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Regina Navarro fala sobre liberdade sexual, rótulos e monogamia

Sexóloga é conhecida por chocar os mais conservadores ao colocar em pauta temas polêmicos como a liberdade sexual em relacionamentos estáveis

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Carolina Samorano - Revista do CB Publicação:06/10/2014 09:01Atualização:29/09/2014 13:31
Há muito mais na sexualidade humana do que a homo ou a heterossexualidade são capazes de definir. É o que defende a sexóloga e psicanalista Regina Navarro, autora de livros como A cama na varanda (Editora Best Seller, 480 páginas) e O livro do amor — volumes I e II (Editora Best Seller, 364 páginas cada um), conhecida por chocar os mais conservadores ao colocar em pauta temas polêmicos como a liberdade sexual em relacionamentos estáveis. Para ela, basta que a pessoa se sinta amada e desejada pelo parceiro. O resto, não é da conta de ninguém — muito menos da outra parte envolvida na relação. “Ninguém deveria ficar preocupado se o parceiro transa ou não com outra pessoa”, diz, em entrevista à Revista. “O que o outro faz quando não está comigo não me diz respeito. Não tenho dúvida de que as pessoas sofreriam menos e, por isso, viveriam bem mais satisfeitas”, continua.

'Não acredite em quem diz que a solução é ser criativo. Isso não passa de um equívoco. É o desejo sexual intenso que leva à criatividade, e não o contrário.' (Divulgação)
"Não acredite em quem diz que a solução é ser criativo. Isso não passa de um equívoco. É o desejo sexual intenso que leva à criatividade, e não o contrário."
Existem homo e heterossexualidade ou há uma tendência natural, reprimida, em sentir atração por pessoas, independentemente do gênero?
Acredito na fluidez dos desejos sexuais. O pesquisador americano Alfred Kinsey concluiu que a homossexualidade e a heterossexualidade exclusivas representam extremos do amplo espectro da sexualidade humana. No estudo, mostra que para cada heterossexual exista pelo menos uma pessoa que sinta, em graus variados, desejo pelos dois sexos. Na pesquisa feita pelo também americano Harry Harlow, mais de 50% das mulheres, numa cena de sexo em grupo, se engajaram em jogos íntimos com o mesmo sexo, contra apenas 1% dos homens. Entretanto, quando o anonimato é garantido, a proporção de homens bissexuais aumenta a um nível quase idêntico.

O que a senhora entende como bissexualidade?

Os que se relacionam com os dois sexos sempre foram acusados de indecisos, de estar em cima do muro, de não conseguir se definir. Os heterossexuais costumam ver a bissexualidade como um estágio, e muitos gays e lésbicas desprezam os bissexuais, acusando-os de insistir em manter os “privilégios heterossexuais” e de não ter coragem de se assumir. Não tenho dúvida de que existem pessoas que realmente desejem ambos os sexos. Alguns estudos encontraram evidências científicas.

Os rótulos, como heterossexuais, bi, homo, continuarão existindo no futuro ou o sexo será mais livre?

Sem dúvida, o sexo será cada vez mais livre. Principalmente, porque os modelos tradicionais de comportamento não dão mais respostas satisfatórias e, assim, abre-se um espaço para cada um escolher sua forma de viver.

A monogamia está com os dias contados?
A preocupação com a exclusividade sexual num namoro ou casamento é muito grande. O controle do outro e as cobranças são constantes e é natural sua aceitação. Ninguém deveria ficar preocupado se o parceiro transa ou não com outra pessoa. Homens e mulheres só deveriam se preocupar em responder a duas perguntas: Sinto-me amado(a)? Sinto-me desejado(a)? Se a resposta for sim para as duas, o que o outro faz quando não está comigo não me diz respeito. Não tenho dúvida de que as pessoas sofreriam menos e, por isso, viveriam bem mais satisfeitas. Num futuro próximo, menos pessoas vão desejar se fechar numa relação a dois e mais gente vai optar por relações múltiplas.

A senhora diz que a maioria dos casamentos não funciona bem. Por quê?

Uma relação estável pode ser ótima, mas isso só tem chance de acontecer, para a maioria, se forem reformuladas as expectativas a respeito da vida a dois, como: total respeito ao outro e ao seu jeito de ser, suas ideias e suas escolha; nenhuma possessividade ou manifestação de ciúme que possa limitar a vida do parceiro; poder ter amigos e programas em separado; nenhum controle da vida sexual do parceiro. Poucos concordam com essas ideias, na medida em que é comum alimentar a fantasia de que só controlando o outro há a garantia de não ser abandonado.

E o sexo no casamento?
A ausência de desejo é o maior problema vivido pelos casais. O tesão acaba por motivos bem conhecidos: excessiva familiaridade, excessiva intimidade... Mas o grande vilão é a exigência de exclusividade. Uma relação estável favorece muito a dependência emocional entre os envolvidos. Se você tem certeza de que o outro tem medo de te perder, e por isso não tem vida própria, jamais transaria com outra pessoa, você vai se desinteressando sexualmente. Não há sedução, não há conquista, não há o mínimo de insegurança necessária para que o tesão continue após anos de convivência. Os dois acabam se transformando em irmãos. Não acredite em quem diz que a solução é ser criativo. Isso não passa de um equívoco. É o desejo sexual intenso que leva à criatividade, e não o contrário.

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