Rede Nacional pela Humanização do Parto quer que mulheres participem de decisões sobre parto
Em entrevista, presidente da ReHuNa diz que pesquisas feitas sobre o tema são suficientes para que haja uma mudança de conduta no país que vive uma epidemia de cesarianas
Agência Brasil
Publicação:15/10/2014 10:26Atualização: 15/10/2014 10:38
Segundo a médica, esse tipo de parto não depende só do conhecimento científico. “Se dependesse só disso, faz tempo que nós ter íamos reduzido esse tipo de cirurgia, que continua aumentando de 1% a 2% ao ano, no Brasil”, disse. Por isso, reiterou que a informação fornecida por estudos e pesquisas é importante, mas sozinha, ela não gera uma mudança de atitude entre os profissionais e as mulheres.
Daphne Rattner participa no Rio de Janeiro de conferência internacional sobre o parto normal. Na avaliação da presidenta da ReHuNa, o grande problema da saúde no Brasil é a multicausalidade. “Existe a parte histórica, em que se pagava mais pelo parto cesáreo do que pelo parto normal”, citou, lembrando também que houve uma época em que era proibido fazer laqueadura e “o pessoal aproveitava e fazia [laqueadura] durante a cesárea”. Outra parte, que considerou não desprezível, é a comodidade dos profissionais. Destacou que é possível se agendar várias cesáreas em um dia, ao contrário do parto normal, que demora. “A gente não sabe a que hora vai começar o trabalho de parto”. E ele pode ocorrer em fins de semana, em feriados, no Natal, mencionou.
A cesariana envolve a questão da conveniência e do planejamento. “No parto normal, ele [bebê] chega de repente”. Disse que essa multicausalidade, que embute o processo histórico, mais a conveniência e o planejamento, leva muitas mulheres a quererem adotar o mesmo padrão de vida de personalidades famosas como a ex-jogadora de basquete Hortência, que agendou a cesárea dos filhos de acordo com o mapa astral, ou o cantor Caetano Veloso, que marcou a intervenção da então mulher Paula Lavigne, para que o nascimento do filho coincidisse com o do maestro e compositor Antonio Carlos Jobim, no dia 25 de janeiro. “Se eles podem, por que eu não posso? Pensam algumas mulheres. Eles são modelos de comportamento social, são formadores de opinião”, disse.
Segundo Daphne Rattner, vai ser preciso um esforço grande para levar o conhecimento científico às mulheres para que possam fazer escolhas bem formadas. Apesar de a informação ser importante, ressaltou que sem a tomada de consciência das mulheres e a oferta de partos humanizados que respeitem a fisiologia, em que a mulher possa participar das decisões, “vai ser muito difícil mudar”.
Um fato mais sério, apontou a presidenta da ReHuNa, é que nas faculdades de medicina, os estudantes não aprendem como funciona o parto normal. “Só intervenções. Eles se sentem inseguros de assistir a partos normais. Então, além das mulheres, nós temos que mudar radicalmente o jeito como a obstetrícia é ensinada nas faculdades de medicina e de enfermagem”. Nesse caso, ressaltou o papel que o Ministério da Educação tem que assumir e promover uma mudança nos currículos, de modo a ensinar o que é parto normal. Observou que o Ministério da Saúde vem fazendo um grande esforço com a Rede Cegonha, política pública que favorece o parto normal. Mas criticou o fato de, na saúde suplementar, a taxa de intervenções cesáreas beirar 85%, enquanto a Organização Mundial da Saúde recomenda 10% a 15% de cesarianas. “É um absurdo”.
Ela celebrou, porém, o fato de cada vez mais as mulheres estarem mais conscientes de que a cesárea tira delas uma experiência “única e gratificante”, que é o parto normal. Recordou que na semana passada, sete mulheres em Uberlândia, Minas Gerais, se mobilizaram e conseguiram obter do promotor público a garantia de terem um parto vaginal humanizado, em hospitais da cidade. Ela disse ainda, que as mulheres, para fugir de intervenções cesáreas, que podem pagar, estão buscando o parto domiciliar ou o Sistema Único de Saúde (SUS), “porque sabem que na rede privada, não vão conseguir [fazer o parto normal]”.
Saiba mais...
