Radioterapia com prótons é chance de cura para câncer raro; mineira faz campanha
Tratamento aplicado contra o cordoma de clivus impede que radiação se espalhe pelos órgãos saudáveis, diminuindo sequelas. Campanha arrecada recursos para que a mineira Danielle Pedrosa, de 16 anos, possa se tratar fora do Brasil
Segundo o oncologista Leandro Alves Ramos, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica – Regional Minas Gerais, os cordomas podem ocorrer em qualquer região da medula espinhal, mas são mais comuns em suas extremidades: no clivus – base do crânio, próximo ao tronco cerebral – ou na região sacral. O local onde aparece dá nome à doença: cordoma de clivus ou cordoma sacral. Todo cordoma tem origem nas células embrionárias, chamadas notocordia. “Todo mundo pode ter resquícios dessas células embrionárias no organismo, mas não necessariamente elas vão evoluir para um tumor. Por algum motivo ainda não esclarecido, mas há apontamentos para fatores genéticos, essas células embrionárias se desenvolvem e tornam-se um câncer”, esclarece Ramos.
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POUCO ACESSO
É quando a doença toma novas dimensões para os pacientes brasileiros. A radioterapia de prótons só está disponível em poucos centros americanos e europeus, e um ou dois orientais. Segundo o radioterapeuta Marcus Castilho, coordenador do serviço de radioterapia do Instituto Mário Penna e secretário geral da Sociedade Brasileira de Radioterapia, esse tipo de tratamento beneficia principalmente crianças e pacientes mais jovens. “A radioterapia com prótons impede que a radiação se espalhe pelos órgãos saudáveis do paciente, diminuindo a incidência tardia de outros tumores radioinduzidos e de sequelas do tratamento. Em alguns casos selecionados, o tratamento pode aumentar as chances de cura”, explica o especialista, segundo o qual se trata de um tratamento extremamente caro. “Estamos falando de um aparelho que custa de R$ 70 milhões a R$ 100 milhões e demanda uma estrutura gigantesca”, explica.
Há dois tipos principais de radiação para tratamento de tumores: por fótons e por prótons. Segundo o radioterapeuta Michael Chen, do Núcleo de Radioterapia do A.C.Camargo Cancer Center, a radioterapia por fótons é a disponível e acessível em todo o mundo. O paciente entra em uma máquina, o acelerador linear, e recebe uma dose de radiação por alguns minutos, em uma média de 30 sessões. Na radioterapia por prótons, o paciente entra também em uma máquina, o acelerador de prótons, para receber uma dose de radiação por alguns minutos e na mesma média de sessões. A diferença está no tipo da radiação. “Por suas características, a de prótons permite uma carga maior, o que beneficia alguns tipos específicos de tumor, caso do cordoma de clivus. Ela é mais precisa, porque acerta, basicamente, apenas a região de interesse.”
Segundo o pai da menina, o comerciante Marco Antônio Bitar, de 48, o caso foi encaminhado para o cirurgião Aldo Stanm, especialista em endoscopia ultracraniana. “Toda a cirurgia foi feita pelo nariz. O risco de ela morrer, ficar tetraplégica na cirurgia ou no princípio da recuperação era altíssimo. Mas foi um sucesso, foi um milagre”, emociona-se o pai, que acompanhou a filha nos mais de 20 dias que passou em São Paulo. Foi quando veio a outra notícia: o tumor estava infiltrado no osso e ficaram resíduos de células cancerígenas, que devem ser bombardeadas com a radioterapia de prótons, um tratamento caríssimo, que vai exigir que Dani fique pelo menos seis semanas nos Estados Unidos. “Procuramos o governo, mas não são pagos tratamentos fora do país. Foi quando pensamos em criar uma página no Facebook e pedir ajuda dos amigos próximos, que abraçaram a causa. “Não esperava o resultado que estamos tendo. Foi uma manifestação de solidariedade maravilhosa.”
Enquanto lutam para reunir o valor necessário para o pagamento – os R$ 250 mil não incluem os gastos com passagem e hospedagem –, Dani e o pai correm atrás da documentação exigida. Solidários, amigos de escola de Dani iniciaram também uma campanha, conseguindo, inclusive, o apoio de jogadores do Clube Atlético Mineiro. Na segunda-feira, às 12h30, alguns jogadores disputam uma partida de futsal com a equipe sub-17 e os treinadores, no Ginásio Poliesportivo José Alonso, do Colégio Magnum. Haverá sorteio de uma camisa autografada do Clube. Ingressos estão sendo vendidos pelos alunos, hoje e amanhã, a R$ 10.
CÂNCER DE MAMA
Oncologistas, mastologistas, radioterapeutas, radiologistas e patologistas se reúnem no próximo sábado para debater as principais novidades apresentadas na última edição do San Antonio Breast Cancer Symposium (SABCS), considerado o mais importante congresso mundial sobre câncer de mama. O 1º Simpósio Pós-San Antonio, promovido pela Oncomed BH, no Hotel BH Platinum, terá palestras, mesas-redondas e debates de casos clínicos. Entre os temas que serão discutidos, destaque para os novos medicamentos, direcionados especificamente para células tumorais e para as recentes abordagens cirúrgicas, menos agressivas. As inscrições são gratuitas e estão abertas, inclusive, a médicos residentes de áreas correlatas. Mas as vagas são limitadas. Mais informações pelo telefone (31) 2516-4356.
Saiba mais - NOMENCLATURA
Cada câncer se origina de células específicas do corpo humano. Os tumores levam o nome dos tecidos de onde se originaram. Todo cordoma, por exemplo, é um tumor de células embrionárias. Os sarcomas vêm de células musculares. Os carcinomas, caso do câncer de mama, são formados a partir de glândulas. Os melanomas, caso do câncer de pele, têm origem nos melanócitos, células responsáveis pela pigmentação.