'Manual do Pai Solteiro' traz dicas para cuidar dos filhos após a separação

Conheça a história do geógrafo Lizandro Chagas, 36 anos que tem guarda compartilhada do filho Thomaz, de 4

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Flávia Duarte - Revista do CB Juliana Contaifer - Revista do Correio Publicação:09/08/2014 08:01Atualização:09/08/2014 08:23
O geógrafo Lizandro Chagas, 36 anos, atende ao telefone já se desculpando pelas interrupções. Do outro lado da linha, o filho Thomaz, 4 anos, disputa a atenção do pai. Paciente, ora Lizandro resolvia a solicitação do pequeno, ora explicava que ele precisava esperar a conversa acabar. Como todos os homens, Lizandro aprendeu a ser pai quando seu filho nasceu. A diferença é que, desde criança, ele sonhava em viver esse papel.

Lizandro Chagas, com o filho, Thomaz, e o cachorro da família, Guimba (Arquivo Pessoal)
Lizandro Chagas, com o filho, Thomaz, e o cachorro da família, Guimba
Quando se separou, Thomaz tinha 1 ano e meio. Lizandro nunca cogitou se afastar do primogênito ou ser pai só no fim de semana. “Entrei em uma depressão ou algo parecido. Não ver meu filho todos os dias era muito doloroso”, conta. Afinal, foi o tipo de pai que acordava de madrugada para acudir choro, que levou o bebê para a primeira vacina, que saía para passear. Não ter mais essa rotina o consumiu. Mas ele jamais aceitou se distanciar do menino. “Me preocupava não estar ativo na educação dele”, conta.

Ele e a ex optaram, então, pela guarda compartilhada. Hoje, Thomaz passa a semana com o pai e os fins de semana com a mãe. Lizandro trabalha fora e não tem empregada. É ele quem faz tudo dentro de casa e se dedica aos cuidados do filho. “Planejo minha vida e me adequo de acordo com os horários dele. Tenho que fazer a faxina com ele em casa, ir ao banco com ele…”, explica.

Na prática, funciona bem. Tanto que ele criou um blog, Sou pai solteiro, para compartilhar com outros pais iniciantes as deliciosas experiências de cuidar sozinho de uma criança. Ele garante que, no início, pode parecer difícil, mas, com empenho, tudo se resolve. Ele mesmo foi “perguntando, se virando”. Órfão de mãe, buscava dicas e receitas na internet, com as amigas, com a ex. E deu certo. É um pai realizado e acha que desempenha muito bem esse papel. “Há um preconceito generalizado de que os homens não podem cuidar das crianças sozinhos. As mulheres não acreditam que isso é possível”, diz o professor, que se despede, dizendo que tem que estender a roupa no varal.

Dicas de ouro
  • Planeje a saída de casa. Se possível, alterne alguns dias entre seu lar provisório e o sofá da casa da ex para preparar os pequenos. Leve-os para visitar a nova casa.
  • Evite voltar à casa dos pais (avós da criança). O ideal é arranjar sua própria casa, mas, se precisar dividir, melhor que seja com um amigo solteiro ou separado há muito tempo.
  • Prepare a sua casa. Redes nas janelas, aspirador de pó, brinquedos e roupas são essenciais.
  • Não se refira à sua casa como a “casa do papai”, e, sim, como a “nossa casa”. O mesmo vale para a casa da mãe.
  • Cultive uma hortinha de ervas. Estimula as crianças a cuidarem das plantas. Todas ficam felizes em usar o manjericão que ajudaram a plantar.
  • Sempre confie no sexto sentido feminino, seja o da ex-mulher, seja o da namorada ou o da filha.
  • Tenha sempre uma caneta, papel, palavras-cruzadas e outros jogos para crianças no porta-luvas do carro.
  • Se tiver que faltar a algum encontro com a criança, ligue e peça desculpas. É importante ressaltar que foi uma exceção.
  • Evite brigar na frente dos filhos.
  • Enquanto estiver com o filho, seja um adulto responsável. Deixe o adolescente tardio para outros momentos.
  • Não tenha preguiça de educar seu filho.
  • Manifestações de carinho, presença e atenção com os filhos são provas de amor e geram laços eternos.

