Crianças e jovens ficam divididos entre o apelo do consumo e a postura ecológica
Com a tentação para comprar e, por outro lado, a consciência sobre a necessidade de evitar o desperdício e preservar o meio ambiente, eles têm o desafio de resolver este conflito para colocar a teoria em prática
Zulmira Furbino
Publicação:27/07/2014 08:00Atualização: 25/07/2014 15:41
De um lado, eles aprendem, cada vez mais cedo, que é preciso preservar o meio ambiente, separar e reciclar o lixo, fechar a torneira enquanto escovam os dentes, jogar o lixo na lixeira, apagar a luz dos cômodos quando saírem, não jogar comida fora e muito mais. De outro, também cada vez mais cedo, são bombardeados pela cultura do consumo e instigados a se sentir permanentemente insatisfeitos com o que têm. Estamos falando de crianças e adolescentes brasileiros que sentem na pele a dificuldade de resolver um conflito aparentemente sem solução: a transposição da teoria da preservação do planeta para a vida prática via redução do consumo.
Nos últimos 50 anos, de acordo com o Instituto Akatu, enquanto a população mundial pulou de 3 bilhões de habitantes para 7 bilhões, o consumo no planeta aumentou cinco vezes, de US$ 5 trilhões para US$ 32 trilhões. Por causa dessa corrida acelerada pelo consumo, hoje o mundo consome 50% mais recursos renováveis do que há meio século. “Nessa matéria, já usamos metade do nosso cheque especial”, avisa Sílvia Sá, gerente de educação da entidade. Hoje, 1 bilhão de pessoas, ou 16% da humanidade, dominam o consumo mundial. “É preciso criar um novo padrão de produção e de consumo. Se a população do planeta continuar a consumir como hoje, seriam necessários cinco planetas para dar conta do recado. Nas classes mais altas, o impacto desse consumo no meio ambiente é muito maior”, diz.
A arquiteta Priscila Dias de Araújo, de 41 anos, tem dois filhos, Francisco Lopes de Araújo, de 7, e Guilherme Lopes de Araújo, de 5. Em sua avaliação, os meninos têm mais visão ambiental do que ela própria quando tinha a idade deles. “A gente fala o tempo inteiro que não pode deixar a torneira aberta. As informações são passadas de forma até cansativa, tanto na escola como em casa, mas mesmo assim eles não têm consciência do que o consumo tem a ver com isso e nem de tudo o que consomem”, observa. Segundo Priscila, os filhos pedem coisas o tempo inteiro, já que assistem às propagandas nos canais de TV de desenho animado o tempo todo.
Francisco diz que precisa de mais brinquedos, mas que sua mãe acha que ele já tem muitos. “Fico com vontade de ter outras coisas quando vejo as propagandas na TV.” Segundo a mãe, os dois querem brinquedo, revista, figurinhas. “A gente vive num dilema. Na nossa época, as coisas eram menos acessíveis. Aqui em casa tentamos controlar o consumo, mas tem os avós e os tios com mais poder aquisitivo. Nos aniversários e no Natal eles são bombardeados com presentes”, reconhece a arquiteta. O efeito colateral, segundo ela, é que os filhos têm tantas coisas que elas acabam perdendo o sentido. “Eles abrem os brinquedos, brincam alguns dias e depois se cansam e pedem coisas novas”, revela.
O motivo pelo qual a educação recebida em casa e na escola em matéria de necessidade de conservação do planeta não se reflete nas escolhas no momento de comprar é que crianças e adolescentes são muito vulneráveis ao poder da propaganda e do consumo. Além disso, a associação entre meio ambiente e consumo ainda não é algo claro para eles. “Todos estamos inseridos na sociedade de consumo, que nos seduz em tempo integral. Nesse mundo, o ato de comprar é apresentado como entretenimento, é um fator de aceitação social e até afetivo. Para crianças e adolescentes que estão construindo sua identidade, tudo isso tem um apelo enorme”, lembra Laís Fontenelle, consultora e psicóloga do Instituto Alana, que atua na criação de políticas públicas pró-infância.
A arquiteta Priscila Dias de Araújo tenta controlar o consumo dos filhos Francisco, de 7 anos, e Guilherme, de 5, que pedem brinquedos o tempo todo
Nos últimos 50 anos, de acordo com o Instituto Akatu, enquanto a população mundial pulou de 3 bilhões de habitantes para 7 bilhões, o consumo no planeta aumentou cinco vezes, de US$ 5 trilhões para US$ 32 trilhões. Por causa dessa corrida acelerada pelo consumo, hoje o mundo consome 50% mais recursos renováveis do que há meio século. “Nessa matéria, já usamos metade do nosso cheque especial”, avisa Sílvia Sá, gerente de educação da entidade. Hoje, 1 bilhão de pessoas, ou 16% da humanidade, dominam o consumo mundial. “É preciso criar um novo padrão de produção e de consumo. Se a população do planeta continuar a consumir como hoje, seriam necessários cinco planetas para dar conta do recado. Nas classes mais altas, o impacto desse consumo no meio ambiente é muito maior”, diz.
A arquiteta Priscila Dias de Araújo, de 41 anos, tem dois filhos, Francisco Lopes de Araújo, de 7, e Guilherme Lopes de Araújo, de 5. Em sua avaliação, os meninos têm mais visão ambiental do que ela própria quando tinha a idade deles. “A gente fala o tempo inteiro que não pode deixar a torneira aberta. As informações são passadas de forma até cansativa, tanto na escola como em casa, mas mesmo assim eles não têm consciência do que o consumo tem a ver com isso e nem de tudo o que consomem”, observa. Segundo Priscila, os filhos pedem coisas o tempo inteiro, já que assistem às propagandas nos canais de TV de desenho animado o tempo todo.
Leia a continuação desta matéria:
Família envolvida ajuda na conscientização dos filhos para resistir ao consumismo
Escola trabalha com alunos em três pilares: meio ambiente, lado social e econômico
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O motivo pelo qual a educação recebida em casa e na escola em matéria de necessidade de conservação do planeta não se reflete nas escolhas no momento de comprar é que crianças e adolescentes são muito vulneráveis ao poder da propaganda e do consumo. Além disso, a associação entre meio ambiente e consumo ainda não é algo claro para eles. “Todos estamos inseridos na sociedade de consumo, que nos seduz em tempo integral. Nesse mundo, o ato de comprar é apresentado como entretenimento, é um fator de aceitação social e até afetivo. Para crianças e adolescentes que estão construindo sua identidade, tudo isso tem um apelo enorme”, lembra Laís Fontenelle, consultora e psicóloga do Instituto Alana, que atua na criação de políticas públicas pró-infância.
Assista ao vídeo com Desirée Ruas, coordenadora do Movimento Consciência e Consumo: