Pesquisadores dizem que descobriram o que realmente pode tratar o resfriado

Após revisar estudos clínicos, pesquisa do Canadá indica os cuidados realmente eficazes para a prevenção e o tratamento do resfriado comum. Pela falta de comprovação científica, a ingestão de vitamina C não faz parte da lista

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Vilhena Soares - Correio Braziliense Publicação:22/02/2014 10:00Atualização:18/02/2014 08:34

Crianças e adultos são surpreendidos por ela a qualquer hora. Após um banho de chuva ou o contato com um colega do escritório ou da escola infectado, surge a gripe, carregada por uma infinidade de incômodos. Rotineiro, o resfriado tem uma lista também ampla de cuidados para preveni-lo e tratá-lo. Muitos ineficientes, alertam cientistas do Canadá. O grupo analisou os mais adotados e identificou as precauções indicadas e não indicadas no Canadian Medical Association Journal (CMAJ). A lista evita o investimento em terapias erradas e que uma doença comum se agrave, gerando enfermidades mais graves, como a pneumonia.

“Embora autolimitado, o resfriado comum é altamente prevalente e pode ser debilitante. Isso faz com que haja declínio em função de produtividade no trabalho, o que pode afetar outras atividades, como dirigir”, justifica Michael Allan, um dos autores do trabalho e integrante do Departamento de Medicina de Família da Universidade de Alberta em Edmonton, em um comunicado à imprensa. Dor de garganta, tosse e mal-estar, que podem durar até três semanas, estão entre os contratempos que podem agravar a situação dos pacientes.

Clique para ampliar e entender a pesquisa (Valdo Virgo / CB / DA Press)
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Algumas das estratégias abordadas por Allan e seus colegas já são conhecidas popularmente, como manter as mãos limpas. Uma revisão feita em 67 ensaios clínicos mostrou que a limpeza com álcool é eficaz, assim como o uso de probióticos. Entre as novas propostas, os cientistas indicam o uso do zinco. Resultados de dois estudos apontam que as crianças que tomaram 10mg ou 15 mg de sulfato de zinco por dia apresentaram menores taxas de gripes e menos ausências da escola devido a resfriados.

Outro ponto abordado é o uso de anti-histamínicos combinados com descongestionantes e/ou medicamentos para a dor, que, de acordo com o trabalho, parece ser pouco eficaz no tratamento de resfriados em crianças mais velhas — mas não em crianças menores de 5 anos e adultos. Allan explica que o trabalho se baseou em ensaios gerais. “Estamos focados em ensaios clínicos randomizados (prospectivos) e em revisões sistemáticas e meta-análises de ensaios clínicos randomizados para a terapêutica, mas poucos dos estudos tinham um baixo risco de viés”, detalha o pesquisador.

Segundo Allan, muitos resultados foram inconsistentes e tiveram pequenos efeitos. Ela cita como exemplo a vitamina C, que levantou “suspeita de que o benefício obtido pode representar viés em vez de um verdadeiro efeito.” Os autores acreditam que o trabalho ajuda a esclarecer muitas dúvidas que existiam nessa área de tratamento, mas que ainda existem mais mistérios a serem desvendados. “Agora, há muito mais evidências nessa área, mas muitas incertezas permanecem sobre intervenções para prevenir e tratar o resfriado comum”, avalia Allan.

Busca necessária
Uma gripe mal curada também pode agravar outros problemas de saúde, como a rinite. Por isso, a sugestão de estratégias de combate e prevenção mais eficazes do problema é mais que bem-vinda pela classe médica. “O resfriado é causado por um renovírus, que abaixa a nossa imunidade. Essas bactérias são oportunistas, aproveitam essa fraqueza e podem fazer como que a infecção evolua. Daí a importância de ela ser tratada corretamente”, ressalta Danilo Pereira, médico residente do Programa de Infectologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Para Pereira, há muitas crenças que envolvem o tratamento e a prevenção do resfriado comum, mas poucos cuidados são validados cientificamente. “É o caso da vitamina C, citada pelos autores do trabalho. Até hoje, não se obteve comprovação científica da eficácia dela. O mel realmente tem uma ação, ele faz com que o corpo demande mais água e, desse modo, a pessoa se hidrata mais e ganha uma melhora”, explica. “Tendo a comprovação dessas estratégias podemos chegar a medidas mais eficazes.”

Um cuidado chancelado pelo grupo de pesquisadores é combinar medicamento para combater a gripe. Jaime Rocha, infectologista do Laboratório Exame, concorda com a sugestão. “A tendência desse vírus é ficar resistente. Acredito que a junção de medicamentos pode ser melhor do que (ingerir) só uma droga”, declara.

O infectologista também acredita ser necessária a diferenciação de tratamentos de acordo com a idade do paciente, como proposto no trabalho canadense. “ Todos os seres humanos, em diferentes estágios da vida, precisam de tratamentos direcionados. Isso ocorre pela necessidade de manter o crescimento das crianças, por exemplo, e também para impedir efeitos colaterais”, complementa.

Os especialistas ressaltam que uma preocupação maior com a gripe pode ter um impacto grande na saúde pública. Ele cita como exemplo o recente o risco de surto do H1N1, quando as pessoas passaram a evitar mais as infecções virais. “Só o hábito de lavar as mãos com álcool fez com que, em 2009, o número de incidência de várias doenças caísse consideravelmente. Esse é um exemplo de como algo tão fácil de ser incorporado em nosso cotidiano pode refletir resultados tão positivos”, destaca Palmeira.

Ação distinta em idosos
Durante um experimento para o desenvolvimento de intervenções mais eficazes contra a gripe, pesquisadores americanos descobriram que a vacina preventiva não é tão eficaz em idosos. Os resultados do estudo, publicado no mês passado na revista PLOS Pathogens, servem de alerta para a necessidade de desenvolvimento de novas estratégias para o público que tem mais de 65 anos.


Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores testaram a ação de um componente coadjuvante, o CRX – 601, e o adicionaram à vacina da gripe, provocando uma resposta imunológica mais forte do organismo. Também foi testada uma vacinação de forma intranasal, pelo nariz. Os experimentos foram feitos com ratos expostos ao vírus da gripe.

Todas as cobaias vacinadas sobreviveram ao vírus, com a ação de anticorpos protetores específicos da doença. Após essa primeira etapa, os ratos foram infectados novamente com o vírus, mas não conseguiram se recuperar como da primeira vez. Os cientistas realizaram novo experimento sem o uso do CRX – 601 e notaram que os ratos não se recuperavam ao serem infectados. Os resultados, segundo eles, indicam que a vacina não seja tão eficaz contra idosos.


Com relação à aplicação intranasal, a equipe pondera que são necessárias novas análises focadas na ação delas sobre o público mais velho. “Essa intervenção com um adjuvante como o que propomos não precisa ser descartada, mas o nosso estudo chama a atenção para a necessidade de uma caracterização mais aprofundada das respostas imunes”, destaca Maroof Yorgensen, um dos autores do estudo.

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