a família comprou uma chácara, onde viviam alguns gatos, que instantaneamente se tornaram os xodós da garota. Manuela conta que uma das experiências mais marcantes que viveu com animais foi nessa época. Uma das gatas estava grávida e, quando a família chegou para o fim de semana, foi recebê-los no carro, mesmo com chuva. Manuela começou a seguir a gata, que se escondeu em uma pequena casa de bonecas para ter seus filhotinhos. “Achava que ela não ia me querer ali naquele momento, mas quando eu me levantava, a gata ia junto. Percebi que ela queria que eu estivesse ao seu lado”, emociona-se.
Quando ela e a mãe mudaram de cidade, o carinho teve de esperar um pouco. Manuela passou oito anos sem um gatinho para chamar de seu. Para espantar a saudade, decorou o quarto todo com fotos de felino. Quando saiu de casa, aos 19, não perdeu tempo e adotou uma gata, Nina, com quem vive até hoje. A gatinha reinou solitária até a antropóloga trocar a quitinete por um apartamento maior. Aí foi uma farra. “Cheguei a ter sete gatos, todos adotados”, enumera.
Hoje, em um apartamento de três quartos, Manuela vive com o namorado, o acupunturista Marco Aurélio Ferreira, 30 anos, e mais cinco bichanos: Nina, Mia, Meg, Mafalda e Fox. Marco era daqueles que prefere cães, mas acabou se adaptando. Foi ele quem escolheu o nome do único gato macho, Fox. O casal o resgatou de dentro do motor de um carro. “Passamos a noite inteira na garagem, tentando atrair o gato. Quando o vimos, percebemos que seria fácil de doar, pois era muito bonito, mas o Marco disse que não, que esse seria o gato dele, porque todos os outros eu que tinha escolhido”, diverte-se.
Sempre que pode, a antropóloga oferece lar temporário para felinos de rua, mas explica que é complicado, pois eles precisam ficar isolados dos seus, que nem sempre se adaptam aos novos hóspedes. “É uma coisa de colecionador maluco, você sempre quer ter mais um, um exemplar diferente. Por isso, fazer o lar temporário é tão legal, você vai matando essa vontade”, justifica.
Há pouco tempo, a família ainda tinha oito membros, mas a sexta gatinha, acabou falecendo. “Foi uma das coisas mais difíceis que já vivi, minha primeira experiência com a morte”, relata a jovem. Carniça foi um dos resgates de Manuela e sofria de insufiência renal, devido a FeLV (Vírus da Leucemia Felina), uma doença que ataca o sistema imunológico. Manuela se envolveu tanto com a felina que guarda as cinzas de Carniça em uma pequena caixinha e explica que ainda não está pronta para se separar da amiga.