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Levantamento feito no Brasil mostra que maioria dos pacientes se apoia na religiosidade para enfrentar doença

Conheça a experiência de três pessoas que encontraram na espiritualidade a força para continuarem vivas

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Correio Braziliense Publicação:09/04/2014 13:00Atualização:09/04/2014 13:34
Ciência e fé parecem destinadas a andar em campos opostos. Enquanto a primeira depende de métodos claros, evidências e observação atenta de fenômenos, a segunda se caracteriza por uma crença capaz de se manter forte mesmo quando todos os fatos parecem apontar o caminho contrário do que se deseja. Essa diferença clara, contudo, não impede uma aproximação dos dois universos. São cada vez mais comuns pesquisadores que se interessam em investigar de que forma a religiosidade se relaciona com áreas como a medicina.

O que os especialistas começam a fazer é algo que sempre esteve presente na vida de pacientes. É muito comum que, ao adoecer, as pessoas busquem a medicina sem deixar de lado o aspecto espiritual. Um levantamento feito pelo cardiologista Fernando Antônio Lucchese com 259 internos do Serviço de Cardiologia e Cirurgia Cardiovascular da Santa Casa de Porto Alegre, por exemplo, constatou que 84,9% dos entrevistados acreditam nos benefícios da fé sobre a saúde, e 90,2% usam a religião como conforto no momento da doença. Feita em parceria com a Universidade de Duke, nos EUA, a pesquisa observou ainda que a maioria gostaria de ser atendido por um médico que abordasse o tema com eles.

O interessante é que, segundo o coordenador do trabalho, a crença pode render resultados concretos e observáveis do ponto de vista científico. “Com a espiritualidade desenvolvida, a pessoa entra em um estado mental que induz o equilíbrio neurofisiológico e dos hormônios, o que contribui diretamente para o aumento da imunidade (defesa do organismo)”, afirma Lucchese. O médico diz que, se o sistema neurológico do paciente está equilibrado, o estado psicológico fica propenso a trazer a sensação de esperança, de perdão, de amor e de altruísmo. “Isso estimula o desenvolvimento de energias interiores de autocura, o efeito placebo”, explica.

A psicóloga especialista na relação entre sociedade e espiritualidade Fernanda Sodré lembra que a crença, independentemente qual seja, estimula questionamentos sobre o papel de cada um no mundo e sobre o sentido da vida. “Um indivíduo capaz de se considerar pertencente a um ambiente muito maior do que a comunidade em que está diretamente inserido se sente menos sozinho. Isso faz com que ele esteja aberto a se envolver com mais facilidade com o outro, que esteja mais disponível e que ajude o próximo com mais naturalidade”, diz.

Embora os cientistas tentem explicar como a fé pode ajudar no processo de recuperação, muitos casos permanecem cobertos de mistério. Os hospitais continuam repletos de eventos tão inexplicáveis quanto emocionantes. Conheça a história de três pessoas que se apoiaram na espiritualidade para vencer desafios que pareciam insuperáveis. Pareciam.

 (Breno Fortes/CB/D.A Press)
Luz e tranquilidade na UTI

Nathália Boaventura, 20 anos, foi apresentada à fé e à espiritualidade pela avó Luísa, que era uma católica devota de Maria. Aos 13 anos, a jovem começou a participar e se envolver com os trabalhos desenvolvidos na Paróquia de São Pio de Pietrelcina, o que a aproximou ainda mais da religião. Mas, dois anos depois, a sua fé foi posta à prova. “Em 2009, com 15 anos, fui fazer uma cirurgia. O procedimento foi um sucesso, mas, infelizmente, uma bactéria entrou na minha corrente sanguínea, o que gerou uma infecção generalizada. Diante disso, tiveram de me induzir ao coma”, lembra. Ela conta que, em determinado momento, os médicos não sabiam mais o que fazer e pensaram em desistir.

