Pesquisadores criam variedades de batata e tomate sem substâncias tóxicas
Se consumidos em excesso, os glicoalcaloides esteroidais fazem mal ao organismo
Vilhena Soares - Correio Braziliense
Publicação:19/09/2013 11:00Atualização: 17/09/2013 10:25
Um dos cientistas responsáveis pelo trabalho, Asaph Aharoni explica que o grupo conseguiu identificar os genes que expressam as enzimas ASG na rota metabólica (o processo de desenvolvimento da planta) do tomate e da batata. Os pesquisadores, então, modificaram o RNA dos legumes, silenciando esses genes. A modificação, apresentada recentemente na revista Science, foi bem-sucedida, e os cientistas notaram uma presença 74 vezes menor das substâncias nos alimentos.
“Esse novo recurso pode ser utilizado no processo de reprodução dos vegetais para selecionar aqueles que crescem com níveis baixos de ASG. As plantas podem ser geneticamente modificadas se desejarmos silenciar a expressão dos genes que encontramos e, assim, evitar o acúmulo dessas substâncias”, afirma o agrônomo e professor do Departamento de Ciências Vegetais do Instituto de Ciência Weizmann, em Israel. Segundo ele, a técnica poderia ser aplicada também na berinjela, outro fruto rico em glicoalcaloides esteroidais.
Cuidado
O especialista explica que os ASG são enzimas comuns nas plantas da família Solanaceae, ocorrendo principalmente nas cascas. “Eles são bem conhecidos pelos seus efeitos nocivos, estando presentes em grandes quantidades especialmente em batatas que estão esverdeadas”, diz Aharoni. A bioquímica e professora da Universidade Federal de Goiás (UFG) Kátia Flávia Fernandes ressalta que essas substâncias só são prejudiciais se forem consumidas em excesso e por um período contínuo. “Não devemos nos alarmar, já que seria preciso que uma pessoa comesse 1kg de batata para que essa substância fosse realmente tóxica e gerasse uma reação na pessoa”, completa.
Por isso, Fernandes considera que, apesar de muito interessante, o estudo ainda deve levar tempo para provocar mudanças. “Técnicas como essa podem ter resultados muito positivos para nossa alimentação, mas precisam de uma série de cuidados, para que outros problemas não surjam durante essa busca por melhoras”, complementa.
Ela cita algumas possíveis desvantagens na modificação feita pelos israelenses. “Os glicoalcaloides silenciados pelos pesquisadores são de grande importância para que o legume ou a fruta possa se proteger. Quando você os retira, pode comprometer o desenvolvimento e a defesa dessas plantas, que possivelmente terão problemas para amadurecer”, destaca. A pesquisadora também frisa que, mesmo retirando ASG dos alimentos, outras substâncias nocivas podem se manifestar. “Ao diminuir a síntese desses glicoalcaloides, eles ativaram rotas para outros compostos que também são tóxicos. Essas enzimas são necessárias para sintetizar o colesterol. No trabalho, eles citam que, após a interferência, o colesterol aumentou, e isso não é algo benéfico”, destaca.
Debate
Asaph Aharoni diz que o estudo ainda é inicial e terá continuidade. A equipe pretende ainda entender como as plantas controlam o processo de produção das ASG mais detalhadamente. “Gostaríamos também de reduzir seus níveis em variedades mais comuns no comércio. Fizemos até agora com as não comerciais, somente para teste”, esclarece.
Para o nutricionista Aldemir Mangabeira, professor do Centro Universitário Iesb de Brasília, o experimento é válido por tentar reduzir substâncias antinutricionais. “Os glicoalcaloides são conhecidos como produtos tóxicos. Se ingeridos em alta quantidade, causam problemas respiratórios e digestivos. A pesquisa busca deixar esses alimentos mais saudáveis, pela transgênese”, analisa. Contudo, ele também pede cautela. “É preciso cuidado com o resultado dessa modificação, para que o desequilíbrio da planta não afete o seu desenvolvimento”, reforça.
De acordo com Mangabeira, a produção de alimentos transgênicos sempre vai gerar um grande debate entre especialistas. “Os principais argumentos de quem é contra os transgênicos são os danos prejudiciais que podem surgir no solo pelos produtos utilizados, além das pragas que podem ser extintas, o que pode atrapalhar a biodiversidade.” O nutricionista explica também que técnicas como a desenvolvida pelos cientistas de Israel precisam passar por vários processos legais para serem utilizadas. “Existem comitês de ética pelos quais essas técnicas precisam passar, o que é muito importante, pois só assim vamos ter certeza de que o produto que ingerimos é realmente seguro”, declara.
