Pintas são sinais clínicos que devem ser observados para não virar mal maior
Congênitos ou adquiridos, os nevos, popularmente conhecidos como pintas, podem ser sinais de doenças como o câncer de pele
Os nevos escuros podem ser congênitos e adquiridos. Os primeiros estão presentes ao nascer ou próximo do nascimento. “É uma fatalidade. Não é genético e, sim, um defeito intraútero. De tamanhos variáveis, podem ser pequenos, médios e grandes. O grande, como se fosse um calção de banho, é raríssimo. O médio, de 3cm a 20cm, também é considerado raro. Os pequenos são mais comuns e 5% nascem com este tipo. A maior incidência são os menores de 3cm.”
Já os nevos adquiridos aparecem durante a vida, são pequenos, as chamadas pintas comuns. E o que há de errado com elas? “Essas surgiram a partir de defeito da célula-tronco. De repente, a célula-tronco é atingida pela radiação ultravioleta solar e dá origem a pintas comuns, benignas. Mas, por circunstâncias que desconhecemos, ela pode causar a pinta maligna, o melanoma”, explica Marcus Maia, que alerta: “Quem toma sol demais pode vir a desenvolver o melanoma (câncer de pele)”.
O melanoma pode vir sozinho, do nada, ou dentro da pinta. “Por isso é importante examinar o território com o dermatologista periodicamente. Nevo é sinal de associação do melanoma.”
“Uma pessoa pode ter, em média, de 30 a 400 pintas espalhadas pelo rosto e corpo. O ideal é que pacientes com número excessivo de nevos façam visitas periódicas ao dermatologista. O médico tem experiência e mecanismos para confirmar se está tudo bem, fazendo o exame de dermatoscopia, que fotografa as pintas para fazer o acompanhamento", alerta o oncologista e diretor da Oncomed BH, Amândio Soares.
Ele explica a incidência dos casos de câncer de pele: o melanoma e o não melanoma. “O melanoma tem uma baixa incidência, cerca de três casos por 100 mil pessoas/ano, sendo mais agressivo, de crescimento rápido e com maior potencial de disseminação para outros órgãos. O não melanoma é uma doença mais comum, com cerca de 70 casos por 100 mil habitantes/ano, de lento crescimento. Apesar de muito prevalente, apresenta baixa taxa de mortalidade e menos de 4% dos pacientes vão a óbito devido a esse tipo da doença”, acrescenta Soares.
Amândio Soares compartilha uma regra – a ABCD usada para detectar sinais clínicos de uma pinta que faz mal. Então preste atenção na A (assimetria), B (borda irregular), C (cor diferente) e D (diâmetro), e se o sinal está crescendo.
LONGEVIDADE E O FILTRO SOLAR
Apesar da atenção redobrada com as peles claras, as morenas também têm de se cuidar. “A fotossensibilidade é quanto a pele aguenta de sol, se é ou não resistente. Apesar de seguir pela cor do olho, da pele, do número de pintas, é bom lembrar que a pele morena também tem riscos”, acrescenta Maia. A recomendação básica é usar filtro solar, sem que o sol seja totalmente proibido. “Ele tem três etapas. A luz, que enxergamos e não faz mal. O infravermelho, que é calor, e não é prejudicial. E o ultravioleta, que não vemos, nem sentimos, e é o grade problema. Temos de nos proteger e bloqueá-lo”, diz Marcus Maia. Sobre a sarda, ele explica que ela é a pinta que surge por queimadura de sol. “Não é nevo, é um distúrbio de pigmento em cima da queimadura solar”, mas que também requer cuidado.
De todas as informações, Maia alerta sobre a principal: “Ter pintas é sinal de risco. Procure um dermatologista. O câncer de pele aumenta no mundo todo. No Brasil, foram 182 mil casos de não melanomas em 2013, números do Inca (Instituto Nacional de Câncer), e mais 8 mil de melanomas. Números absurdos. Nos EUA, há 1,5 milhão por ano. No Brasil é 10 vezes menor.”
E será que as pessoas estão se protegendo? “Discussão atual levantada é que o aumento de casos recai sobre a longevidade de uma geração que tomou sol a vida toda e pouco se protegeu. É um dado para pesquisar. As novas gerações têm mais consciência e já não se expõem tanto.”