Foi aí, quando não havia alternativas médicas para tirá-la dessa situação, que a família, amigos e a própria equipe médica se dedicaram às orações. “A partir desse momento, e durante três dias, o meu estado de saúde ficou estável, contrariando as previsões”, conta a jovem. Ela foi retirada do coma e desentubada. “No dia em que acordei do coma, estava sozinha no quarto e sem entender nada. Senti um desespero ao ver o maquinário da UTI. Nesse momento, vi uma grande luz e São Pio sorrindo. Uma tranquilidade tomou conta de mim, acalmando minha respiração e coração”, conta.

Depois da experiência, a fé se tornou algo central na vida de Nathália. “Após tudo que eu passei, percebi que a fé não exclui as dificuldades da vida, mas ajuda a enfrentá-las com temperança. Eu tenho a plena convicção de que Deus me salvou, utilizando os médicos, os enfermeiros e todos que participaram do meu tratamento como instrumento”, assegura.


 (Arquivo Pessoal)
Meditação para matar as células doentes

O professor Wanderley Vieira Paris Junior, 42, morador de Curitiba, veio de uma tradição familiar católica não praticante, mas sempre se considerou um “buscador”. “Queria, como muitos, encontrar algo que me trouxesse de volta, me libertasse de um sentimento de limitação e vazio que eu carregava”, explica. E foi na prática de ensinamentos budistas que ele encontrou o próprio caminho.

Em fevereiro de 2007, depois de muitas investigações e exames por conta de dores terríveis que passou a sentir nos rins, Wanderley foi diagnosticado com uma enfermidade raríssima, chamada fibrose retroperitoneal idiopática. Até então, apenas 72 casos haviam sido registrados. “O tratamento constava de tentativas feitas pela equipe médica”, lembra.

Diante da dificuldade dos especialistas em chegar a bons resultados com diferentes medicamentos, o professor apostou em um processo de autocura por meio da meditação budista tibetana. “Em minhas práticas de meditação, eu visualizava uma luz curativa que escaneava meu corpo, substituindo as células doentes por saudáveis. E parece ter funcionado bem. Em um primeiro momento, o benefício maior foi a ausência de sintomas, as dores. Além disso, o avanço da doença em meu organismo parou”, lembra. Quatro meses após o início das práticas de meditação, exames mostraram uma queda incrível da presença da fibrose.

O que antes era uma busca por entendimento passou a ser uma experiência efetiva dos ensinamentos budistas. “Passei a vivê-los, literalmente. Depois desse episódio, abri um espaço em Curitiba onde ofereço à comunidade práticas e cursos de meditação, a mesma que me curou. A motivação é trazer benefícios a todos aqueles que buscarem ajuda. O resultado tem sido maravilhoso”, conta.


 (Carlos Moura/CB/D.A Press)
Vigília e nenhuma sequela

Em Célia Maia, 78 anos, a fé no poder do espiritismo sempre esteve presente. Segundo a aposentada, a crença aprendida com a mãe desde criança foi fundamental para que ela se recuperasse de um acidente vascular cerebral hemorrágico (AVCH). O problema aconteceu atrás do olho direito e provocou três paradas cardíacas em Célia. “Ela foi levada diretamente para a UTI e entrou em coma”, lembra Verônica Maia, uma de suas filhas. Após um exame clínico, os médicos voltaram à família e estimaram que restavam à paciente apenas 72 horas de vida. Disseram, também, que não havia qualquer condição de recuperação, ainda mais sem sequelas.

Uma espécie de vigília foi feita pela família e, para a surpresa dos especialistas, após 16 dias de orações e pedidos Célia acordou. O quadro se estabilizou e, passados quatro meses de internação, uma operação foi marcada. “O médico saiu da sala de cirurgia em menos da metade do tempo estipulado, pedindo que nem perguntássemos o que havia acontecido, mas que, surpreendentemente, ela não havia tido sequela alguma. Nem sequer tinha perdido parte da visão”, conta, emocionada, Verônica.

A família não fala em milagre, mas atribui os resultados positivos ao auxílio que Deus deu à equipe médica. “A fé, para mim, é a expansão do divino dentro de nós”, resume Célia. Para ela, tudo o que aconteceu foi perfeito porque a fez se relacionar mais com a própria religião. “Eu nunca tive dúvidas em relação a Deus. A confiança que depositamos Nele vai transbordando para os problemas que aparecem, permitindo que os superemos com mais facilidade”, diz.

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