Congresso Brasileiro de Psicanálise debate mudanças na sexualidade
O evento acontece entre 26 e 28 de setembro e vai debater diversos temas sobre as mudanças da sociedade atual
Carolina Cotta - Estado de Minas
Publicação:17/09/2013 13:00Atualização: 17/09/2013 13:31
A sexualidade fundamenta o psiquismo humano, sugeriu Sigmund Freud, ainda no século 19. Eram tempos de repressão sexual, cenário distinto do que experimenta a sociedade atualmente. Assistimos ao advento de leis que reconhecem os direitos dos homossexuais; o transexualismo está em pauta, apesar de ainda pouco aceito; os casamentos se mantêm no desejo e não mais na tradição. Daí a importância de compreender as sexualidades contemporâneas, uma das pautas do 20º Congresso Brasileiro de Psicanálise do Círculo Brasileiro de Psicanálise e da 31ª Jornada de Psicanálise do Círculo Psicanalítico de Minas Gerais, que serão realizados no Centro de Convenções do Hospital Mater Dei, de 26 a 28 deste mês.
Com o tema “O sexual e as sexualidades: da era vitoriana aos dias atuais”, o congresso marca os 50 anos de atividades do Círculo Psicanalítico de Minas Gerais (CPMG). Visando a entender as manifestações da sexualidade nos dias de hoje, reunirá psicanalistas de todo o Brasil nesta discussão: se algo mudou, o que teria sido? Segundo a psicóloga e psicanalista Eliana Rodrigues Pereira Mendes, presidente do CPMG, a contemporaneidade tem trazido muitas transformações nos comportamentos sexuais. “Por isso já falamos em sexualidades, no plural. Há uma necessidade de reler o que diz a psicanálise, porque os modos de comportamento variam de acordo com o tempo e a cultura”, defende.
A discussão começou na era vitoriana, o tempo de Freud (1856-1939). Segundo a especialista, prevalecia a moral da repressão, principalmente a mulheres, que gerou a figura das histéricas. As primeiras pacientes de Freud eram mulheres de sexualidade reprimida. Imperava ainda a moral masculina dupla, em que as mulheres não podiam fazer nada, embora aos homens fosse reservada uma iniciação sexual menos problemática: a vida recatada do lar poderia ganhar outros contornos na rua. Naquele momento, também prevalecia a monogamia e a homossexualidade era vista como doença mental. Mas o próprio advento da psicanálise contribuiu para uma abertura em relação à sexualidade.
“Quando Freud falou que nascemos com sexualidade, que se desenvolve ao longo da vida, ela deixou de ser vista como algo que vem de repente e passou a ser vista como algo contínuo. Foi um escândalo na época, mas abriu caminhos”, acredita Eliana. Caminhos para a maior permissividade social e uma vivência mais liberada da sexualidade. “Hoje, não há mais a necessidade do casamento para que exista o sexo. Os casamentos não são mais eternos: quando há uma dificuldade, há mais aceitação da separação. A homossexualidade é vista com mais tolerância. Todas essas são conquistas da própria sociedade a partir de avanços nas normas sociais, embora ainda existam tabus”, ressalta.
MUDANÇAS POSSÍVEIS
Compreender esse cenário é essencial para a clínica psicanalítica. São nos consultórios que os pacientes podem revelar aos especialistas seus sofrimentos psíquicos tão ligados à sexualidade. Segundo Eliana Mendes, as pessoas têm uma série de interdições internas, problemas que não viabilizam uma vivência sexual tranquila. “Muitos ainda se prendem na antiga fala da mãe de que sexo é pecaminoso, o que com a liberalidade atual pode resultar em uma vivência conturbada da sexualidade. Muitos podem até conseguir uma performance sexual mais liberada, mas não terão uma vivência plena e de satisfação, porque esses conflitos internos os impedem de viver com serenidade.”
