Diabetes já atinge um milhão de crianças no Brasil
Aumento do número de casos está ligado ao sobrepeso e à obesidade. Doença pode ser prevenida com informações e boa alimentação
Augusto Pio - Estado de Minas
Publicação:05/10/2014 12:09Atualização: 05/10/2014 12:47
Izabela, de 13 anos, hoje com 85 quilos, lembra que começou a sentir os sintomas da doença quanto tinha 7 anos. Ela conta que ficou com o pescoço escuro e passou a urinar muito, fato observado pelos pais, que a levaram imediatamente a uma endocrinologista. A adolescente ressalta que sua diabetes é mais branda, por isso, não precisa tomar insulina, e sim dois comprimidos por dia. Ela é uma garota feliz, de bem com a vida, mas, às vezes, se queixa um pouco das restrições, como não poder comer doce sempre. Embora Izabela seja diabética, eva uma vida normal, como qualquer pessoa de sua idade, sem nenhum problema. Mas ela sabe que, se não tomar os cuidados necessários, a doença pode se agravar.
A diabetes é uma doença crônica, que atinge 382 milhões de pessoas em todo o planeta, de acordo com os dados da Federação Internacional de Diabetes. Segundo estimativas da entidades, em 2035, esse número deverá chegar a 592 milhões. No ano passado, o Brasil era o quarto país do mundo com mais diabéticos, com 13 milhões de portadores, número que poderá subir para 592 milhões em 2035. Para cada caso diagnosticado, estima-se que haja um sem diagnóstico. Do total de brasileiros portadores, 1 milhão são crianças, de acordo com a Associação de Diabetes Juvenil. E a estimativa é de que 7,8 casos, em cada 100 mil serão de pessoas com menos de 20 anos. Em 2035, o número de brasileiros com a diabetes quase dobrará, chegando a 19,2 milhões. No ano passado, houve 124,6 mil mortes relacionadas à doença no País.
O Brasil está atrás da China (98,4 milhões de casos), Índia (65,1 milhões) e EUA (24,4 milhões). Segundo a endocrinologista Adriana Bosco, presidente da seção mineira da Sociedade Brasileira de Diabetes, o diabetes é considerado problema de saúde pública em todo o mundo, já tendo atingido as estimativas que eram previstas para 2025, que são de 347 milhões de casos. “O aumento do número de diabéticos segue o ritmo da industrialização, da população obesa e da maior longevidade. No Brasil, 11% da população é diabética e 64% da população está acima do peso.”
A especialista explica que são vários os tipos de diabetes. Porém, os mais comuns são o do tipo 2, que corresponde a 90% do total de diabéticos, o tipo 1 e o gestacional, que ocorre só durante a gravidez. Na diabetes tipo 2, existe uma secreção insuficiente de insulina pelo pâncreas e uma resistência à sua ação, ou seja, a insulina não cumpre sua função de colocar o açúcar (glicose) para dentro das células, deixando-o alto no sangue (hiperglicemia).
“É uma doença multifatorial, que necessita de um componente genético, mas predomina a influência do comportamento e estilo de vida. O tipo 2 acomete principalmente os adultos e se relaciona fortemente com a obesidade e o sedentarismo. Entretanto, tem crescido muito o número de crianças com esse tipo de diabetes, uma vez que aumenta o sobrepeso e a obesidade entre os pequenos. É o tipo de doença que poderia ser totalmente prevenida com informações e correção dos maus hábitos alimentares e sedentarismo”, diz Adriana Bosco.
Ela salienta que, na diabetes tipo 1, praticamente não existe secreção de insulina, uma vez que o pâncreas sofre uma agressão maciça por anticorpos. “É uma doença autoimune, geneticamente determinada, e especula-se sobre fatores ambientais desencadeantes, como doenças viróticas e consumo de leite de vaca antes dos nove meses de idade, porém, nada comprovado. A doença acomete pessoas em qualquer idade, mas o diagnóstico é mais comum em crianças e adolescentes. Não há como prevenir esse tipo de diabetes e o tratamento baseia-se em doses múltiplas de insulina.”
SINTOMAS
A endocrinologista explica que a diabetes tipo 1 abre o quadro de forma rápida e mais contundente. A criança pode iniciar com emagrecimento, prostração, sede excessiva, enurese noturna ou até estado comatoso, chamado cetacidose diabética. Na diabetes tipo 2, os sintomas, inicialmente, são pouco característicos e insidiosos, sendo confundidos com cansaço do trabalho ou estresse. O paciente se cansa com facilidade, tem dores nas pernas, bebe muita água, vai muito ao banheiro, às vezes apresenta tonteira e vista turva o que, com o tempo progride para perda de peso, apesar da fome excessiva.
