Vacina evita que células com HPV virem câncer
Tratamento proposto por cientistas dos EUA potencializa a ação do sistema imunológico contra células pré-cancerígenas no colo do útero. Testes com mulheres apresentaram resultados promissores
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Leonel Maldonado, um dos pesquisadores do estudo publicado nesta quinta-feira (30) na revista científica Science Translational Medicine, explica que a vacina não é imunizadora: servirá para tratar uma condição que pode evoluir para o câncer. “Estudos anteriores avaliaram a vacina de sangue (ativação do sistema imune por meio do sangue do próprio paciente) dos voluntários a fim de observar a magnitude de uma resposta imune. Nosso estudo é o primeiro a identificar um aumento da resposta imunitária no tecido de pacientes com uma lesão pré-cancerosa do colo do útero após a vacinação com uma vacina de HPV com alvo terapêutico”, explica o professor do Johns Hopkins Medical Institutions.
Segundo o pesquisador, outros exames podem complementar o procedimento proposto, criando um conjunto de intervenções capaz de aumentar a proteção das mulheres contra o câncer do colo do útero. “Nossos resultados têm o poder de modificar a forma com que futuras vacinas terapêuticas e testes clínicos de HPV podem ser concebidos para analisar as respostas imunitárias em tecidos, uma vez que esses métodos podem ser mais informativos para avaliar a eficácia do tratamento. Além disso, os pacientes com doença pré-invasiva poderiam ser mais bem monitorados com base na resposta imunológica encontrada nas biópsias após a vacinação”, explica.
Novas estratégias
A equipe do Johns Hopkins pretende avaliar mais 20 pacientes, testando uma combinação da vacina terapêutica com um creme tópico. A intenção é fazer que, com a união das terapias, a resposta dos linfócitos T seja ainda mais potencializada.
Devido à grande quantidade de variantes e à ligação com o câncer, o HPV tem sido alvo de pesquisadores de vários países. Rosires Pereira de Andrade, chefe do Departamento de Tocoginecologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), é um dos que seguem em busca de vacinas mais eficazes contra o vírus. “Nossa equipe, em parceria com pesquisadores de Salvador e de outros centros do Brasil, trabalha em uma vacina nonavalente para nove variações do HPV. Dessa forma, a proteção do colo do útero será mais completa, cerca de 20% maior. Isso é algo que ainda não temos, pois a vacina oferecida pelo governo é quadrivalente”, compara.
Pereira avalia que a ideia dos cientistas do Johns Hopkins Medical Institutions de utilizar uma vacina para ativar o sistema imunológico de mulheres com lesões uterinas também é uma estratégia eficaz. “Se você consegue ativar os anticorpos no lugar da lesão, como foi feito por ele, a resposta imunológica aumenta e a proteção da mulher contra o câncer sobe consideravelmente. Isso pode contribuir para um tratamento mais completo”, destaca.
O especialista também acredita que a vacina terapêutica poderá evitar que as cirurgias para a retirada de lesões do colo do útero sejam feitas. No procedimento atual, uma grande parte do colo é cortada, o que pode facilitar a ocorrência de partos prematuros. “Cirurgias são sempre agressivas; se pudermos evitar isso, sempre é algo positivo”, completa.
Proteção ampliada
A vacina quadrivalente previne contra quatro tipos de HPV – o 16 e o 18, que estão presentes em 70% dos casos de câncer de colo do útero –, e o 6 e o 11, presentes em 90% das verrugas genitais. Ainda em desenvolvimento, a vacina nonavalente pretende agregar mais cinco sorotipos do vírus.
Necessidade de mais testes
“É necessário cautela ao interpretar os resultados desse trabalho devido ao pequeno número de pacientes incluídas. Mas isso não desmerece a originalidade da ideia. O papilomavírus humano (HPV) é causador de lesões que, em última instância, vão se transformar em câncer de colo uterino, doença em grande parte prevenível e, atualmente, um significativo problema de saúde pública em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. No Brasil, em 2004, o câncer de colo uterino foi o segundo tipo de câncer mais diagnosticado em mulheres, cerca de 20.700 casos novos (11% do total diagnosticado), perdendo apenas para o câncer de mama. Esse trabalho de Maldonado e dos colaboradores tem o importante papel de levantar novas potencialidades para a vacina, efeitos que devem ser mais bem avaliados por estudos bem desenhados para que o conhecimento científico possa se transferir para a prática clínica.”