Fonte: Manual do pai solteiro.

Um novo começo
Em geral, para os homens, as novidades começam pelo endereço, com consequências para o orçamento. Alguns terão que se enveredar em tarefas que nunca desempenharam antes, como escolher a roupa da menina ou pentear o cabelo dela. Ou ainda se dedicar a obrigações indispensáveis, como fazer comida, lavar o uniforme sujo porque tem aula no outro dia. “O homem precisa saber que são mudanças grandes, mas que ele vai se adaptar. Ele precisa entender qual papel desempenhava antes. Ele era pai e continuará sendo”, lembra a psicóloga Denise Diniz.

Sim, a nova fase inclui trabalhar mais. Porém, prazeres e projetos pessoais não devem ser deixados de lado. “A meta é encontrar equilíbrio psicológico, físico e social. Não é porque o pai está divorciado que ele tem que passar todo o tempo livre com o filho. Também não dá para perder tempo e deixar de compartilhar a vida da criança. Há momentos que não voltam mais”, alerta a psicóloga.

Nesse processo, pai e filhos precisam estabelecer uma parceria. Denise sugere que, da parte dos homens, é preciso controlar os excessos. Às vezes, por culpa, eles querem compensar a ausência com presentes, mas isso só gera problemas. E o ambiente precisa ser construído para que a criança se sinta segura. “O ideal é que o homem encontre uma nova residência para morar sozinho e receber a criança nos seus dias de convivência. Se possível, que tenha um quarto separado para ela e acostumá-la a dormir sozinho desde o início. É importante que tenha uma rotina organizada, mesmo que veja a criança em fins de semanas alternados. As regras podem ser diferentes das da casa da mãe, desde que existam. A criança espera que o pai também cuide dela, a eduque e fale ‘não’ quando necessário”, avisa a terapeuta familiar Roberta Palermo.

Na tarefa de construir o novo lar com o papai, a criança pode ser convidada a participar de cada detalhe. A psicóloga Denise Diniz, por exemplo, sugere que o pai peça ajuda das crianças na hora de comprar os móveis do quarto deles, e que os pequenos o auxiliem, por exemplo, na cozinha. O desenvolvimento dessa convivência dependerá muito de como era o diálogo antes da separação. Presidente da Apase (Associação de Pais e Mães Separados), Analdino Rodrigues define a separação como um “trauma” para toda a família, mas acredita que os “homens contemporâneos”, como chama os pais participativos, dão conta da tarefa de cuidar dos filhos sozinhos. “Não existe dificuldade em compartilhar a criação dos filhos. Os pais que já tinham essa rotina de cuidados antes do término da relação vão mantê-la normalmente”, considera Analdino.

Para que o fim do casamento não esfrie a relação pai-filho, é preciso se dedicar a essa criação, em alguns momentos, feita a distância. O pedagogo Hebert Lobo, diretor-pedagógico da ParticiPais (Associação pela Participação de Pais e Mães Separados na Vida dos Filhos), acredita que o primeiro passo é manter a proximidade física. Uma das maneiras mais práticas, segundo ele, é escolher o endereço da nova casa perto das dos filhos. O ideal é que a criança, que já vai sentir a separação, não sofra ainda mais com a mudança de escola, de cidade e com a distância dos amigos, por exemplo. Hebert ainda recomenda que os pais participem das festividades da escola, se interessem pelas atividades curriculares dos pequenos, ajudem com as lições de casa, especialmente se os encontros ocorrem no fim de semana, quando há uma lista de obrigações a serem cumpridas para segunda-feira.

“Hoje, a maioria dos pais não quer ser visitante. Eles querem participar da vida do filho”, diz Hebert. “Muitas vezes, o pai separado é mais presente do que aquele que mora com as crianças, porque ele tem a sensação de que pode perder seu espaço”, acrescenta.

"Não existe dificuldade em compartilhar a criação dos filhos. Os pais que já tinham essa rotina de cuidados antes do término da relação vão mantê-la normalmente” - Analdino Rodrigues, presidente da Apase (Associação de pais e mães separados)

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