Em ambos os casos, o controle adequado dos níveis de glicose no sangue confere qualidade de vida e prevenção das complicações, como cegueira, amputações, insuficiência renal, infarto e derrame cerebral, que fatalmente vão ocorrer em menor ou maior grau se o paciente não aceitar sua doença, não se informar sobre ela, não procurar ajuda especializada e não aderir aos tratamentos propostos.
“Uma questão importante é o fato de a diabetes tipo 2 ser praticamente uma doença silenciosa e, antes de que se apresentem os sintomas mais drásticos, o paciente não procura o médico e nem toma nenhuma atitude; esse período pode durar de dois a três anos, em que o paciente fica sem tratamento. Estima-se que cerca de 50% dos pacientes não sabem que têm diabetes tipo 2. Portanto, procure o médico e faça exames anuais, principalmente se tiver diabéticos na família e se estiver acima do peso. Coma bem, emagreça, faça exercícios. É simples assim”, aconselha a endocrinologista.
NOVO MEDICAMENTO
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) acaba de aprovar o uso da insulina basal degludeca para o tratamento de adultos com diabetes tipo 1 e tipo 2. A nova insulina será lançada nacionalmente nesta terça-feira e representa um avanço, por possibilitar expressiva melhora na qualidade de vida. Entre os benefícios, está a duração de até 40 horas, o que traz mais conforto e flexibilidade ao paciente que utiliza insulina, pois não há obrigatoriedade de aplicar todos os dias, exatamente no mesmo horário. Além disso, a concentração da insulina degludeca no sangue é homogênea e estável durante o dia todo, ou seja, sem picos. Assim, ela traz também o benefício de reduzir as taxas de hipoglicemia noturna, uma das grandes preocupações ao se iniciar um tratamento com as insulinas que estão disponíveis no mercado atualmente.
Programas educacionais
Em Belo Horizonte, a Associação de Diabetes Infantil (ADI) trabalha com crianças, adolescentes e adultos diabéticos. Fundada em 26 de maio de 2007, a entidade tem cerca de 1,2 mil associados e é uma instituição sem fins lucrativos. “Ela desenvolve e administra programas educacionais para portadores da doença. Além disso, oferece um ciclo de palestras sobre a doença. A ADI desenvolveu, em parceria com a Sociedade Brasileira de Diabetes de MG e o governo estadual, o programa ADI Móvel, cujo objetivo é informar e conscientizar a população a respeito das doenças crônicas e, em particular, sobre o diabetes”, explica um dos fundadores e diretor institucional Dominique Giardini. Informações: (31) 3442-3997 e www.adibrasil.org.br
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O arquiteto Benito Ceccato é pai de gêmeos, sendo que um deles sofre de diabetes. Ele conta que, quando o garoto estava com 3 anos, notou que ele, por uns dois dias, passou a beber muita água e a urinar muito. “Notei que estava um pouco lerdo também. Levamos ele no pronto-socorro e lá foi diagnosticada a diabetes tipo 1. A partir daí, ele passou a tomar insulina diariamente. “Hoje, todas as vezes em que vai comer algo, medimos a glicemia capilar e, aí, calculamos o quanto de insulina teremos de aplicar. É um menino tranquilo, leva uma vida normal, mas, como ainda é uma criança, temos de ficar atentos para que a doença não progrida”, diz o arquiteto.A diabetes é uma doença crônica, que atinge 382 milhões de pessoas em todo o planeta, de acordo com os dados da Federação Internacional de Diabetes. Segundo estimativas da entidades, em 2035, esse número deverá chegar a 592 milhões. No ano passado, o Brasil era o quarto país do mundo com mais diabéticos, com 13 milhões de portadores, número que poderá subir para 592 milhões em 2035. Para cada caso diagnosticado, estima-se que haja um sem diagnóstico. Do total de brasileiros portadores, 1 milhão são crianças, de acordo com a Associação de Diabetes Juvenil. E a estimativa é de que 7,8 casos, em cada 100 mil serão de pessoas com menos de 20 anos. Em 2035, o número de brasileiros com a diabetes quase dobrará, chegando a 19,2 milhões. No ano passado, houve 124,6 mil mortes relacionadas à doença no País.
O Brasil está atrás da China (98,4 milhões de casos), Índia (65,1 milhões) e EUA (24,4 milhões). Segundo a endocrinologista Adriana Bosco, presidente da seção mineira da Sociedade Brasileira de Diabetes, o diabetes é considerado problema de saúde pública em todo o mundo, já tendo atingido as estimativas que eram previstas para 2025, que são de 347 milhões de casos. “O aumento do número de diabéticos segue o ritmo da industrialização, da população obesa e da maior longevidade. No Brasil, 11% da população é diabética e 64% da população está acima do peso.”
