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Mania nacional: maioria dos brasileiros que têm filhos posta imagens das crianças nas redes sociais

Até que ponto essa atitude é saudável? Há um limite entre o público e o privado?

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Luciane Evans Publicação:16/02/2014 07:31Atualização:15/02/2014 14:23
Anna Loize, de 21 anos, mãe de Alice, de 1 mês, só posta fotos da filha para pessoas que conhece
 (Leandro Couri/EM/D.A Press)
Anna Loize, de 21 anos, mãe de Alice, de 1 mês, só posta fotos da filha para pessoas que conhece
Durante muitos anos, as mães registravam o cotidiano de seus filhos em lindos e delicados livros do bebê. Ali, contavam curiosidades do primeiro banho, as visitas e as primeiras consultas médicas. Com o passar do tempo, a obra se tornava uma memória viva para o filho que cresceu. Mas, hoje, os tempos são outros. O diário passou a ser virtual e coletivo. Não só os pais disponibilizam imagens de seus nenéns na rede, mas os amigos também querem mostrar ao mundo quem nasceu. “É certo que as tecnologias trouxeram uma revolução nas relações. Mas, convido os pais que expõem seus filhos nas redes a pensar: o que se pretende alcançar com isso?”, questiona o psicólogo, psicanalista e professor de gestão de serviços de saúde da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Luiz Carlos Brant.

O fenômeno de expor os bebês nas redes socais, como Instagram e Facebook, atrai 94% dos pais brasileiros, segundo a pesquisa mundial da AVG, que também mostra que o objetivo maior da postagem é mostrá-los aos amigos e parentes. Em julho do ano passado, a pequena Bella veio ao mundo e já entrou na rede. Ainda na maternidade, o pai, André Tavares, que trabalha com desenvolvimento de shoppings, publicou a foto da menina em seu braço no berçário. “A ideia de compartilhar esse momento é para que as pessoas acompanhem a evolução da Bella. Tenho parentes e amigos em outros países, como uma família na Nova Zelândia. É uma forma de eles verem minha filha crescendo”, diz, acreditando que, no futuro, Bella vai poder ver os comentários das pessoas que, eventualmente, irá conhecer. “É um livro de recordação”, defende André.

Ao mesmo tempo em que serve como uma forma de aproximar parentes e amigos distantes do crescimento de uma criança, como comentou André, postar na rede pode não ter somente esse objetivo. Na visão de Luiz Carlos Brant, muitas pessoas estão ficando automatizadas e disponibilizam as imagens sem uma intenção concreta. “Há, muitas vezes, uma compulsividade pela tela, sem pensar nas consequências que isso pode levar.” O psicólogo diz que é preciso estabelecer a dimensão entre o público e o privado. “Pais que expõem, por exemplo, a higienização dos filhos, devem repensar essa postura. Ali, há um ato íntimo, muito particular do universo da criança. É um momento de toque e uma relação de afeto. Se socializo esse momento, quebro esse vínculo.” Antes de qualquer postagem, o especialista aconselha todos a repensar o porquê da publicação e o sentido dela.

A recomendação vale para todos os conteúdos disponibilzados on-line. “Observamos que muitas pessoas se escondem por meio da tela. E temos visto uma sociedade do espetáculo, em que os usuários das redes postam suas últimas férias em Paris como forma de acreditar na inserção social. É preciso se perguntar, antes de publicar, o que aquilo representa e o que quero alcançar.” Essa realidade já foi observada pela estudante Anna Loize, de 21 anos. Mãe da pequena Alice, que nasceu em 6 de janeiro, ela conta que todo mundo gosta de falar sobre a vida nas redes sociais, o que é natural. “Acaba que vira um ‘vício’, e fica, realmente, o receio de como será no futuro. Posto fotos da minha filha para que os amigos que não puderam vir vê-la possam conhecê-la. E as imagens são direcionadas apenas a quem conheço”, conta Anna.

EXCESSO

Segundo alerta a psicóloga, psicopedagoga e professora de comportamento organizacional do Centro Universitário UNA, Patrícia Alvarenga, o grande problema pode estar no excesso dessa exposição, o que não seria saudável, tanto para as mães e os pais, quanto para as crianças. “Os pais podem estar idealizando demais ou necessitam mostrar ao mundo aquilo que lhe faltava. Uma coisa é você colocar uma foto do nascimento, do aniversário. Outra coisa é colocar uma imagem todos os dias, a todo momento”, compara.

Ela diz que uma postagem de vez em quando mostra a vida social do internauta. “Mas quando isso já não é esporádico, pode ser um sinal de que algo está faltando. A mãe ou o pai parecem querer dizer ao mundo: olha o meu bebê, como ele é bonito”, diz. Patrícia aponta que esse comportamento repetitivo pode ser até mesmo uma leve depressão. “É preciso saber como está essa família, o seu seio familiar. Pode ter algo errado nessa história”, alerta.

No entanto, mesmo com os excessos, Luiz Carlos Brant não vê a situação como um caminho sem volta. “Sou esperançoso. O avanço tecnológico é diferente do cultural. Estamos em um momento de deslumbramento e encantamento com as redes sociais. Foi assim com a televisão na década de 1940, em que se discutiu muito a exposição das crianças na TV. Mas as tecnologias tendem a um equilíbrio. Esperamos que elas possam ser usadas na ordem da temperança.”

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