Crianças e adolescentes diabéticos se encontram na Grande BH para aprender a manter o tratamento sozinhos
Doença é a segunda mais comum na infância. A nova regra é estimular cada vez mais a independência da criança e do adolescente diagnosticado com o diabetes mellitus
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- Desatenção aos sinais de diabetes aumenta o perigo entre os jovens
- Apesar de não ser uma doença nova, diabetes é rodeada de mitos
- Tratamento para diabetes está cada vez mais individualizado
São cerca de 70 diabéticos reunidos em um hotel, participando de palestras, dinâmicas e atividades físicas. “Durante a colônia, eles aprendem a fazer a contagem de carboidratos para saber quanto de insulina devem aplicar. Nessa integração, vão também reconhecendo seus semelhantes, conhecendo as pessoas que convivem com a mesma questão”, disse.
Este ano, como caiu durante o feriado da Independência do Brasil, o acampamento teve como lema tornar os diabéticos mais independentes dos próprios pais. “De início, os pais ficam apavorados com a ideia de deixar o filho com mais de 8 anos dormir três noites fora de casa. Eles acham que ele não vai saber arrumar a cama, nem servir o próprio prato de comida, mas o menino sai aplicando a própria insulina", brinca o médico, entusiasta da ideia.
“Para conseguir soltar os filhos diabéticos, os pais devem buscar aumentar o conhecimento em relação à doença. Só assim vão conseguir confiar”, ensina a educadora em diabetes pela Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) Natália Fenner Pena. Além de mudar a alimentação e reduzir o consumo de doces, o diabético terá de seguir uma rotina diária e obrigatória, que inclui aplicar insulina e espetar as pontas dos dedos, de seis a oito vezes ao dia, como forma de medir a glicose no sangue.
MUDANÇA
Depois de participar do Diabetes Weekend, a criança diabética volta outra, compara Cristina Scarpelli, de 48 anos, moradora do Bairro Santo Antônio. Sua filha, Joana, de 12, participa da colônia pela terceira vez este ano. Na primeira, a mãe fez questão de acompanhar. “Na colônia, vi crianças perdendo o medo de espetar o dedo de seis a oito vezes ao dia para medir a glicemia. Pude sentir a alegria da minha filha quando uma colega a convidou para tomar insulina juntas. Ela percebeu que não estava sozinha no mundo”, afirma Cristina. Joana descobriu há sete anos ser portadora da doença.
A mãe de Joana contou que hoje a menina é uma pessoa independente, que sabe regular sozinha a alimentação, conhece o próprio corpo, faz esportes e chega a passar férias na casa de uma tia, longe dos pais, no interior do estado. Diariamente, Cristina liga para acompanhar as medições de glicose da filha. A insulina é injetada automaticamente por meio da bomba, espécie de pâncreas artificial acoplado ao corpo. “Quando digo que sou diabética as pessoas ficam muito assustadas. Acho esquisito. Às vezes, até esqueço que eu tenho diabetes”, disse Joana.
Fase de atenção
Estimular a independência do diabético de nascença ganha um complicador quando ele entra na pré-adolescência. Nessa fase, é preciso manter um olhar mais atento, devido à rebeldia natural da idade e ao aumento à resistência a insulina pelo organismo. “A transgressão do tratamento é maior na adolescência. Muitas vezes o jovem deixar de aplicar insulina por dois, três dias, tentando testar se ele tem mesmo diabetes”, alerta a nutricionista Cássia Nascimento.
A funcionária pública de Contagem Carla Fabrícia de Melo desconfiava que a filha Yasmim, de 12 anos, portadora de diabetes, estivesse comendo escondido. Com diagnóstico de diabetes tipo 1 desde os 9 anos, ela enfrentou cinco internações hospitalares nos últimos três meses. “Antes, era mais fácil controlar a alimentação da Yasmim. Agora, na pré-adolescência, sinto que ela está mais rebelde”, afirmou a mãe. Segundo ela, não há endocrinologistas disponíveis para o atendimento infantil nos hospitais da rede pública de Contagem.
De acordo com a Sociedade Brasileira do Diabetes (SBD), 17% dos diabéticos no país estão com índice glicêmico sob controle. Apenas 8% dos casos referem-se aos portadores do tipo 1. Segundo especialistas, se mantiver a glicemia abaixo de 70 mg/dl, o diabético poderá viver até mais do que um adulto sedentário. Se não for bem controlado desde cedo, porém, o diabetes pode levar a alterações renais, complicações visuais e a um risco aumentado de doenças cardíacas.
A criança muitas vezes tem vergonha de contar na instituição onde estuda que tem diabetes. “É preciso que algumas pessoas da escola saibam para poder acudir se ela passar mal e para não restringir idas mais constantes ao banheiro ou uma necessidade maior de beber água”, pontua a médica Suzana Nesi França, que coordenou esta semana, no Paraná, o II Encontro de Diabetes da Unidade de Endocrinologia Pediátrica, com o tema “Crescer com diabetes no século 21”. Ela alerta que o ideal é dar transparência cada vez maior ao diabetes no ambiente da escola, entre profissionais de saúde, cuidadores em casa e os membros da família.
VAI A UMA FESTA? LEVE O KIT-DIABETES
Crianças e adolescentes não podem se esquecer de alguns itens quando saírem de casa. Veja as dicas da nutricionista Natália Pena
- Glicosímetro (aparelho para medir a taxa de glicemia no sangue)
- Caneta aplicadora (nova tecnologia de aplicação de insulina que substitui as antigas injeções)
- Uma fonte rápida de carboidrato, como uma bala ou mel
- Se não resistir aos doces, aplique uma dose de insulina rápida
- Não se esqueça de comer a cada três horas
- Se brincar muito e passar a hora de comer, coma uma dose de açúcar para regularizar os sintomas da hipoglicemia, que são palidez, suor e tonteira
- Numa festa infantil, pode optar também por levar um kit diet encontrado em lojas especializadas, que tem um pedaço de bolo, brigadeiro e outras guloseimas dietéticas. Custa em média R$ 30
Guloseimas diet e muita diversão
As festas de aniversário dos colegas voltaram a ser sinônimo de diversão para as crianças diabéticas que, antes, eram impedidas de participar. Elas eram monitoradas pelos pais ou se sentiam diferentes por não poder comer balas e brigadeiros.
O autônomo Ricardo Rocha Maciel, de 33, não esconde o orgulho da filha Laura, de 9, diabética desde os 6 anos e que recebeu na escola o apelido carinhoso de “menina doce”. Segundo a madrinha dela, Fernanda Rocha Maciel Lage, Laura sabe se cuidar direitinho, melhor do que a maioria dos adultos.
Quando vai a festas de aniversário, a criança leva um kit diet. “Antes, eu comia muito errado e só tomava achocolatado. Agora, gosto de almoçar. No dia em que tem batata frita em casa, só posso comer três e tenho de comer um pouquinho de arroz”, ensina a menina. Ela também guarda no cofre as moedas destinadas à compra mensal de bombons diet, de que tanto gosta.