Modas malucas nos olhos podem causar efeito estético inverso e até cegueira
Moda de apetrechos nos olhos pode afetar muito mais do que o visual. Projeto de lei pretende proibir tatuagem no globo ocular. Loucuras por motivos estéticos incluem o implante de 'joias' e mudança da cor da íris
- Visão embaçada e distorcida nem sempre é miopia: fique atento aos sinais do ceratocone
- Colírio: uso indiscriminado e sem indicação médica podem prejudicar visão
- Exame de visão não pode se resumir a identificar letrinhas em um papel
- Método de diagnóstico pela íris divide médicos brasileiros
- Síndrome do olho seco é marcada por irritação, coceira e baixo nível de lubrificação
- Exercícios físicos evitam principais causas da cegueira em humanos
- Conheça sete erros que podem arruinar sua visão
- Qual é o melhor par de óculos para você?
- Movimento involuntário do olho pode ser doença
- Proteína já testada no combate ao câncer pode tratar um dos tipos de degeneração macular
- Não são poucas as dúvidas que surgem na hora de escolher a tatuagem, veja dicas
"Os dois pacientes que atendi estavam com a pressão dos olhos altíssima, configurando um caso de glaucoma. Se o implante não tivesse sido removido, o quadro poderia evoluir para uma doença crônica, com uso de medicamento para o resto da vida. Ou ainda pior: o glaucoma pode causar uma lesão no nervo ótico e cegueira permanente”, alerta o médico.
“Há a possibilidade, já relatada entre pacientes brasileiros, que a pessoa desenvolva uma opacidade da córnea, com perda de células nervosas. Essas células não se regeneram e o tratamento demanda a realização de um transplante. Ainda assim, pode haver perda parcial da visão. E tudo isso por um capricho”, completa Tibúrcio.
Uma preocupação do médico é que, mesmo após apresentar todos os problemas diagnosticados em seus pacientes, houve resistência para retirada da íris artificial.
Visão platinada
Outra 'invenção' igualmente perigosa são os implantes de 'joias' de platina no globo ocular. Colocados na parte branca, o 'piercing de olho' é um procedimento invasivo que motivou um alerta da Academia Americana de Oftalmologia. O método é perigoso e não conta com aprovação do FDA – órgão estadunidense que regula produtos e práticas vinculadas à saúde, alimentação e estética.
O objeto metálico é implantado cirurgicamente entre a conjuntiva – membrana transparente que recobre o olho - e a esclera – conhecida como parte branca do olho, composta por várias camadas.
Ela diz que, no início, sentia algo estranho, mas depois se acostumou. O médico que realizou a cirurgia, Emil Chyn, declarou estar satisfeito com o resultado, porque ele esperava que 'alguém atraente o suficiente para a mídia' fosse a primeira a realizar a façanha. Algumas fotos de Lucy que vazaram algumas semanas após a cirurgia, no entanto, mostraram que a vida não ficou tão cor-de-rosa assim para a jovem.
Um dos efeitos que é possível observar é o aspecto de 'olho vermelho'. “O implante insere um corpo estranho sob a conjuntiva. Por mais que o material, em si, não cause reações imediatas, porque a platina é biocompatível, o organismo vai identificar o 'intruso' e aumentar a vascularização na área, no intuito de proteger-se. Essa é uma das consequências primordiais da cirurgia, que pode gerar um efeito estético desagradável”, explica o cirurgião.
Além disso, como em qualquer cirurgia, há os riscos de infecção, que pode levar à cegueira. Como o procedimento é feito com pequenas tesouras, existe a possibilidade de uma perfuração e de hemorragia sob a conjuntiva. O sangue pode ser reabsorvido pelo organismo aos poucos, mas o aspecto durante o processo será bem antiestético.
Tatuagem nos olhos dos outros é...
Procedimentos estéticos extremos no globo ocular motivaram o Projeto de Lei 5790/13, em análise na Câmara dos Deputados, que proíbe a prática de tatuagem nos olhos no Brasil. Caso o projeto seja aprovado, quem não cumprir a medida ficará sujeito a pena de três meses a um ano de detenção por ofensa à integridade corporal, crime previsto no Código Penal (Decreto-Lei 2.848/40).
Segundo a proposta do deputado Rogério Peninha Mendonça (PMDB-SC), "não se trata de um preconceito contra práticas individuais, nem de tentar impor um padrão de comportamento ou estético, mas de proteger a saúde de pessoas que podem estar a um passo da mutilação".
O cirurgião Leonardo Tibúrcio tem uma regra simples para definir esses procedimentos e os riscos associados. “Se não acrescenta nada para a funcionalidade da visão, não faça. Se não há uma doença que exija esse tratamento, não há justificativa para arriscar a perda”, analisa.
“Na medicina, temos uma balança de benefícios e riscos. Sempre há risco, claro. Mas se os benefícios são maiores, vale a tentativa. Se os dois estão equilibrados, é preciso analisar com ainda mais cuidado e atenção. Agora, se os riscos e as complicações são maiores que as vantagens, não siga esse caminho”, reforça. De acordo com o especialista, esses procedimentos estéticos invasivos nos olhos estão na contramão dos princípios médicos e da saúde.