Bulimia nervosa, mais comum em mulheres, avança entre homens
Entrevistas com mais de 5,5 mil homens indicam que 31% já comeram exageradamente e forçaram a expulsão dos alimentos. O comportamento, tido como pontual, pode ser um indício da bulimia nervosa
Correio Braziliense
Publicação:07/01/2014 09:00Atualização: 07/01/2014 09:32
Duas horas de ingestão descontrolada de alimentos e tentativas de eliminar a explosão de calorias o mais rápido possível. A combinação desses comportamentos caracteriza a bulimia nervosa. Comum em mulheres, o perigoso distúrbio acomete cada vez mais homens. Um estudo feito pelo Hospital Infantil de Boston (EUA) com 5.527 homens entre 12 e 18 anos mostrou que, em pelo menos um momento da investigação, que durou de 1999 a 2010, 31% dos entrevistados confessaram ter comportamentos bulímicos ou de compulsão alimentar, sem perda de controle.
Leia a primeira reportagem da série:
Distúrbios alimentares são cada vez mais comuns entre os homens
O número pode ainda estar subestimado, já que o problema nem sempre é admitido ou percebido pelos pacientes. “Alguns disfarçam por muito tempo que estão com o problema e mostram-se felizes, mesmo estando passando por momentos desafiadores na vida. O resultado desse comportamento influi diretamente em uma fuga. Nesse caso, é comumente percebido o uso das drogas”, alerta a psiquiatra Carla Bicca. O mesmo estudo americano constatou que características parciais ou completas de bulimia elevam em 2,85% a probabilidade de um quadro depressivo, em 2,27% o risco de obesidade e em 1,62% a chance de uso de drogas.
Diferentemente da anorexia, caracterizada pela rápida perda de peso, a bulimia demanda mais tempo para ser percebida. Mas alguns fatores ajudam a perceber o problema. Além dos sinais mais evidentes — como compulsão alimentar, dietas desequilibradas, indução ao vômito e uso de laxantes —, o esmalte dentário costuma ficar desgastado e há o aumento das glândulas salivares das bochechas. Esses dois últimos indícios são consequência dos vômitos forçados. “As consequência são severas. A pessoa pode vir a sofrer com inflamação do esôfago em razão da quantidade de comida ingerida e rapidamente retirada”, diz a bióloga Paula Louredo.
A especialista explica que arritmias cardíacas, inflamação da garganta e das glândulas salivares, sangramento do esôfago, problemas gastrintestinais, cáries e desidratação também são comuns em pacientes com bulimia. Há ainda o risco de fadiga, desmaios, ressecamento da pele, constipação e oscilações de humor. “A bulimia pode ser causada por fatores psicológicos, biológicos, familiares e culturais. Geralmente, o rapaz esconde a doença dos familiares por ter vergonha dos ataques compulsivos por comida e por julgar esse comportamento como uma falta de autocontrole, o que ajuda na baixa autoestima”, detalha.
O transtorno alimentar também pode estar associado a traumas adquiridos na infância, como o bullying, e a questões hereditárias. O psiquiatra Takis Cordás explica que há pesquisas indicando que há famílias com maior prevalência do problema. “Estudos com gêmeos monozigóticos e dizigóticos também apontam a genética como possível participante dos transtornos alimentares. Mas podem vir a existir fatores biológicos com alterações nos neurotransmissores moduladores da fome e da saciedade, como a noradrenalina, a serotonina, a colecistoquinina e diferentes neuropeptídeos, que têm sido postuladas como predisponentes para os transtornos alimentares”, pondera.
Com relação a fatores socioculturais, Cordás destaca que a obsessão em ter o corpo magro e perfeito é reforçada diariamente na sociedade ocidental. A valorização de atrizes e modelos geralmente abaixo do peso é um exemplo. A família também tem participação no histórico que poder vir a desencadear a bulimia nos rapazes, reforça o especialista. Dificuldades de comunicação e interações tempestuosas e conflitantes podem ser consideradas mantenedoras do transtorno alimentar.
Apoio completo
Identificados os sinais do problema, o paciente e pessoas próximas a ele não devem hesitar em procurar ajudar. Há, geralmente, uma tendência em achar que o comportamento é momentâneo, não oferecendo risco à saúde. O psiquiatra Tákis Cordás alerta, porém, que homens e mulheres com bulimia nervosa têm, na verdade, uma completa perda de controle alimentar. “Essa ingestão indiscriminada de comida é seguida de um sentimento de culpa, vergonha e medo de engordar, levando o paciente a atitudes extremas, como induzir o vômito, usar laxantes, diuréticos ou inibidores de apetite e praticar exercícios físicos de maneira exagerada”, diz.
