Nova terapia anula o gene do nanismo
Substância injetada em ratos permitiu que eles crescessem e evitou complicações da doença, como paralisias e problemas respiratórios. Tratamento poderá ser administrado em humanos
Paulo Lima - Correio Brasiliense
Publicação:30/09/2013 09:46Atualização: 30/09/2013 09:56
Raro, o nanismo provoca, além das limitações de crescimento, complicações severas para o funcionamento do organismo, como paralisias e problemas endócrinos e respiratórios. Um tratamento experimental desenvolvido na França conseguiu restabelecer o crescimento ósseo normal em camundongos afetados pela forma mais frequente do nanismo, a acondroplasia, e evitar os agravamentos da doença. Promissora, a terapia foi explicada na revista especializada Science Translational Medicine.
Durante três anos, os pesquisadores analisaram o gene FGFR3, alvo da mutação que compromete o desenvolvimento normal esquelético. Segundo Elvire Gouze, do Centro Mediterrâneo de Medicina Molecular, na França, ratos que nasceram com acondroplasia receberam, nas primeiras três semanas de vida, duas vezes por semana, uma injeção de sFGR3, que tem como princípio ativo proteínas do gene FGFR3. A substância, recombinada com outros tipos de proteína, conseguiu inibir o gene mutante. “O tratamento evitou, sobretudo, as complicações mais severas e reduziu a mortalidade. Conseguimos restaurar completamente o crescimento dos ratos e fomos capazes de prevenir a ocorrência de complicações sem deformidades na coluna”, destacou Gouze.
Cerca de oito meses depois da suspensão da terapia, nenhum sinal de toxicidade foi detectado. Além disso, os cientistas constataram que o aumento do tamanho da bacia permitiu às fêmeas tratadas terem um número de filhotes comparável ao de ratos sem a doença. “Serão necessários ainda de três a cinco anos de trabalhos complementares com outros animais (primatas) para melhor compreender a toxicidade do princípio ativo antes de considerar um primeiro teste com humanos”, pondera Gouze.
Médica geneticista na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Eugênia Ribeiro Valadares explica que esse é um importante passo para o tratamento da doença em humanos. “Não estamos falando de uma questão estética, embora muitas pessoas com a doença se sintam incomodadas em razão do preconceito, mas o mais importante é manter a saúde e nem sempre isso é possível”, diz a especialista. Valadares acabou de concluir na Alemanha o pós-doutorado em displasia esquelética para auxiliar crianças com nanismo.
Segundo ela, a literatura médica associa a acondroplasia à idade paterna avançada, mas qualquer um pode ser acometido pela doença. O diagnóstico pode ser feito a partir do terceiro mês de gestação por meio do ultrassom, que mede o comprimento dos ossos. “A disfunção esquelética acontece porque a maior parte do esqueleto é composta por cartilagem, que, depois, é convertida em osso. Em algumas pessoas, essas cartilagens são comprometidas por mutações no gene FGFR3, interferindo no desenvolvimento normal esquelético”, esclarece. A estimativa é de que uma em cada 15 mil pessoas nasçam com acondroplasia.
Medula em risco Miguel Fernando da Silva, ortopedista no Hospital Santa Luzia, em Brasília, explica que os casos mais severos de acondroplasia podem desencadear a estenose, que é a diminuição do canal medular. Para algumas pessoas, pode ser necessária a intervenção cirúrgica, que, além de nem sempre surtir o efeito desejado, tem riscos de sequelas. Por isso, o médico considera o trabalho dos pesquisadores franceses um avanço. “A expectativa é muito boa. Depois dos testes em ratos e macacos, poderemos se ter a confirmação para a aplicabilidade em humanos. Mas é necessário esperar as validações das terapias genéticas”, pondera.
O tratamento experimental proposto pelos franceses é voltado apenas para jovens. De acordo com Gouze, as três semanas de vida dos camundongos — período de aplicação das injeções subcutâneas — equivalem a 15 anos em humanos. Assim, uma terapia semelhante poderia funcionar em pessoas com acondroplasia até a puberdade. “Avaliamos os ratos até oito meses e isso pode influir na saúde de humanos a longo prazo”, estima.
Atualmente, pessoas com nanismo se submetem à cirurgia para alongamento dos membros inferiores, que aumentam o tamanho de 10 a 12 centímetros. “O grande problema é que são muito invasivas”, alerta Miguel Fernando da Silva. De acordo com Gouze, o hormônio do crescimento não funciona em pacientes com acondroplasia.