A presidente da Rede Nacional pela Humanização do Parto e Nascimento (ReHuNa), Daphne Rattner, defendeu maior participação da mulher nas decisões sobre parto no Brasil. Em entrevista, ela destacou que as pesquisas feitas sobre o tema são suficientes para que haja uma mudança de conduta no país, onde predominam atualmente as cesarianas. Dados do Ministério da Saúde indicam que, em 2010, 52% dos partos no país foram cesarianas. Na rede privada, o índice nacional de cesáreas chegou a 82%, e na rede pública, a 37%. Daphne, que também é diretora da International MotherBaby Childbirth Organization (Imbco),acrescentou que o percentual geral de cesarianas no Brasil subiu para 55,7%, em 2012.Segundo a médica, esse tipo de parto não depende só do conhecimento científico. “Se dependesse só disso, faz tempo que nós ter íamos reduzido esse tipo de cirurgia, que continua aumentando de 1% a 2% ao ano, no Brasil”, disse. Por isso, reiterou que a informação fornecida por estudos e pesquisas é importante, mas sozinha, ela não gera uma mudança de atitude entre os profissionais e as mulheres.
Daphne Rattner participa no Rio de Janeiro de conferência internacional sobre o parto normal. Na avaliação da presidenta da ReHuNa, o grande problema da saúde no Brasil é a multicausalidade. “Existe a parte histórica, em que se pagava mais pelo parto cesáreo do que pelo parto normal”, citou, lembrando também que houve uma época em que era proibido fazer laqueadura e “o pessoal aproveitava e fazia [laqueadura] durante a cesárea”. Outra parte, que considerou não desprezível, é a comodidade dos profissionais. Destacou que é possível se agendar várias cesáreas em um dia, ao contrário do parto normal, que demora. “A gente não sabe a que hora vai começar o trabalho de parto”. E ele pode ocorrer em fins de semana, em feriados, no Natal, mencionou.
A cesariana envolve a questão da conveniência e do planejamento. “No parto normal, ele [bebê] chega de repente”. Disse que essa multicausalidade, que embute o processo histórico, mais a conveniência e o planejamento, leva muitas mulheres a quererem adotar o mesmo padrão de vida de personalidades famosas como a ex-jogadora de basquete Hortência, que agendou a cesárea dos filhos de acordo com o mapa astral, ou o cantor Caetano Veloso, que marcou a intervenção da então mulher Paula Lavigne, para que o nascimento do filho coincidisse com o do maestro e compositor Antonio Carlos Jobim, no dia 25 de janeiro. “Se eles podem, por que eu não posso? Pensam algumas mulheres. Eles são modelos de comportamento social, são formadores de opinião”, disse.
Segundo Daphne Rattner, vai ser preciso um esforço grande para levar o conhecimento científico às mulheres para que possam fazer escolhas bem formadas. Apesar de a informação ser importante, ressaltou que sem a tomada de consciência das mulheres e a oferta de partos humanizados que respeitem a fisiologia, em que a mulher possa participar das decisões, “vai ser muito difícil mudar”.
Um fato mais sério, apontou a presidenta da ReHuNa, é que nas faculdades de medicina, os estudantes não aprendem como funciona o parto normal. “Só intervenções. Eles se sentem inseguros de assistir a partos normais. Então, além das mulheres, nós temos que mudar radicalmente o jeito como a obstetrícia é ensinada nas faculdades de medicina e de enfermagem”. Nesse caso, ressaltou o papel que o Ministério da Educação tem que assumir e promover uma mudança nos currículos, de modo a ensinar o que é parto normal. Observou que o Ministério da Saúde vem fazendo um grande esforço com a Rede Cegonha, política pública que favorece o parto normal. Mas criticou o fato de, na saúde suplementar, a taxa de intervenções cesáreas beirar 85%, enquanto a Organização Mundial da Saúde recomenda 10% a 15% de cesarianas. “É um absurdo”.
Ela celebrou, porém, o fato de cada vez mais as mulheres estarem mais conscientes de que a cesárea tira delas uma experiência “única e gratificante”, que é o parto normal. Recordou que na semana passada, sete mulheres em Uberlândia, Minas Gerais, se mobilizaram e conseguiram obter do promotor público a garantia de terem um parto vaginal humanizado, em hospitais da cidade. Ela disse ainda, que as mulheres, para fugir de intervenções cesáreas, que podem pagar, estão buscando o parto domiciliar ou o Sistema Único de Saúde (SUS), “porque sabem que na rede privada, não vão conseguir [fazer o parto normal]”.