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Tabus que regem comportamento sexual têm origem em preceitos religiosos milenares, diz pesquisador

É isso o que defende o historiador norueguês, para quem separar crença e sexo é impossível - os dois estariam ligados desde os fundamentos mais básicos de cada credo

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Carolina Samorano - Revista do CB Publicação:18/07/2014 08:31Atualização:16/07/2014 14:15
Muitos dos preconceitos e tabus, convenções e mesmo leis relacionadas ao sexo e à sexualidade que regem o comportamento sexual da sociedade hoje têm origem em preceitos religiosos estabelecidos milhares de anos atrás. É isso o que defende o historiador norueguês Dag Oistein Endsjo, professor de estudos religiosos na Universidade de Bergen e para quem separar crença e sexo é impossível — os dois estariam ligados desde os fundamentos mais básicos de cada credo. “Muitas crenças permanecem com a gente em leis sem que a maioria das pessoas sequer saiba que aquilo tem a ver com religião. Mas, no momento em que essas leis estão para ser mudadas, os religiosos opostos às mudanças é que revelam o lado religioso de tudo aquilo”, esclarece.

O historiador norueguês Dag Oistein Endsjo, professor de estudos religiosos na Universidade de Bergen  (Arquivo Pessoal)
O historiador norueguês Dag Oistein Endsjo, professor de estudos religiosos na Universidade de Bergen
Ex-líder da Aliança Norueguesa pelos Direitos Humanos, ele não nega que escrever é uma forma de ativismo. “Eu acredito que entender melhor a relação entre sexo e religião pode ajudar a compreender a origem do preconceito e como lutar contra ele. É importante estar ciente de quão enormes são as diferenças nas várias religiões no que diz respeito ao sexo, e ainda dentro de cada religião. Não existe uma única verdade religiosa sobre qualquer forma de sexo”, defende. Por e-mail, ele conversou com a Revista.

Mesmo nas religiões mais conservadoras e “antissexuais”, você acredita que exista uma tendência de abrandamento da condenação tão dura do sexo ou da sexualidade?
Houve recentemente um aumento em muitas religiões do preconceito contra a homossexualidade. Ao mesmo tempo, condenações bem mais tradicionais de sexo antes do casamento, fora do casamento e, não menos importante, divórcio, acabaram ficando em segundo plano. A atitude mais positiva em relação ao sexo por parte dos mais conservadores veio acompanhada de mais condenação ainda contra gays e lésbicas. Ao mesmo tempo, é importante sublinhar que muitos fiéis, como a maioria dos católicos europeus e nas Américas, não têm mais nenhum problema com a homossexualidade.

No livro, percebemos que tanto homens quanto mulheres têm sua sexualidade podada e condenada em várias religiões. No entanto, a necessidade de regular a sexualidade feminina é mais latente. Qual é a origem disso?
As regras para homens e mulheres geralmente são tão radicalmente diferentes que fica impossível falar em heterossexualidade como uma única categoria na maioria das religiões. A regra geral é que normas mais restritas se aplicam às mulheres, algo que deve ser visto no contexto de que muitas religiões têm tradicionalmente sido regidas por homens. Isso parece se conectar também a uma crença mais geral de que sexo é sobre conquista — mulheres são conquistadas, homens conquistam —, algo que torna ainda mais importante para os homens impedir que o que eles consideram “suas” mulheres (filhas, esposas, irmãs e mães) sejam conquistadas. Esse sistema é mais relacionado à chamada “cultura da honra”. Mas, olhando mais de perto, percebemos que a práxis religiosa geralmente enfatiza e reforça essa mesma lógica.

A definição de sexo varia de religião para religião e mesmo numa mesma religião. Por exemplo, cristãos que se comprometem em se casar virgens acham completamente aceitável praticar sexo oral. Você acredita que mesmo as religiões encontram maneiras de burlar suas verdades?
O que parece é que o fiéis sempre encontram maneiras de burlar regras muito estritas. O que importa é não falar muito sobre isso — ou simplesmente não falar nada. As religiões tendem a tratar como sexo apenas a penetração. Esse parece ser o caso do Velho Testamento, em que sexo entre mulheres nem sequer é mencionado, provavelmente porque não há penetração e, portanto, não há sexo. Paralelamente, apenas sexo com penetração entre homens é condenado — outros atos sexuais entre homens provavelmente nem são considerados sexo.

As pregações sobre sexo acabam influenciando leis e direitos?

Muitas crenças tradicionais permaneceram entre nós em leis sem que a maioria das pessoas sequer pensasse que aquilo tinha a ver com religião. Mas, no momento em que essas leis estavam para ser mudadas — seja a legalização do divórcio seja casamento para casais homossexuais —, os religiosos opostos às mudanças então revelaram o lado religioso de tudo aquilo.

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