Mesmo com resultados animadores, o tratamento experimental não altera a hereditariedade. Ou seja, a possibilidade de transmitir a deficiência genética permanece. “Além de investir em novos estudos até chegar a humanos, esperamos investigar mais a toxicidade da injeção com as proteínas. A finalidade é saber se ela é determinante em ratos mais velhos, para ter, futuramente, os mesmo resultados em quem já tem a doença há mais tempo”, diz a pesquisadora.
"Conseguimos restaurar completamente o crescimento dos ratos e fomos capazes de prevenir a ocorrência de complicações sem deformidades na coluna" - Elvire Gouze, líder do estudo
Durante três anos, os pesquisadores analisaram o gene FGFR3, alvo da mutação que compromete o desenvolvimento normal esquelético. Segundo Elvire Gouze, do Centro Mediterrâneo de Medicina Molecular, na França, ratos que nasceram com acondroplasia receberam, nas primeiras três semanas de vida, duas vezes por semana, uma injeção de sFGR3, que tem como princípio ativo proteínas do gene FGFR3. A substância, recombinada com outros tipos de proteína, conseguiu inibir o gene mutante. “O tratamento evitou, sobretudo, as complicações mais severas e reduziu a mortalidade. Conseguimos restaurar completamente o crescimento dos ratos e fomos capazes de prevenir a ocorrência de complicações sem deformidades na coluna”, destacou Gouze.
Cerca de oito meses depois da suspensão da terapia, nenhum sinal de toxicidade foi detectado. Além disso, os cientistas constataram que o aumento do tamanho da bacia permitiu às fêmeas tratadas terem um número de filhotes comparável ao de ratos sem a doença. “Serão necessários ainda de três a cinco anos de trabalhos complementares com outros animais (primatas) para melhor compreender a toxicidade do princípio ativo antes de considerar um primeiro teste com humanos”, pondera Gouze.
Médica geneticista na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Eugênia Ribeiro Valadares explica que esse é um importante passo para o tratamento da doença em humanos. “Não estamos falando de uma questão estética, embora muitas pessoas com a doença se sintam incomodadas em razão do preconceito, mas o mais importante é manter a saúde e nem sempre isso é possível”, diz a especialista. Valadares acabou de concluir na Alemanha o pós-doutorado em displasia esquelética para auxiliar crianças com nanismo.
Segundo ela, a literatura médica associa a acondroplasia à idade paterna avançada, mas qualquer um pode ser acometido pela doença. O diagnóstico pode ser feito a partir do terceiro mês de gestação por meio do ultrassom, que mede o comprimento dos ossos. “A disfunção esquelética acontece porque a maior parte do esqueleto é composta por cartilagem, que, depois, é convertida em osso. Em algumas pessoas, essas cartilagens são comprometidas por mutações no gene FGFR3, interferindo no desenvolvimento normal esquelético”, esclarece. A estimativa é de que uma em cada 15 mil pessoas nasçam com acondroplasia.
Medula em risco Miguel Fernando da Silva, ortopedista no Hospital Santa Luzia, em Brasília, explica que os casos mais severos de acondroplasia podem desencadear a estenose, que é a diminuição do canal medular. Para algumas pessoas, pode ser necessária a intervenção cirúrgica, que, além de nem sempre surtir o efeito desejado, tem riscos de sequelas. Por isso, o médico considera o trabalho dos pesquisadores franceses um avanço. “A expectativa é muito boa. Depois dos testes em ratos e macacos, poderemos se ter a confirmação para a aplicabilidade em humanos. Mas é necessário esperar as validações das terapias genéticas”, pondera.
O tratamento experimental proposto pelos franceses é voltado apenas para jovens. De acordo com Gouze, as três semanas de vida dos camundongos — período de aplicação das injeções subcutâneas — equivalem a 15 anos em humanos. Assim, uma terapia semelhante poderia funcionar em pessoas com acondroplasia até a puberdade. “Avaliamos os ratos até oito meses e isso pode influir na saúde de humanos a longo prazo”, estima.
Atualmente, pessoas com nanismo se submetem à cirurgia para alongamento dos membros inferiores, que aumentam o tamanho de 10 a 12 centímetros. “O grande problema é que são muito invasivas”, alerta Miguel Fernando da Silva. De acordo com Gouze, o hormônio do crescimento não funciona em pacientes com acondroplasia.
Mesmo com resultados animadores, o tratamento experimental não altera a hereditariedade. Ou seja, a possibilidade de transmitir a deficiência genética permanece. “Além de investir em novos estudos até chegar a humanos, esperamos investigar mais a toxicidade da injeção com as proteínas. A finalidade é saber se ela é determinante em ratos mais velhos, para ter, futuramente, os mesmo resultados em quem já tem a doença há mais tempo”, diz a pesquisadora.