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Você sabia que a batata e o tomate, apesar de serem alimentos saudáveis, possuem substâncias que, se consumidas em excesso, podem ser prejudiciais ao corpo? Por isso, cientistas israelenses, buscando uma forma de melhorar o valor nutricional desses alimentos, resolveram modificá-los geneticamente, criando em laboratório variantes geneticamente modificadas que não possuem esses compostos tóxicos, chamados glicoalcaloides esteroidais (ASG, na sigla em inglês).Um dos cientistas responsáveis pelo trabalho, Asaph Aharoni explica que o grupo conseguiu identificar os genes que expressam as enzimas ASG na rota metabólica (o processo de desenvolvimento da planta) do tomate e da batata. Os pesquisadores, então, modificaram o RNA dos legumes, silenciando esses genes. A modificação, apresentada recentemente na revista Science, foi bem-sucedida, e os cientistas notaram uma presença 74 vezes menor das substâncias nos alimentos.
“Esse novo recurso pode ser utilizado no processo de reprodução dos vegetais para selecionar aqueles que crescem com níveis baixos de ASG. As plantas podem ser geneticamente modificadas se desejarmos silenciar a expressão dos genes que encontramos e, assim, evitar o acúmulo dessas substâncias”, afirma o agrônomo e professor do Departamento de Ciências Vegetais do Instituto de Ciência Weizmann, em Israel. Segundo ele, a técnica poderia ser aplicada também na berinjela, outro fruto rico em glicoalcaloides esteroidais.
Colheita de batatas na Bielorrússia: especialistas ressaltam que o consumo do produto só pode causar danos à saúde quando exagerado
Cuidado
O especialista explica que os ASG são enzimas comuns nas plantas da família Solanaceae, ocorrendo principalmente nas cascas. “Eles são bem conhecidos pelos seus efeitos nocivos, estando presentes em grandes quantidades especialmente em batatas que estão esverdeadas”, diz Aharoni. A bioquímica e professora da Universidade Federal de Goiás (UFG) Kátia Flávia Fernandes ressalta que essas substâncias só são prejudiciais se forem consumidas em excesso e por um período contínuo. “Não devemos nos alarmar, já que seria preciso que uma pessoa comesse 1kg de batata para que essa substância fosse realmente tóxica e gerasse uma reação na pessoa”, completa.
Por isso, Fernandes considera que, apesar de muito interessante, o estudo ainda deve levar tempo para provocar mudanças. “Técnicas como essa podem ter resultados muito positivos para nossa alimentação, mas precisam de uma série de cuidados, para que outros problemas não surjam durante essa busca por melhoras”, complementa.
Ela cita algumas possíveis desvantagens na modificação feita pelos israelenses. “Os glicoalcaloides silenciados pelos pesquisadores são de grande importância para que o legume ou a fruta possa se proteger. Quando você os retira, pode comprometer o desenvolvimento e a defesa dessas plantas, que possivelmente terão problemas para amadurecer”, destaca. A pesquisadora também frisa que, mesmo retirando ASG dos alimentos, outras substâncias nocivas podem se manifestar. “Ao diminuir a síntese desses glicoalcaloides, eles ativaram rotas para outros compostos que também são tóxicos. Essas enzimas são necessárias para sintetizar o colesterol. No trabalho, eles citam que, após a interferência, o colesterol aumentou, e isso não é algo benéfico”, destaca.
"Os glicoalcaloides são conhecidos como produtos tóxicos. Se ingeridos em alta quantidade, causam problemas respiratórios e digestivos. A pesquisa busca deixar esses alimentos mais saudáveis, pela transgênese" - Aldemir Mangabeira, nutricionista
Debate
Asaph Aharoni diz que o estudo ainda é inicial e terá continuidade. A equipe pretende ainda entender como as plantas controlam o processo de produção das ASG mais detalhadamente. “Gostaríamos também de reduzir seus níveis em variedades mais comuns no comércio. Fizemos até agora com as não comerciais, somente para teste”, esclarece.
Para o nutricionista Aldemir Mangabeira, professor do Centro Universitário Iesb de Brasília, o experimento é válido por tentar reduzir substâncias antinutricionais. “Os glicoalcaloides são conhecidos como produtos tóxicos. Se ingeridos em alta quantidade, causam problemas respiratórios e digestivos. A pesquisa busca deixar esses alimentos mais saudáveis, pela transgênese”, analisa. Contudo, ele também pede cautela. “É preciso cuidado com o resultado dessa modificação, para que o desequilíbrio da planta não afete o seu desenvolvimento”, reforça.
De acordo com Mangabeira, a produção de alimentos transgênicos sempre vai gerar um grande debate entre especialistas. “Os principais argumentos de quem é contra os transgênicos são os danos prejudiciais que podem surgir no solo pelos produtos utilizados, além das pragas que podem ser extintas, o que pode atrapalhar a biodiversidade.” O nutricionista explica também que técnicas como a desenvolvida pelos cientistas de Israel precisam passar por vários processos legais para serem utilizadas. “Existem comitês de ética pelos quais essas técnicas precisam passar, o que é muito importante, pois só assim vamos ter certeza de que o produto que ingerimos é realmente seguro”, declara.