No mundo, há um suicídio a cada 40 segundos

O estigma faz só um pequeno número de países coletar dados sobre o fenômeno. Dos 194 países da OMS, apenas 60 mantêm informações sobre o assunto. China e Índia estão nas primeiras posições do ranking

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Agência Estado Publicação:04/09/2014 09:13Atualização:04/09/2014 10:29

Morte do ator Robin Williams, no último dia 11 de agosto, abriu mais espaço para a discussão (Kevin Winter/Getty Images/AFP )
Morte do ator Robin Williams, no último dia 11 de agosto, abriu mais espaço para a discussão
O suicídio se tornou uma epidemia de proporções globais, mata mais de 800 mil pessoas por ano e 75% dos casos são registrados em países emergentes e pobres, não nas capitais escandinavas, como a cultura popular insiste. Nesta quinta-feira, 4, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publica, pela primeira vez em mais de 50 anos de história, um levantamento global sobre o fenômeno que tira a vida de uma pessoa a cada 40 segundos.

O estigma faz só um pequeno número de países coletar dados sobre o fenômeno. Dos 194 países da OMS, apenas 60 mantêm informações sobre o assunto.

Diante dessa realidade, a Organização Mundial de Saúde vai lançar-se em campanha para ajudar governos a desenhar programas de prevenção e reduzir a taxa em 10% até 2020. Hoje apenas 28 países pelo mundo têm estratégias nacionais de prevenção. "Para cada suicídio cometido, muitos outros tentam a cada ano", alerta a OMS.

Brasil

Em termos absolutos, o Brasil é o oitavo país do mundo com maior número de casos de suicídio, mais de 11,8 mil em 2012. Mas, em proporção ao tamanho da população, a taxa é inferior à média mundial. O que preocupa os especialistas é que esse comportamento tem atingido número cada vez maior de pessoas. Em apenas dez anos, o número de suicídios aumentou no país em mais de 10%.

A liderança em termos de números absolutos é da Índia, com 258 mil casos por ano. A China vem em segundo lugar, com 120 mil. Na terceira posição estão os americanos, com 43 mil suicídios por ano, seguidos por Rússia, Japão, Coreia, Paquistão e Brasil.

Na liderança em termos proporcionais está a Guiana, com 44 casos para cada 100 mil pessoas. A Coreia do Norte vem em segundo lugar, com 38,5 casos. Sri Lanka, Coreia do Sul e Lituânia dividem a terceira colocação, com 28 casos para cada 100 mil pessoas. Locais associados com esse comportamento, como Suécia, Finlândia e Suíça registram taxas de 11, 14 e 9 casos para cada cem mil pessoas.

O Brasil está distante desse grupo. Mas o país passou de uma taxa de 5,3 casos por 100 mil pessoas em 2000 para 5,8 em 2012.

 

Especialistas criticam como suicídio é abordado
O médico José Manoel Bertolote, referência em estudos sobre suicídio e ex-funcionário da OMS, vê com pessimismo a maneira como o tema é tratado no Brasil. Para ele, apesar de a taxa brasileira ser relativamente baixa em relação a outros países, o problema tem sido negligenciado. "Não vejo autoridades fazendo nada sobre o assunto. São raros os municípios que tratam de alguma forma o problema", disse.

Segundo ele, o tema é incômodo para muitos que preferem "varrer para debaixo do tapete" ao invés de analisar e tentar solucioná-lo. "Esse aumento dos números deveria ser sinal de alerta. Mas não é tratado dessa forma", acrescentou. Pesquisadora especializada em prevenção de suicídios e revisora do relatório da OMS, a psicóloga Karen Scavacini compartilha da opinião de Bertolote. "Ainda vai piorar muito antes de começar a melhorar", disse a especialista sobre as estatísticas.

Karen considera importante o relatório da OMS para que o assunto seja retomado e ganhe atenção da população. "É importante por despertar a conscientização sobre o tema. O suicídio está mais perto da população do que ela pode imaginar", destacou. Ela ressaltou que, enquanto em países desenvolvidos o número de pessoas que tiraram a própria vida começaram a diminuir, o mesmo não se repetiu em nações em desenvolvimento. Isso se explica, na visão dela, pela ausência de estratégias nacionais que debatam o assunto e proponham melhoras no sistema de saúde pública.

O Ministério da Saúde instituiu em 2006 as diretrizes nacionais para prevenção de suicídios. A portaria destacava o "aumento observado na frequência do comportamento suicida" e a "possibilidade de intervenção nos casos de tentativas de suicídio e que as mortes por suicídio podem ser evitadas". Para combater, o documento listava uma série de medidas a serem tomadas, como o desenvolvimento de estratégias de promoção de prevenção de danos e linhas de cuidado integrais em todo os níveis de atenção.

De acordo com Karen, por falta de vontade política, a estratégia não apresenta mais nenhuma ação desde 2008. "A situação vai continuar se agravando, pois é difícil conseguir algum tratamento via governo. É difícil trabalhar sem esse apoio", disse. Para a psicóloga, é necessário "políticas de vários setores" para mudar a situação.

Ranking de países, por quantidade de suicídios, em 2012

Índia: 258.075

China: 120.730

Estados Unidos: 43.361

Rússia: 31.997

Japão:
29.442

Coreia do Sul: 17.908

Paquistão: 13.377

Brasil: 11.821

Alemanha:
10.745

Bangladesh: 10.167

Dados de suicídio no Brasil:
Número de suicídios (todas as idades e ambos os sexos) em 2012: 11.821

Mulheres: 2.623

Homens: 9.198

Taxa de suicídio por idade por 100 mil habitantes em 2012:

Todas as idades: 6.0

Mulheres: 2.6

Homens: 9.4

5-14 anos (homens e mulheres): 0.4

5-29 anos (homens e mulheres): 6.7

30-49 anos (homens e mulheres): 8.4

50-69 anos (homens e mulheres): 8.0

70+ anos (homens e mulheres): 9.8

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