Para a psicanálise, a possibilidade de mudança está no processo psicanalítico, que desenvolve um modo de essa pessoa se liberar dessa interdição, mesmo sendo o fenômeno já aceito pela sociedade. Por outro lado, tamanha permissividade tem levado a uma abertura excessiva. “A pessoa fica desconcertada porque não tem mais valores que balizem sua experiência. Há uma perda de sentido na oportunidade de estar com outras pessoas. Quando essa experiência não é pautada em valores ela leva a um esvaziamento. O resultado é uma insegurança afetiva, uma insatisfação pessoal. Os casamentos não dão certo, as relações entre pais e filhos ficam tumultuadas, as amizades ficam diminuídas. Todos esses são sinais de que as coisas não estão bem.”
É no consultório que os pacientes podem revelar aos especialistas seus sofrimentos psíquicos ligados à sexualidade
Com o tema “O sexual e as sexualidades: da era vitoriana aos dias atuais”, o congresso marca os 50 anos de atividades do Círculo Psicanalítico de Minas Gerais (CPMG). Visando a entender as manifestações da sexualidade nos dias de hoje, reunirá psicanalistas de todo o Brasil nesta discussão: se algo mudou, o que teria sido? Segundo a psicóloga e psicanalista Eliana Rodrigues Pereira Mendes, presidente do CPMG, a contemporaneidade tem trazido muitas transformações nos comportamentos sexuais. “Por isso já falamos em sexualidades, no plural. Há uma necessidade de reler o que diz a psicanálise, porque os modos de comportamento variam de acordo com o tempo e a cultura”, defende.
A discussão começou na era vitoriana, o tempo de Freud (1856-1939). Segundo a especialista, prevalecia a moral da repressão, principalmente a mulheres, que gerou a figura das histéricas. As primeiras pacientes de Freud eram mulheres de sexualidade reprimida. Imperava ainda a moral masculina dupla, em que as mulheres não podiam fazer nada, embora aos homens fosse reservada uma iniciação sexual menos problemática: a vida recatada do lar poderia ganhar outros contornos na rua. Naquele momento, também prevalecia a monogamia e a homossexualidade era vista como doença mental. Mas o próprio advento da psicanálise contribuiu para uma abertura em relação à sexualidade.
“Quando Freud falou que nascemos com sexualidade, que se desenvolve ao longo da vida, ela deixou de ser vista como algo que vem de repente e passou a ser vista como algo contínuo. Foi um escândalo na época, mas abriu caminhos”, acredita Eliana. Caminhos para a maior permissividade social e uma vivência mais liberada da sexualidade. “Hoje, não há mais a necessidade do casamento para que exista o sexo. Os casamentos não são mais eternos: quando há uma dificuldade, há mais aceitação da separação. A homossexualidade é vista com mais tolerância. Todas essas são conquistas da própria sociedade a partir de avanços nas normas sociais, embora ainda existam tabus”, ressalta.
MUDANÇAS POSSÍVEIS
Compreender esse cenário é essencial para a clínica psicanalítica. São nos consultórios que os pacientes podem revelar aos especialistas seus sofrimentos psíquicos tão ligados à sexualidade. Segundo Eliana Mendes, as pessoas têm uma série de interdições internas, problemas que não viabilizam uma vivência sexual tranquila. “Muitos ainda se prendem na antiga fala da mãe de que sexo é pecaminoso, o que com a liberalidade atual pode resultar em uma vivência conturbada da sexualidade. Muitos podem até conseguir uma performance sexual mais liberada, mas não terão uma vivência plena e de satisfação, porque esses conflitos internos os impedem de viver com serenidade.”
Para a psicanálise, a possibilidade de mudança está no processo psicanalítico, que desenvolve um modo de essa pessoa se liberar dessa interdição, mesmo sendo o fenômeno já aceito pela sociedade. Por outro lado, tamanha permissividade tem levado a uma abertura excessiva. “A pessoa fica desconcertada porque não tem mais valores que balizem sua experiência. Há uma perda de sentido na oportunidade de estar com outras pessoas. Quando essa experiência não é pautada em valores ela leva a um esvaziamento. O resultado é uma insegurança afetiva, uma insatisfação pessoal. Os casamentos não dão certo, as relações entre pais e filhos ficam tumultuadas, as amizades ficam diminuídas. Todos esses são sinais de que as coisas não estão bem.”