De acordo com a nutricionista Patrícia Bezerra, o tratamento para a bulimia envolve profissionais de diferentes especialidades. “O nutricionista vai auxiliar esses homens a aprender a comer de forma correta e saudável. O objetivo é reduzir os episódios compulsivos tentando identificar o que leva o paciente à compulsão maior. Na parte de saúde mental, a intenção é focar nos transtornos de imagem corporal, ansiedade, depressão, baixa autoestima, entre outros fatores, e fazer com que o paciente desenvolva recursos internos e externos para aceitar o seu corpo e buscar as mudanças adequadas”, explica.
Leia a primeira reportagem da série:
Distúrbios alimentares são cada vez mais comuns entre os homens
O número pode ainda estar subestimado, já que o problema nem sempre é admitido ou percebido pelos pacientes. “Alguns disfarçam por muito tempo que estão com o problema e mostram-se felizes, mesmo estando passando por momentos desafiadores na vida. O resultado desse comportamento influi diretamente em uma fuga. Nesse caso, é comumente percebido o uso das drogas”, alerta a psiquiatra Carla Bicca. O mesmo estudo americano constatou que características parciais ou completas de bulimia elevam em 2,85% a probabilidade de um quadro depressivo, em 2,27% o risco de obesidade e em 1,62% a chance de uso de drogas.
Diferentemente da anorexia, caracterizada pela rápida perda de peso, a bulimia demanda mais tempo para ser percebida. Mas alguns fatores ajudam a perceber o problema. Além dos sinais mais evidentes — como compulsão alimentar, dietas desequilibradas, indução ao vômito e uso de laxantes —, o esmalte dentário costuma ficar desgastado e há o aumento das glândulas salivares das bochechas. Esses dois últimos indícios são consequência dos vômitos forçados. “As consequência são severas. A pessoa pode vir a sofrer com inflamação do esôfago em razão da quantidade de comida ingerida e rapidamente retirada”, diz a bióloga Paula Louredo.
A especialista explica que arritmias cardíacas, inflamação da garganta e das glândulas salivares, sangramento do esôfago, problemas gastrintestinais, cáries e desidratação também são comuns em pacientes com bulimia. Há ainda o risco de fadiga, desmaios, ressecamento da pele, constipação e oscilações de humor. “A bulimia pode ser causada por fatores psicológicos, biológicos, familiares e culturais. Geralmente, o rapaz esconde a doença dos familiares por ter vergonha dos ataques compulsivos por comida e por julgar esse comportamento como uma falta de autocontrole, o que ajuda na baixa autoestima”, detalha.
O transtorno alimentar também pode estar associado a traumas adquiridos na infância, como o bullying, e a questões hereditárias. O psiquiatra Takis Cordás explica que há pesquisas indicando que há famílias com maior prevalência do problema. “Estudos com gêmeos monozigóticos e dizigóticos também apontam a genética como possível participante dos transtornos alimentares. Mas podem vir a existir fatores biológicos com alterações nos neurotransmissores moduladores da fome e da saciedade, como a noradrenalina, a serotonina, a colecistoquinina e diferentes neuropeptídeos, que têm sido postuladas como predisponentes para os transtornos alimentares”, pondera.
Com relação a fatores socioculturais, Cordás destaca que a obsessão em ter o corpo magro e perfeito é reforçada diariamente na sociedade ocidental. A valorização de atrizes e modelos geralmente abaixo do peso é um exemplo. A família também tem participação no histórico que poder vir a desencadear a bulimia nos rapazes, reforça o especialista. Dificuldades de comunicação e interações tempestuosas e conflitantes podem ser consideradas mantenedoras do transtorno alimentar.
Apoio completo
Identificados os sinais do problema, o paciente e pessoas próximas a ele não devem hesitar em procurar ajudar. Há, geralmente, uma tendência em achar que o comportamento é momentâneo, não oferecendo risco à saúde. O psiquiatra Tákis Cordás alerta, porém, que homens e mulheres com bulimia nervosa têm, na verdade, uma completa perda de controle alimentar. “Essa ingestão indiscriminada de comida é seguida de um sentimento de culpa, vergonha e medo de engordar, levando o paciente a atitudes extremas, como induzir o vômito, usar laxantes, diuréticos ou inibidores de apetite e praticar exercícios físicos de maneira exagerada”, diz.
De acordo com a nutricionista Patrícia Bezerra, o tratamento para a bulimia envolve profissionais de diferentes especialidades. “O nutricionista vai auxiliar esses homens a aprender a comer de forma correta e saudável. O objetivo é reduzir os episódios compulsivos tentando identificar o que leva o paciente à compulsão maior. Na parte de saúde mental, a intenção é focar nos transtornos de imagem corporal, ansiedade, depressão, baixa autoestima, entre outros fatores, e fazer com que o paciente desenvolva recursos internos e externos para aceitar o seu corpo e buscar as mudanças adequadas”, explica.