A especialista explica que são vários os tipos de diabetes. Porém, os mais comuns são o do tipo 2, que corresponde a 90% do total de diabéticos, o tipo 1 e o gestacional, que ocorre só durante a gravidez. Na diabetes tipo 2, existe uma secreção insuficiente de insulina pelo pâncreas e uma resistência à sua ação, ou seja, a insulina não cumpre sua função de colocar o açúcar (glicose) para dentro das células, deixando-o alto no sangue (hiperglicemia).
“É uma doença multifatorial, que necessita de um componente genético, mas predomina a influência do comportamento e estilo de vida. O tipo 2 acomete principalmente os adultos e se relaciona fortemente com a obesidade e o sedentarismo. Entretanto, tem crescido muito o número de crianças com esse tipo de diabetes, uma vez que aumenta o sobrepeso e a obesidade entre os pequenos. É o tipo de doença que poderia ser totalmente prevenida com informações e correção dos maus hábitos alimentares e sedentarismo”, diz Adriana Bosco.
Ela salienta que, na diabetes tipo 1, praticamente não existe secreção de insulina, uma vez que o pâncreas sofre uma agressão maciça por anticorpos. “É uma doença autoimune, geneticamente determinada, e especula-se sobre fatores ambientais desencadeantes, como doenças viróticas e consumo de leite de vaca antes dos nove meses de idade, porém, nada comprovado. A doença acomete pessoas em qualquer idade, mas o diagnóstico é mais comum em crianças e adolescentes. Não há como prevenir esse tipo de diabetes e o tratamento baseia-se em doses múltiplas de insulina.”
"O aumento do número de diabéticos segue o ritmo da industrialização, da população obesa e da maior longevidade. No Brasil, 11% da população é diabética" - Adriana Bosco, presidente da seção mineira da Sociedade Brasileira de Diabetes
SINTOMAS
A endocrinologista explica que a diabetes tipo 1 abre o quadro de forma rápida e mais contundente. A criança pode iniciar com emagrecimento, prostração, sede excessiva, enurese noturna ou até estado comatoso, chamado cetacidose diabética. Na diabetes tipo 2, os sintomas, inicialmente, são pouco característicos e insidiosos, sendo confundidos com cansaço do trabalho ou estresse. O paciente se cansa com facilidade, tem dores nas pernas, bebe muita água, vai muito ao banheiro, às vezes apresenta tonteira e vista turva o que, com o tempo progride para perda de peso, apesar da fome excessiva.
Em ambos os casos, o controle adequado dos níveis de glicose no sangue confere qualidade de vida e prevenção das complicações, como cegueira, amputações, insuficiência renal, infarto e derrame cerebral, que fatalmente vão ocorrer em menor ou maior grau se o paciente não aceitar sua doença, não se informar sobre ela, não procurar ajuda especializada e não aderir aos tratamentos propostos.
“Uma questão importante é o fato de a diabetes tipo 2 ser praticamente uma doença silenciosa e, antes de que se apresentem os sintomas mais drásticos, o paciente não procura o médico e nem toma nenhuma atitude; esse período pode durar de dois a três anos, em que o paciente fica sem tratamento. Estima-se que cerca de 50% dos pacientes não sabem que têm diabetes tipo 2. Portanto, procure o médico e faça exames anuais, principalmente se tiver diabéticos na família e se estiver acima do peso. Coma bem, emagreça, faça exercícios. É simples assim”, aconselha a endocrinologista.
NOVO MEDICAMENTO
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) acaba de aprovar o uso da insulina basal degludeca para o tratamento de adultos com diabetes tipo 1 e tipo 2. A nova insulina será lançada nacionalmente nesta terça-feira e representa um avanço, por possibilitar expressiva melhora na qualidade de vida. Entre os benefícios, está a duração de até 40 horas, o que traz mais conforto e flexibilidade ao paciente que utiliza insulina, pois não há obrigatoriedade de aplicar todos os dias, exatamente no mesmo horário. Além disso, a concentração da insulina degludeca no sangue é homogênea e estável durante o dia todo, ou seja, sem picos. Assim, ela traz também o benefício de reduzir as taxas de hipoglicemia noturna, uma das grandes preocupações ao se iniciar um tratamento com as insulinas que estão disponíveis no mercado atualmente.
Programas educacionais
Em Belo Horizonte, a Associação de Diabetes Infantil (ADI) trabalha com crianças, adolescentes e adultos diabéticos. Fundada em 26 de maio de 2007, a entidade tem cerca de 1,2 mil associados e é uma instituição sem fins lucrativos. “Ela desenvolve e administra programas educacionais para portadores da doença. Além disso, oferece um ciclo de palestras sobre a doença. A ADI desenvolveu, em parceria com a Sociedade Brasileira de Diabetes de MG e o governo estadual, o programa ADI Móvel, cujo objetivo é informar e conscientizar a população a respeito das doenças crônicas e, em particular, sobre o diabetes”, explica um dos fundadores e diretor institucional Dominique Giardini. Informações: (31) 3442-3997 e www.adibrasil.org.br