A luta da classe médica é pela uso do filtro solar. Há pouco tempo, a recomendação tem sido adotar protetores com filtros mais altos. A explicação, conforme Marcus, é simples: “Acaba sendo um discurso da indústria. Um filtro de 30 só será de 30, se a pessoa passar 2mg por cm2. Um adulto de 70 quilos terá de passar 40ml, ou seja, praticamente metade de um tubo do produto. E se pensar na mulher, filhos e na reaplicação a cada uma hora e meia, quanto a família vai gastar com o filtro solar? Sem falar que os produtos de maior proteção são mais caros e menores, geralmente para pequenas áreas. O que importa é que cada um precisa se cuidar. Proteção solar é um conjunto de atitudes. Não coloque toda a responsabilidade no filtro”. Tem ainda os óculos, o chapéu, o guarda-sol e até camisetas para fugir dos raios ultravioleta.
VITAMINA D
Sobre a onda de informações e conversas de botequim do aumento do uso da vitamina D pelo brasileiro (em muitos tem sido detectada a deficiência do mineral), Marcus Maia é categórico: “Absurdamente tem se questionado o uso do filtro solar como barreira para o sol, responsável pela aquisição da vitamina D pelo homem. Como o brasileiro não pratica a fotoproteção correta ou nem usa (a maioria), é impossível que alguém tenha deficiência da vitamina D devido ao uso do filtro solar. Estamos sendo acusados indevidamente. É balela e o mundo dermatológico até gostaria que fosse verdade. Só determinamos a proteção absoluta para quem é do grupo de risco, geralmente para peles claras, que precisam de cinco minutos de sol, com 15% da área corporal exposta para ganhar 1.000 unidades internacionais de vitamina D, sendo que precisa de 400. Não admitimos interferência na consciência pública no combate ao câncer de pele combatido com a prevenção primária”.
O sr. poderia falar das diferenças entre câncer de pele melanoma e não melanoma?
São os dois tipos de câncer de pele. O não melanoma é o câncer mais comum e, normalmente, o grupo de risco é formado por pessoas brancas, tendo como causa principal o sol. A maioria dos casos é tratada com cirurgia e há possibilidade de cura. O risco é deixar grandes cicatrizes, geralmente, na face, pescoço ou tronco, os mais expostos, por ter tratado tardiamente. A mutilação pela retirada de lesão é menor quanto mais precoce for diagnosticada. Não precisa nascer a pinta, basta observar a pele irritada, inflamação, sangramento, lesão crescendo. Já o melanoma normalmente ocorre nas pintas da pele. Nele se usa a regra do ABCD (assimetria, borda, cor e diâmetro). Ele pode invadir outros órgãos e dar metástase. Pode surgir em lugares escuros, como as mucosas, boca, língua, olho, ânus, cérebro. É raro. O sol é um dos causadores desse tipo mais genético de tumor.
Como é a remoção das pintas?
Cirúrgica. Ela é tranquila e com anestesia local. Depois da incisão da pinta, ela é enviada para biópsia para termos o diagnóstico. Se a margem não for adequada, novo material é coletado, em uma nova intervenção.
A pessoa tem várias pintas e não sente nada, nenhum incômodo, ou não percebe alteração. Mesmo assim é preciso consultar o médico?
A orientação da American Academy of Dermatology é que o paciente faça uma visita anual ao dermatologista. Pinta todos têm e é nossa obrigação prestar atenção. Se ela é congênita ou adquirida no decorrer da vida, não importa. É preciso observar sempre. A maioria é benigna, apenas um agrupamento de melanina, mas acompanhá-la para ver se há alteração é fundamental. Digo sempre que o companheiro é o maior aliado para checar as costas um do outro. E, se possível, filmar ou fotografar para comparar a evolução das pintas. A gravidade de se expor ao sol só aumenta: a incidência dos raios ultravioleta está cada vez mais agressiva e, por isso, a proteção com filtro é inquestionável. O problema é que ele é usado de maneira errada, só uma vez por dia, e, por parte dos homens, ainda existe o tabu do ‘creminho’. Todos precisam se cuidar porque o câncer de pele não é o que mais mata, mas é o de maior incidência.”